7 de novembro de 2015

Trufas e Orvieto: os tesouros da Umbria

É incrível como um vidrinho de trufas pode elevar a categoria de um almoço. Tudo bem, está longe de ser um item comum à nossa mesa, mas basta um vidrinho com duas trufinhas, um bocado de spaghetti, uma manteiguinha, umas folhas de sálvia, um vinhozinho e um queijo Pecorino Romano em lascas por cima, e temos um divino spaghetti al tartufo. Simples e fantástico.


E nada como um vinho proveniente da mesma região para uma harmonização perfeita. Então, para prestar homenagem à Umbria, essa região na 'meiúca' da Itália, uma das principais regiões produtoras de trufas do país, nada como um vinho da mesma proveniência para acompanhar nosso spaghetti al tartufo: Sergio Mottura Orvieto D.O.C. 2012.


Os vinhos de Orvieto, e o produtor

Confirmando a tradição de vinhos brancos da Umbria, Orvieto é a Denominação de Origem com maior produção e maior reconhecimento. São exclusivamente vinhos brancos feitos principalmente de Trebbiano (que eles costumam chamar de Procanico) e Grechetto, mas podendo conter ainda pequenas porções de outras variedades. Se a Trebbiano é razoavelmente difundida por várias regiões da Itália e da França (onde é conhecida como Ugni Blanc), a Grechetto tem seu cultivo praticamente restrito à Umbria.

Sergio Mottura, o produtor deste vinho, tem especial apreço por ela, cujo nome deriva da crença de que tenha origem grega. É uma variedade que amadurece cedo, antes de todas as outras brancas da região. Sergio Mottura acredita que ela é a variedade com mais personalidade, e mais potencial para envelhecimento.

Desde que assumiu a gerência da propriedade familiar nos anos 1960, o Sr. Mottura converteu todo o cultivo para práticas orgânicas. Como resultado, sua propriedade passou a ser freqüentemente visitada por porcos-espinhos, que segundo ele se afastam de terras poluídas. Para expressar o orgulho de receber esses visitantes ilustres, o porco-espinho é símbolo da marca, e está estampado em todos os rótulos. Além do porco-espinho, a propriedade também conta com a visita de diversos insetos benéficos, que só são vistos em propriedades livres de pesticidas, como a joaninha.


Floral e cítrico, e ganha com aeração

Assim que o servi, eu fiquei receoso, pois percebi uma cor curiosa, dourada de baixa intensidade, mas levemente acobreada e fosca. Não correspondia à descrição do vinho, e poderia significar que já tivesse passado do ponto. O aroma inicialmente também não estava intenso, mas era agradável, predominantemente floral e cítrico. Ponto positivo. Na boca, parecia meio alcoólico a princípio, mas tinha bom volume, acidez e um toque mineral (sensação salgadinha).

Uma passada no aerador ajudou muito, ressaltando os aromas, que passaram a mostrar mais nitidamente flores de amêndoa, de laranjeira, além de outras flores, e casca de limão. Além disso, o álcool parou de se sobressair, permitindo sobressaírem frescor, mineralidade, e sabor intenso, com frutas exóticas e cítricas.

Enfim, talvez o vinho até esteja já apresentando alguma evolução, mas está em perfeito estado, muito interessante, e superou minhas expectativas. Casou perfeitamente com a massa, com o sabor das trufas, sálvia, queijo e manteiga.


Ele é importado pela Vínica, uma pequena importadora com portfólio reduzido, mas sempre de vinhos de ótima relação preço-qualidade. Já comentei sobre alguns deles: Rosé de Provence La Matelote, Prosecco Superiore Cecilia Beretta, Surani Primitivo di Manduria, Encosta do Xisto Vinho Verde e Botromagno Nero di Troia. Em Campinas, eles podem ser encontrados na Excelência Vinhos.

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