28 de novembro de 2015

Merlot Sakar 1991 & 1992

Há dois anos, escrevi a respeito do Merlot Stambolovo 1991, da Bulgária. Um vinho de 22 anos (à época), produzido quando o país ainda enfrentava a transição entre o comunismo e o capitalismo. Nada de maquinário, todo o tratamento da vinha, até a colheita, era manual, pois o trabalho braçal na época era muito mais barato que máquinas. Ainda assim, era um vinhaço, para quem sabe apreciar a complexidade de um vinho evoluído. Eu adoro, e as oportunidades não são muitas, principalmente dentro de um limite financeiro que o meu orçamento suporta; por isso, aproveito quando encontro uma oportunidade dessas.


Pois este ano, a Winelands trouxe mais dois vinhaços da coleção Oenotheque: Merlot Sakar 1991 e Merlot Sakar 1992, também produzidos pela mesma vinícola Stambolovo. Ela tem seu nome devido à pequena cidade de Stambolovo, na Bulgária; mas possui vinhedos nas regiões de Stambolovo, Sakar e Haskovo, todas no vale da Trácia. A Trácia, por sua vez, tem clima continental temperado, com pequena influência mediterrânea, que vem do sul. São verões quentes e com bastante sol, e com chuva limitada ao inverno. O monte Sakar corresponde ao limite oriental da Trácia, abrigando-a da influência do Mar Negro. E sob os pés desta montanha, do lado exposto ao continente, se localiza a área demarcada (Controliran) de Sakar (não sabe o que é Controliran? Então conheça mais sobre os vinhos da Bulgária, clicando aqui).


Um vinho com quase um quarto de século está em outra categoria, é muito diferente daquele que estamos acostumados beber. Ele exibe com veemência o efeito do tempo, apresentando características ímpares. Coloração granada atijolada com halo aquoso bem nítido e sem depósitos. No início, apresenta aromas de terra molhada, cogumelos e folhas secas, mas depois de alguns minutos aparecem notas de cerejas, licor de cassis, mirtilos, ameixas pretas e nota balsâmica bem nítida. Em boca, mostra que está super vivo, a acidez está em plena forma, taninos bem presentes, mesmo que finíssimos. Possui muita persistência aromática, com um longo retrogosto exibindo as ameixas pretas e o bálsamo. É definitivamente um vinho de meditação para se servir e ficar com a taça ali apreciando-o vagarosamente e sentindo as nuances que mudam do início ao fim da garrafa.


Depois de provar um destes exemplares você irá entender a razão de se guardar vinhos por longo tempo.

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