30 de novembro de 2018

Gheller Tannat 2010

Faz uns dois meses, um amigo da confraria fez propaganda a respeito de um vinho brasileiro que tinha conhecido em sua última viagem para o sul, e iria fazer uma encomenda direto com o produtor. Ele iria encomendar algumas caixas do Gheller Tannat 2010, por R$50 a garrafa, e perguntou se queríamos entrar no pacote. Mesmo sem conhecer a vinícola, e sem ser assim um grande entusiasta da Tannat, eu topei comprar duas garrafas pra conhecer, já que era indicado por alguém que conhece de vinho, e está barato para um vinho de 2010.


A vinícola Gheller iniciou suas atividades em 2004, na Serra Gaúcha. Ou seja, é ainda bem nova, tem produção relativamente pequena, mas já começa a acumular boas avaliações na rede. Alguns vinhos nacionais, depois de receberem boas avaliações, têm seus preços inflacionados (às vezes mais de 100% de reajuste). Não é o caso dos vinhos da Gheller, que continuam acessíveis. Este, no site da vinícola, está por R$60 (o preço que pagamos foi uma negociação especial, que esse confrade teve direto com o produtor).

O vinho tinha cor rubi intensa; de cara, exuberante e complexo no aroma (frutas negras, tostado, baú, couro, bálsamo), de corpo médio para leve e uma deliciosa acidez, taninos presentes e macios, sabor intenso correspondendo o nariz, e média persistência aromática. Eu o abri para acompanhar um hambúrguer, em casa. Considerando taninos, acidez e pouco corpo, creio que foi o acompanhamento ideal para um bom hambúrguer. Com o tempo mostrou notas de fruta seca e mentol, mas não deu muito tempo pra evoluir, pois logo a garrafa acabou. E vale ressaltar que não é comum matarmos uma garrafa a dois, de uma tacada só, principalmente tinto.

25 de novembro de 2018

Zind: um fora-da-lei aos 12 anos

Quando um colega postou no grupo de Whatsapp a oferta do Zind 2006, no site da Sonoma, fiquei tentado. Adoro vinhos evoluídos, e um bom branco de 12 anos - a preço acessível - é bem raro de encontrar. Mas antes de fechar a compra de uma caixa, eu resolvi pesquisar.

O produtor, Domaine Zind-Humbrecht possui grande reputação na Alsácia. A vinícola foi formada a partir da união das famílias Zind e Humbrecht, em 1959, mas ambas possuiam séculos de tradição, produzindo vinhos na Alsácia. Desde 1989, a condução dos negócios está nas mãos de Olivier Humbrecht.

M. Humbrecht adota a filosofia biodinâmica, e desde 1998 eles possuem certificação. Isso implica muito mais trabalho no vinhedo - nada de agrotóxicos, em caso de risco de praga ou fungos, é preciso sanitizar o vinhedo com podas. Na adega, por sua vez, a fermentação ocorre naturalmente, com leveduras indígenas; e isso significa que frequentemente seus vinhos possuem um teor mais alto de açúcar residual. Independente disso, são quase sempre vinhos com longa capacidade de guarda.

18 de novembro de 2018

Ca'Di Rajo Raboso del Piave Riserva 2009

Uma região de clima fresco e úmido, e uma variedade de ciclo longo, e intensa adstringência. Parecem incompatíveis entre si, mas nenhum vinho é mais tradicional da zona de Piave do que os tintos feitos de Raboso.

Piave é uma DOC localizada no leste do Vêneto, Itália, ocupando uma extensa planície cortada pelo rio de mesmo nome. Tal como o restante do Vêneto, está 'espremida' entre os Alpes, ao norte, e o Mar Adriático, ao sul. Especificamente em Piave, o clima é influenciado principalmente pelo Adriático, que traz um importante volume de chuvas; mas não deixa de ser uma zona de clima fresco, como o restante do Vêneto. A DOC Piave é muito extensa, e permite vinhos brancos, tintos e doces. Atualmente, a maior parte dos vinhedos é plantada com variedades internacionais, como Merlot, Cabernets, Chardonnay, e até Carmenère. Mesmo assim, seu vinho mais icônico é o Raboso del Piave.

11 de novembro de 2018

Cointreau e as origens do triple-sec

Durante a Idade Média, os monges europeus costumavam criar remédios e fortificantes a base de vinho, temperados com ervas, frutas, raízes, etc. Com a popularização da destilação na Europa, o álcool passou a substituir o vinho. Além das propriedades medicinais próprias do álcool, os monges também perceberam que ele era mais eficiente para extrair as propriedades essenciais das plantas e raízes que utilizavam. Esses elixires foram precursores dos licores. Considerados fortificantes e profiláticos, passaram a ser muito requisitados nas cortes.

Com o tempo, o interesse por propriedades medicinais foi se esvaindo, e os licores ganharam o status de uma bebida alcoólica requintada. O Século XIX é repleto de histórias de empreendedores que inventaram algum licor e se tornaram milionários, adoçando os paladares cosmopolitas da Belle Epoque. A maioria dos licores mais tradicionais dos dias de hoje surgiram nessa época. É o caso do Cointreau.

Rótulo antigo de Cointreau (fonte: Pinterest)