21 de abril de 2015

Portugal esteve em Campinas

... e estará na Expovinis


Neste último 20 de abril, Portugal esteve presente em Campinas, trazido pela CAP - Confederação dos Agricultores de Portugal - e pela Essência do Vinho, em duas ações voltadas ao trade, para apresentação de novos produtos. Durante o dia, houve uma feira com degustação livre no Hotel Vitória, além de duas degustações comentadas pelo crítico de vinhos Rui Falcão, e à noite, um jantar harmonizado no restaurante Pobre Juan, com a presença dos produtores.

Os eventos contaram com 14 produtores, alguns já bem conhecidos, como a Gran Cruz (Porto Cruz), a Sogevinus (detentora das marcas de vinho do Porto Kopke, Burmester, Cálem e Barros), a Companhia das Quintas, e outros bem menos conhecidos, mas com produtos muito interessantes. Todos estarão na Expovinis, a partir de amanhã, e quem gosta de vinhos portugueses, recomendo fortemente uma visita ao stand da CAP, para conhecê-los.


Portos raros, muito raros

Na feira, foram apresentados fantásticos vinhos do Porto. A Gran Cruz, além da linha mais básica, apresentou verdadeiros néctares da linha Dalva, famosa pelos seus Portos brancos de longo envelhecimento. Havia o Dalva White Colheita 1963, que eu tive a oportunidade de apreciar no almoço da feira Essência do Vinho, há menos de dois meses (clique aqui para ler), como também o Colheita White 1971, outro ícone da casa.

Além deles, a empresa trouxe a linha de Portos brancos secos, com destaque para o Dalva 40 Years Old Dry White. Se Portos brancos com mais de 40 anos são pouco comuns, este se torna ainda mais especial, por se tratar de um Porto seco, o que é muito mais raro. Apenas os Portos brancos podem ser secos, mas mesmo assim, não tão secos: este possui 60g/L de açúcar (em comparação com outros Portos que possuem tipicamente por volta de 120g/L).


Quinta de Santa Júlia

A Quinta de Santa Júlia é uma das Quintas mais antigas do Douro. Localizada a 6Km de Peso da Régua, produz vinhos do Douro e do Porto, além de azeite de oliva, amêndoas, sobreiros, cerejas e ainda possui uma criação de ovelhas para produção do próprio queijo. Ela pertence ao Sr. Eduardo Francisco Bessa da Costa Seixas, que veio pessoalmente apresentar seus produtos no Brasil.

O Sr. Eduardo só libera os vinhos ao mercado quando considera que estão prontos. E isso significa longos estágios em garrafa. O Quinta de Santa Júlia Reserva 2003 foi engarrafado em 2005, mas só liberado com 10 anos (em 2013). A safra 2004 foi a última safra liberada, mas meio a contragosto do Sr. Eduardo. O 2003 está jovem, muito macio e elegante, de aroma frutado, com leve tostado, e notas balsâmicas. Foi o melhor tinto da feira, na minha opinião. Já o Quinta de Santa Júlia Grande Escolha 2005, feito apenas nos melhores anos, é um pouco mais encorpado, e muito mais complexo: começou com frutas vermelhas, flores e especiarias, e com o tempo foi evoluindo, apresentando mentol, depois o chocolate amargo, depois o tabaco. Seus vinhos não são filtrados, portanto podem apresentar borras, e por isso é ideal que sejam decantados antes de servir.

Como já disse, a Quinta também produz vinhos do Porto, e assim como nos vinhos tintos, só são liberados ao mercado após longa guarda nas caves da propriedade. O mais novo é o Vintage 2003, um Porto Vintage muito equilibrado, apresentando um pouco de borras, taninos macios, boa acidez e muita persistência aromática, com notas licorosas intensas: licor de ameixa, de cassis, de jabuticaba, além de chocolate amargo e bálsamo. E os Vintages de 2007 e 2011, já estão engarrafados, mas quando serão liberados no mercado? Quando estiverem prontos.


Vinhos Verdes

O público presente mostrou muito entusiasmo com a boa oferta de vinhos brancos presentes na feira. Haviam vinhos brancos do Douro, Dão, Alentejo, Trás-os-Montes, e como não poderia deixar de ser, Vinhos Verdes.

A Adega Cooperativa Quintas de Melgaço, como o nome indica, se localiza na sub-região de Monção e Melgaço, e isso significa Vinho Verde Alvarinho. Eles produzem o Torre de Menagem, um dos Vinhos Verdes que estiveram nos supermercados Pão de Açúcar no ano passado (e que apreciei à beira da piscina). Na feira, a cooperativa esteve representada pelo presidente Pedro Soares, que além do Torre de Menagem, apresentou o QM Alvarinho 2014, um Alvarinho de bom corpo, sem agulha, e o ótimo frescor dos Vinhos Verdes.

E para completar, Pedro apresentou um vinho que não estava listado no catálogo da feira, o topo de gama da empresa, o QM Vinhas Velhas Alvarinho 2012. Esta foi a primeira safra lançada deste produto, feito de vinhas com aproximadamente 30 anos, e com estágio de um ano sobre borras, em tanques de inox. Lembra notas de mel, e muito pêssego, com muita untuosidade e corpo. Não é um branco para se tomar gelado à beira da piscina: precisa de uma temperatura um pouco mais alta (por volta dos 14ºC) para não ficar amargo e também para exibir seu potencial aromático.


Mais Vinho Verde

Outro produtor de Vinhos Verdes foi a Casa do Valle, propriedade familiar localizada na sub-região do Basto. Veio representar a empresa Luís Botelho Cameira. O Casa do Valle Grande Escolha 2013 é feito com Alvarinho (mas não pode estampar o nome da variedade pelas regras da região), e ao estilo dos de Monção e Melgaço, sem agulha, e feito para guarda. Luís me disse que recentemente abriu garrafas de 2008 e 2009, e estão excelentes. Quem sabe na minha próxima visita a Portugal eu tenha a oportunidade de provar estas safras?

Além dos brancos, a empresa apresentou também o Casa do Valle Rosé 2014. Vinho Verde rosé é muito pouco comum, e normalmente, é adamado. Mas não é o caso deste, que é bem seco - com apenas 4g/L de açúcar - e por isso me agradou muito. Este da safra 2014 é feito com 100% da casta Vinhão, e de acordo com Luís, feito sem maceração, pois a Vinhão é uma variedade com muita cor, e apenas a leve prensagem já resulta em um vinho rosé de cor intensa. Tem aroma frutado (framboesa), corpo médio, boa acidez, e sensação seca. Bem fresco, à beira da piscina, ou acompanhando um frango ou lombo assado, será um sucesso.


Jantar harmonizado

Na mesma noite, tivemos o jantar harmonizado com os vinhos portugueses da feira, no restaurante Pobre Juan. Tive a honra jantar em companhia dos produtores do melhor tinto e do melhor branco da feira: o Sr. Eduardo, da Quinta de Santa Júlia, e do Sr. Pedro Soares, das Quintas de Melgaço.

O Sr. Eduardo, um senhor de 70 anos de idade, franco, com muita disposição, e excelente memória, nos brindou com muitas anedotas da História do Brasil e da sua família (que por vezes se entrelaçam). Foi um jantar extremamente agradável, com excelentes vinhos, e excelente companhia, numa atmosfera muito descontraída, e algumas pequenas falhas do serviço do restaurante, que encaramos com bom humor. Em uma delas, alguns de nós ainda possuíamos um pouco do Alvarinho Vinhas Velhas na taça (os últimos mL do vinho, que já havia acabado), e o garçom completou nossas taças com outro vinho... é rir para não chorar! Mas claro, isso não tira o brilho da noite, mais um evento de muito sucesso de Portugal no Brasil.


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