23 de novembro de 2016

Est! Est!! Est!!! di Montefiascone

Há alguns meses, eu havia ganhado um cupom de desconto de 20% na Evino. Vasculhando o catálogo para aproveitar a oportunidade, me chamou a atenção um vinho que tinha uma denominação de origem com o curioso nome de Est! Est!! Est!!! di Montefiascone - com exclamação e tudo. Uma rápida pesquisa a respeito, descobri que por trás do nome há uma estória igualmente interessante. Sendo assim, inclui duas garrafas na minha compra, que saíram por R$78,32, cada.

Cidade de Montefiascone, no Lazio (Commons Wikimedia)

A lenda

O nome evoca uma anedota do ano de 1111. Naquele ano, um bispo alemão, de nome Johannes Defuk, teria viajado a Roma, para acompanhar a coroação de Henrique V como imperador do Sacro Império Romano. Grande apreciador de vinhos, ele teria mandado seu serviçal de confiança viajando um dia à frente, para identificar as hospedagens que ofereciam bom vinho (em bom latim, Vinum est bonum). Para identificar os lugares, o serviçal escrevia com giz a palavra est, à porta dos estabelecimentos. Chegando à cidade Montefiascone, teria ficado tão maravilhado com a qualidade do vinho, que teria escrito à porta 'Est! Est!! Est!!!'.

E a estória não acaba aí. O próprio bispo teria se encantado com o vinho, e após a coroação, teria parado novamente na cidade, onde viveu o resto de seus dias (Há uma versão de que ele teria mesmo interrompido a viagem, e permanecido em Montefiascone indefinidamente). Ele teria morrido em 1113, mas antes, teria deixado instruções de que a cada ano, no aniversário de sua morte, fosse derramado um barril de vinho sobre sua tumba. Seu suposto túmulo está na Chiesa di San Flaviano, na cidade; onde está escrito 'Pelo excesso de EST, aqui jaz meu senhor, Jo. Defuk' [*].

Suposto túmulo do bispo Defuk (Commons Wikimedia)

O vinho

... que comprei se chama Poggio dei Gelsi Est! Est!! Est!!! di Montefiascone 2014, e é produzido pela Cantina Falesco. A vinícola foi fundada em 1979 pelos irmãos Renzo e Riccardo Cotarella, e é responsável pelo renascimento do vinho de Montefiascone, que havia caído no ostracismo. Eles também foram responsáveis pela recuperação da Rosceto, uma das variedades utilizadas no vinho, e que estava próxima à extinção até a década de 1980. As outras duas variedades que compõem o vinho são a Trebbiano Toscano - variedade bem comum na Itália central - e a internacionalmente conhecida Malvasia.

Eu havia aberto a primeira garrafa há uns dois meses, em um restaurante com amigos, mas o vinho não impressionou. A segunda, abri essa semana, em casa. O vinho tinha cor amarelo-palha de média intensidade, e aroma de frutas de caroço, como nectarina e ameixa. Tinha corpo médio, acidez de média para baixa intensidade, e aroma de boca corresponde ao nariz. Acompanhou satisfatoriamente uma massa, um penne com lingüiça toscana, tomates cereja e sálvia; porém, mais uma vez achei que a lenda e o nome são mais interessantes que o vinho em si.

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