17 de janeiro de 2014

Terroirs Originels: um por todos

Do sul da Borgonha vem este exemplo de união de esforços de pequenos produtores para, juntos, ganharem competitividade no acirrado mercado globalizado. Ele se chama Terroirs Originels, e é formado por 22 propriedades - com média de 12ha - nas sub-regiões de Beaujolais e de Mâconnais.
A sociedade fica a cargo dos trabalhos de comercialização, contabilidade e marketing, dividindo os custos nessas áreas, que seriam impeditivos a cada produtor independentemente. Com isso, os proprietários podem se dedicar exclusivamente à produção do vinho.
Cada um dos Domaines tem produção independente, exclusivamente a partir das próprias uvas (100% récoltants, como se diz em francês), buscando diversidade, de forma que cada um possa buscar a expressão de seu próprio terroir.
A empresa possui representantes de todas as denominações de origem de Beaujolais, principalmente os 10 crus, quase que na totalidade tintos (e da uva Gamay), e 7 denominações da vizinha Mâconnais, apresentando brancos da uva Chardonnay.
E por que estou falando dessa empresa? Porque tive a oportunidade de comprovar a qualidade de 4 dos seus vinhos. Um espumante rosé fantástico, dois crus de Beaujolais de impressionante estrutura, e um branco de Mâconnais.

Rose Granit Brut 2010, por Franck Besson

Espumante rosé feito pelo método tradicional, com Gamay de vinhas com média de 60 anos plantadas sobre granito rosa, a uma densidade de 10 mil pés por hectare, com uvas colhidas à mão. Linda cor na taça, deliciosa mineralidade que divide espaço com o frescor de morangos e uma equilibrada doçura.
Eu já havia exaltado as qualidades deste espumante, antes. Veja: Rose Granit Brut 2010.


Brouilly Pollen 2009, de Robert Perroud

O vinho foi produzido a partir de uvas de uma parcela de 0,8ha, com idade média de 70 anos, também em solo de granito rosa (solo predominante na região de Brouilly). A colheita e triagem são 100% manuais, e a maturação é feita sobre borras em barris de carvalho. A ficha do produtor não explicita quanto tempo, nem se são predominantemente usados ou novos, mas é possível perceber que o seu uso foi singelo, absolutamente adequado, de forma que a madeira não se sobrepôs à fruta. Com 4 anos, ainda está jovem, com reflexos violáceos na cor, e muita estrutura. Remete a frutas negras, folhas secas, e um leve toque de café.


Juliénas Les Crots 2009, de Pascal Aufranc

Produzido a partir do vinhedo de nome Les Crots, com 0,7ha e vinhas de 65 anos plantadas à máxima densidade (10 mil pés por hectare), de solo argiloso e de sedimentos. Fez estágio de 10 meses em barrica, e assim como o Brouilly, o objetivo foi de amadurecer e dar estrutura, sem sobrecarregar o vinho com gosto de madeira.
O vinho corroborou aquilo que aprendi no curso de vinhos do Beaujolais: Juliénas é a denominação que apresenta os vinhos mais encorpados, mais tânicos. E é isso mesmo o que se pode perceber neste vinho. Tem muita estrutura, enche a boca. Os aromas predominantes foram de frutas vermelhas, especiarias e um herbáceo que misturava folhas secas e azeitonas.
Eu acho até que o abri antes do tempo. Se tem um vinho de Beaujolais que poderia durar 15 anos, é este vinho. Mas está gostoso como está, e acompanhou muito bem costeletas de cordeiro. (12,5% de álcool)


LG Viré-Clessé 2011, do Domaine Laurent Gondard

Diferente dos três acima, este produtor é um dos representantes da região de Macônnais, na Borgonha. Tem vinhedos cultivados sem herbicidas, de vinhas velhas (50 anos, em média) de Chardonnay em policultura - entremeados de produção de grãos, e com criação de gado - valorizando a biodiversidade na propriedade. O vinho envelhece em barrica (apenas 10% novas).
Na taça, apresenta uma cor amarelo-palha muito clara, notas florais e de abacaxi maduro, com pitadas de mel e avelãs indicando a influência da barrica. No palato, tem uma acidez agradável, que equilibra a sensação de doçura trazida pelos aromas. Os aromas podem enganar um pouco, mas é um vinho seco, com menos de 3g/L de açúcar residual, algo que é imposto pela apelação Viré-Clessé. Tem ainda boa persistência aromática, uma certa salinidade, corpo médio, e o álcool (13%) não se sobressai.


Exemplo a ser seguido

Esta união entre pequenos produtores, que se conhecem e confiam na qualidade uns dos outros, tem lhes permitido vencer preconceitos, conquistar mercados, possibilitando-lhes vender seus produtos em diversos países do mundo. Isso tudo, sem que tenham que perder o foco naquilo que sabem fazer: vinho.


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