21 de novembro de 2015

O "não-Cava"

Cava é o espumante da Espanha (se você acompanha o blog, já deve saber disso), mas a recíproca nem sempre é verdadeira. Isto é, nem todo espumante da Espanha é Cava. Sabe por quê?

Cava é uma Denominação de Origem 'especial' da Espanha. Como Denominação de Origem, ela possui regras que precisam ser seguidas, e uma região demarcada. Quer dizer, no caso de Cava, ela não tem apenas uma, mas diversas regiões demarcadas pelo país, da Catalunha no nordeste, à Ribera del Guadiana, no leste. E por isso, ela é uma Denominação especial. Mesmo assim, estas 'regiões demarcadas do Cava' não cobrem todo o país. Em La Mancha, por exemplo, os produtores podem até produzir espumantes, mas não poderão usar o nome Cava. Serão simplesmente, espumantes, ou em espanhol, espumosos.

Poder estampar a palavra 'Cava' no rótulo traz o benefício do marketing, já que é um termo conhecido, de boa reputação, que se associa a espumantes de qualidade. Por outro lado, não pertencer à Denominação tem seu lado positivo, pois Cava tem suas regras, que todos os produtores devem seguir, e portanto produzir um "não-Cava" dá ao produtor mais liberdade.

Um exemplo de "não-Cava" é o Palácios Reales Brut, produzido pelas Bodegas Verdúguez. Os vinhedos desse produtor se localizam exatamente em La Mancha, nas proximidades de Toledo, e portanto, está fora das áreas de Cava. E assim sendo, eles tiveram a liberdade de utilizar um corte diferente em seu espumante: Macabeo e Airén. A primeira, também conhecida pela alcunha de Viura, é provavelmente a variedade branca mais conhecida da Espanha, plantada em quase todos os cantos do país, e é uma das principais uvas utilizadas na produção de Cava.

Já a Airén é uma ilustre desconhecida, mas é uma variedade muito importante para a região. Sua extensão de plantio vem caindo, devido à falta de popularidade, mas ela ainda é disparadamente a uva mais plantada em La Mancha. Se tiver curiosidade, descubra um pouco mais sobre a Airén, sua relação com La Mancha, e a razão da sua queda de popularidade: Airén, ilustre desconhecida.

Mas enfim, o que a Airén aporta para o espumante? Além de uma identidade regional, já que ela é intrínseca da região, a Airén traz frescor e leveza. Ela tem a capacidade de gerar vinhos leves e frutados, sem grande exuberância. Seu perfil equilibra com a estrutura da Macabeo, e na média, resulta num espumante mais fresco e descompromissado do que os Cavas. Cor amarelo-palha claro, com perlage fina e aromas discretos, com predomínio de frutas brancas e um toque vegetal. Ademais, tem corpo médio, e boa acidez. Assim é o Palácios Reales Brut.

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