Dos vinhos de Portugal

Por quê vinhos portugueses?


Diversidade, autenticidade, tradição, e aptidão gastronômica

De acordo com Rui Falcão - autor da principal publicação de vinhos portugueses - os vinhos de seu país têm uma coisa de diferente do restante do mundo: tudo.

A começar pela herança genética: Portugal tem mais de 250 variedades de uva (castas), e utiliza todas as variedades na produção de vinho. Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz, Arinto, Alvarinho, Fernão Pires, Baga, Sercial, Encruzado, Jaen, Verdelho, Gouveio, só para citar alguns exemplos.

Em segundo lugar, a maior parte dessas uvas só aparece em corte, isto é, eles se especializaram na técnica de mesclar castas diferentes para produzir um vinho, aproveitando o melhor de cada uma, de forma que o vinho resultante seja melhor do que se fossem vinhos monovarietais (entenda como isso funciona, leia Dos varietais e cortes).

Em terceiro, a tradição enraizada mantém no país algumas práticas já extintas em outros, como o plantio de vinhas misturadas, e a pisa a pé das uvas. Não são raras em Portugal as vinhas velhas e misturadas, em que diversas castas são plantadas juntas. Esta forma de cultivo, que praticamente desapareceu no restante da Europa, que historicamente era uma forma de se minimizar perdas por pragas ou intempéries climáticas, resultou nessa riqueza genética, e se mostra capaz de produzir vinhos mais complexos e interessantes.

A pisa a pé ainda é uma realidade de muitos vinhos, principalmente de produção em pequena escala. Este processo de prensa é reconhecido em todo o mundo como o mais eficiente para se extrair o máximo de taninos e pigmentação em vinhos tintos, sem quebrar sementes - o que extrairia taninos verdes indesejáveis. Mas como é uma atividade muito custosa, o país desenvolveu a pisa robotizada, que tem a mesma eficiência da pisa a pé, sem o custo do trabalho humano.

Além disso, com uma produção tradicionalmente voltada para o consumo durante as refeições, o vinho português normalmente é muito gastronômico, com acidez refrescante, e sem excesso de madeira.

E para completar, a pequena faixa de terra em que se localiza o país possui uma geografia muito diversificada. O país tem o Oceano Atlântico de um lado, trazendo chuva e clima mais ameno, e a influência continental do outro, trazendo basicamente o oposto. No meio, um relevo composto de diversas serras e montanhas dividem o país em pequenas porções com características climáticas distintas, algumas tendendo mais para um lado, outras, para o outro.

Somando toda essa diversidade de uvas, climas, solos e técnicas, seguramente Portugal é o país com a maior diversidade de vinhos por metro quadrado, no mundo. Portanto, se você gosta de provar sabores diferentes, precisa conhecer os vinhos portugueses.

Os tipos de vinho

Alguns 'estilos' de vinhos portugueses são tão clássicos, que todos conhecem pelo menos de nome. Por exemplo, Vinho Verde, Vinho do Porto, Vinho Madeira. Cada um desses estilos corresponde a uma região (sim, Vinho Verde também é 'região', como veremos), pois em Portugal, assim como na Europa em geral, a região costuma dizer mais sobre o vinho do que a variedade de uva.

Portugal produz excelentes exemplares em diversos estilos diferentes. Os destaques do país:
  • Os clássicos fortificados: Porto, Madeira, Moscatel de Setúbal.
  • Tintos, elegantes ou potentes, jovens ou longevos, normalmente muito gastronômicos. As regiões mais famosas são Douro, Dão e Alentejo, mas não podemos nos esquecer da Península de Setúbal, origem do famoso Periquita. Há ainda os vinhos cheios de personalidade da Bairrada, e a preciosidade de Colares.
  • Brancos: o país também é terra de brancos, desde deliciosamente frescos - como os Vinhos Verdes, a grandes brancos de guarda. Há fantásticos e autênticos vinhos por todo o país, mas para ficar em alguns que merecem destaque: os Vinhos Verdes Alvarinho, os Encruzados do Dão, a minúscula região de Bucelas, e a pouco conhecida Beira interior.
  • Espumantes: Távora-Varosa foi a primeira região reconhecida com uma DOC para seus espumantes. Mas a Bairrada também possui tradição e renome nesta vertente. E recentemente, a região dos Vinhos Verdes também vem mostrando bons resultados.
Portugal não é forte em vinhos rosés, mas produz o Mateus Rosé, que já foi o vinho mais exportado do país, e ainda hoje é um dos vinhos de maior exportação. Mesmo não tendo nenhuma região especializada em rosés, produz-se deles um pouco por todo lado.

Classificação

Como já mencionei, para definir um vinho português, a região costuma ser mais importante que a casta. Portugal possui um sistema de Denominações de Origem, muito similar ao francês, que classifica os vinhos em três categorias:
  • Denominação de Origem Controlada: um vinho proveniente de uma região demarcada, e que segue todas as regras da região, quanto a cultivo, técnicas e castas permitidas, pode ganhar o status DOC e exibir o nome da região no rótulo.
  • Indicação Geográfica Protegida (ou Vinho Regional): uma IGP corresponde a uma região geográfica mais ampla e com regras menos estritas. Em geral, apenas exige que as uvas sejam procedentes de região demarcada, para que possam estampar no rótulo o status Vinho Regional.
  • vinho de mesa: um vinho que não se classifica em nenhuma das categorias superiores é classificado como um vinho de mesa.
Em teoria, estas categorias sugerem uma escala de qualidade, mas isso não deve ser considerado à risca. Um produtor pode fazer um excelente vinho, mesmo que não siga as regras de nenhuma das regiões definidas. Um exemplo clássico em Portugal são os famosos vinhos do Buçaco. São espetaculares, e no entanto, são classificados como vinhos de mesa.

Os vinhos portugueses podem ter outras menções tradicionais, que indicam, em teoria, qualidade superior. Esses termos são atribuídos a "características organolépticas destacadas", julgadas às cegas pelo comitê de cada região. Esses termos se aplicam a vinhos DOC ou IG, e dependendo da legislação da região, podem ter outras exigências, além das descritas a seguir:
  • Escolha: características organolépticas destacadas;
  • Grande Escolha: características organolépticas destacadas e ano da colheita;
  • Superior: características organolépticas destacadas, e deve superar em ao menos 1% o teor alcoólico mínimo de sua região;
  • Colheita selecionada: características organolépticas destacadas, ano da colheita, e deve superar em ao menos 1% o teor alcoólico mínimo de sua região;
  • Reserva: características organolépticas destacadas, ano da colheita, e deve superar em ao menos 0,5% o teor alcoólico mínimo de sua região. No caso de espumantes, entre 12 e 24 meses com as borras;
  • Reserva Especial: mesmas exigências do Reserva, porém com características organolépticas muito destacadas;
  • Super Reserva: exclusivo para espumantes com 24 a 36 meses com as borras;
  • Grande Reserva: características organolépticas muito destacadas, ano da colheita, e deve superar em ao menos 1% o teor alcoólico mínimo de sua região. No caso de espumantes, mais de 36 meses com as borras;
  • Garrafeira: características organolépticas destacadas, ano da colheita, e envelhecimento mínimo - 30 meses, com ao menos 12 em garrafa para tintos; 12 meses, com ao menos 6 em garrafa, para brancos;
  • Velho ou Velha Reserva: envelhecimento mínimo de 3 anos para tintos, ou 2 anos para brancos e rosados; e teor alcoólico de ao menos 11,5%;

Regiões


Todo o país está dividido em regiões vinícolas, em função de condições macro-climáticas e de relevo em comum. Cada região engloba uma Indicação Geográfica Protegida. Além da IGP, cada região pode conter uma ou mais Denominações de Origem Controlada. Em seguida, temos a lista de regiões. Clique no nome para ser redirecionado diretamente a uma delas:


Regiões - Norte


O norte do país possui grandes cadeias montanhosas que delimitam as regiões vinícolas, e são facilmente distinguíveis em um mapa de relevo. Essas montanhas definem a influência que os ventos atlânticos terão em cada região. Assim, no extremo norte, temos as serras de Gerez e de Marão, que dividem o Minho no litoral, e Trás-os-Montes na parte continental. A região do Douro, por sua vez, margeia o rio homônimo, porém engloba apenas a parte mais continental, longe da costa.


Minho e os Vinhos Verdes

    IGP: Vinho Regional do Minho. DOC: Vinho Verde
O Minho, no noroeste de Portugal, é a região mais verde do país, resultado da influência predominantemente atlântica, que resulta em verões e invernos mais amenos, e alta pluviosidade. É o clima ideal para vinhos frescos e de baixo teor alcoólico, como os Vinhos Verdes. Vinho Verde não é cor, é apenas a Denominação de Origem, e possui esse nome por razões históricas. E um vinho que não se classifica como Vinho Verde, pode ser chamado de Vinho Regional do Minho.

Os vinhos podem ser tintos, brancos, rosés ou espumantes, mas os brancos são os mais conhecidos. Normalmente são leves, com pouco álcool, grande acidez, leve gás (que chamam de agulha), podendo ser secos ou semi-secos (adamados), e feitos para serem bebidos enquanto jovens. Algumas poucas exceções são feitas para guarda. Neste caso, são encorpados, secos, e sem agulha. A maioria desses vinhos de guarda é feita da uva Alvarinho.

Os Vinhos Verdes tintos também são muito tradicionais na região, mas pouco populares fora do Minho. São exóticos, com taninos, agulha, acidez intensa, e geralmente causam estranheza à maioria das pessoas.

Para se aprofundar, leia: Dos Vinhos Verdes.

Douro e Porto

    IGP: Vinho Regional Duriense. DOCs: Douro, Porto
A região do Douro tem o clima predominantemente continental, de invernos e verões rigorosos, o que se intensifica quanto mais próxima à fronteira com a Espanha. A paisagem é dominada pelo Rio Douro, que corre entre encostas abruptas compostas de xisto, que vão de 150 metros a quase 600 metros de altitude. Nas áreas mais altas, o clima possui noites mais frescas no verão, necessário para o cultivo das castas brancas. Nesta região se sobrepõem as Denominações de Origem Douro e Porto (além do Vinho Regional Duriense).

Os Vinhos do Porto são fortificados e doces, com álcool entre 19% e 20%. Guardam este nome por razões históricas, pois o vinho era embarcado na cidade do Porto para seguir para a Inglaterra, mas as uvas sempre foram cultivadas no Alto Douro. Existem diversos estilos de vinho do Porto, divididos em 4 categorias: Rubys (engarrafados com curto estágio em madeira), Tawnys (castanhos, de envelhecimento oxidativo, em tonéis e barris), brancos (feitos de uvas brancas), e rosés (mais recomendados para coquetelaria).

Para se aprofundar:

Na mesma região do Douro, também se produzem vinhos não fortificados, tintos ou brancos. Para distinguir dos primeiros, eles são classificados como DOC Douro. Os tintos tendem a ser encorpados e com boa intensidade de taninos. Quanto aos brancos, há tanto exemplares frescos e cítricos, de preço acessível, quanto exemplares de guarda, mais complexos e normalmente mais caros. As variedades usadas são as mesmas do Porto, o que inclui uma larga lista, inclusive variedades não catalogadas, presentes em vinhas velhas. As mais comuns são Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinta Roriz, entre as tintas; e Códega, Gouveio, Viosinho e Rabigato, entre as brancas.

Trás-os-Montes

    IGP: Vinho Regional Transmontano. DOC: Trás-os-Montes
Como diz o nome, essa região fica 'atrás' das serras, que protegem a região da influência atlântica. De clima continental intenso, com verões muito quentes e invernos rigorosos, é mais conhecido pela produção de amêndoas e azeite de que de vinhos. Possui vinhos brancos e tintos, produzidos a partir das mesmas variedades dos brancos e tintos do Douro, porém mais simples.

As Beiras


Ao sul do rio Douro, se estendem as Beiras. É um nome genérico que abrange uma faixa de terra do litoral à fronteira com a Espanha. Assim como o norte, é particionada por diversas serras, que a dividem em 4 regiões de clima distinto: Beira Atlântico, Terras do Dão, Terras de Cister e Terras da Beira. As DOCs mais importantes são a Bairrada (Beira Atlântico) e o Dão, mas há outras duas menos conhecidas que merecem atenção: Távora-Varosa (nas Terras de Cister) e Beira Interior.


    IGP: Vinho Regional Beira Atlântico. DOC: Bairrada
A Beira Atlântico, como o nome sugere, é uma região de grande influência atlântica. Dentro dela se localiza a DOC Bairrada, conhecida principalmente pela Baga, uma casta tinta muito tânica, que costuma exigir muitos anos para amaciar. Freqüentemente, ela aparece em corte com a Touriga Nacional, ou mesmo a Merlot, para obter um vinho mais macio. Além disso, a Bairrada é hoje a região mais importante do país na produção de espumantes, que podem ser brancos, tintos ou rosados, feitos pelo método tradicional, e com variedades locais (Bical, Maria Gomes e/ou Baga). São tradicionalmente encorpados, um pouco mais austeros que os nossos, e buscando valorizar notas de panificação.

    IGP: Vinho Regional Terras do Dão. DOCs: Dão, Lafões
Um pouco mais a leste estão as Terras do Dão. Cercada de montanhas, a região está protegida da influência atlântica intensa, tendo um clima semi-continental, menos úmido que o litoral. Possui duas DOCs: Lafões e Dão. Lafões é uma região de transição entre Vinhos Verdes e Dão, possuindo pouca notoriedade. A região relevante é a do Dão, origem de vinhos tintos e brancos de grande elegância e longevidade. É considerada a terra de origem da Touriga Nacional, mas apresenta uma grande diversidade de variedades (dentre as quais, Alfrocheiro e Jaen), normalmente usadas em corte. Entre os brancos, a prata da casa é a Encruzado, que pode gerar vinhos frescos e minerais, mas também é apta ao envelhecimento. Desde 2013, a designação Dão Nobre pode ser aplicada a vinhos com qualidade destacada (por meio de prova do comitê da região, e teor alcoólico mais alto).

    IGP: Vinho Regional Terras de Cister. DOC: Távora-Varosa
Ao norte das Beiras, cercada de serras, espremida entre o Dão e o Douro, estão as Terras de Cister, e a DOC Távora-Varosa. Encravada em um vale com altitudes acima de 500 metros, foi a primeira região demarcada para produção de espumantes DOC em Portugal, em 1989. Mas também possui tintos e brancos interessantes, similares aos vinhos do Douro. Como é uma região muito pequena, de produção diminuta, não é fácil de encontrá-los, mas caso se depare com um vinho de lá, recomendo que prove: todos que eu tomei eram muito bons, e eram baratos.

    IGP: Vinho Regional Terras da Beira. DOC: Beira Interior
E por fim, na fronteira com a Espanha, se localizam as Terras da Beira, e a DOC Beira Interior. De clima extremamente continental, as vinhas estão sempre plantadas a altitudes acima dos 500m, o que garante frescor nas noites de verão, para uma maturação mais lenta, conservando a boa acidez. Seus tintos em geral têm estilo mais 'internacional', com bastante extração e madeira; mas eles têm uma jóia pouco explorada chamada Rufete, que pela elegância de seus vinhos, ganhou o apelido de Pinot Noir da Beira Interior. Outra casta que merece a atenção é a Fonte Cal, também exclusiva da região, com sabor exótico que lembra vinhos brancos com estágio em barrica.

Para se aprofundar: Vinho e sabores da Beira Interior: brancos e Um banquete na Quinta dos Termos.


Regiões centro e sul


Mais ao sul das Beiras, o relevo se torna mais baixo, e sua influência se torna menos visível. Neste caso, as regiões são definidas e caracterizadas pela costa litorânea e pelo rio Tejo. No litoral que se estende ao sul da Beira Atlântico até a capital do país, se localiza a região de Lisboa. Possui grande influência atlântica. Um pouco mais adentro, está a região do Tejo, em homenagem ao rio que a corta. Ao sul da cidade de Lisboa, está a Península de Setúbal, terra do Moscatel de Setúbal, e do vinho Periquita. Ocupando praticamente todo o restante, está o Alentejo, maior região vinícola de Portugal. E, para completar, no litoral sul, está a região litorânea do Algarve.

Alentejo

    IGP: Vinho Regional Alentejano DOC: Alentejo
O Alentejo, região que está além do (Rio) Tejo, ocupa quase um terço do território do país, com áreas litorâneas e continentais. Por isso, é uma região com uma produção heterogênea. A categoria IGP se aplica a toda a região, mas a DOC Alentejo só se aplica a algumas sub-regiões específicas, na parte mais continental. As principais variedades são Aragonez (Tinta Roriz), Alicante Bouschet, Alfrocheiro e Trincadeira, entre as tintas, e Antão Vaz, Arinto e Roupeiro, entre as brancas. Podem ser vinhos de mais ou menos corpo, mas em geral possuem características de clima quente, como alto teor alcoólico, e aroma frutado.

Além de uvas, há um outro produto relacionado ao vinho, com importante produção no Alentejo: a cortiça para fabricação de rolhas. Portugal é o maior produtor do mundo, e o Alentejo, o maior produtor de Portugal. Para conhecer mais sobre a produção de rolhas, leia A cortiça na vanguarda tecnológica.

Tejo

    IGP: Vinho Regional do Tejo DOC: Tejo
A região do Tejo, às margens do rio de mesmo nome, possui clima semi-continental, com invernos moderados e verões moderadamente quentes. Com relevo plano e solo fértil, tem condições para produção de alto rendimento, e colheita mecanizada. Com isso, ela é hoje a principal origem de vinhos de baixo custo em Portugal. Além disso, é a região com mais propagação das castas ditas internacionais (como Cabernet, Merlot, etc.) sendo, portanto a região mais provável para quem procura vinhos parecidos com chilenos ou argentinos.

Lisboa

    IGP: Vinho Regional de Lisboa DOCs: Bucelas, Colares, Carcavelos, e outras
A região de Lisboa engloba toda a faixa litoral, que vai desde a cidade de Lisboa, até as Beiras. Possui forte influência Atlântica (com o extremo em Colares). Além da classificação genérica Vinho Regional de Lisboa, possui 9 DOCs, pequenas e de produção diminuta, mas dentre as quais algumas merecem destaque: Bucelas, Colares e Carcavelos. São as três mais próximas de Lisboa, e por essa razão, foram as que mais sofreram com a pressão imobiliária da capital, e tiveram a área cultivada drasticamente reduzida. E cada uma delas é completamente diferente, produzindo estilos únicos.

Bucelas é região exclusiva de vinhos brancos, monovarietais da casta Arinto. Esta casta é plantada em todo o país, mas em Bucelas gera brancos distintos, longevos e complexos.

Carcavelos foi uma tradicional região de vinhos licorosos. Foi de grande prestígio até o final do século XIX, mas foi quase que completamente destruída pelo oídio e filoxera, abrindo espaço para a expansão imobiliária. Hoje, resta apenas um produtor: a Estação Agronómica de Oeiras, organismo estatal que tomou para si a responsabilidade de impedir que o vinho desaparecesse.

E por fim, Colares acumula peculiaridades. As condições estremas de clima e solo levaram os viticultores locais a desenvolverem técnicas de cultivo próprias e peculiares. Em primeiro, o solo é coberto de grande camada de areia, de forma que é uma das raras regiões européias que não necessitam de porta-enxerto, pois são imunes à praga da filoxera. Além disso, devido aos fortes ventos atlânticos, as vinhas crescem sem condução, rente ao chão. Os brancos são feitos de Malvasia, e os tintos são feitos de uma casta que só é cultivada lá, chamada Ramisco. São vinhos com grande potencial de guarda. Para conhecer um pouco mais, leia: Arenae Ramisco 2005 - DOC Colares.

Península de Setúbal

    IGP: Vinho Regional Península de Setúbal DOCs: Palmela, Moscatel de Setúbal
Um dos vinhos mais conhecidos da região é o Periquita. Tão famoso, que a principal uva utilizada para produzi-lo, por algum tempo era conhecida como Periquita. Mas hoje o nome dela é Castelão. É a principal variedade da região, e majoritária nos tintos com status DOC. A propósito, os tintos e brancos da região recebem DOC Palmela.

O nome Setúbal é reservado aos vinhos licorosos. O Moscatel de Setúbal faz parte dos grandes vinhos fortificados de Portugal, ao lado do Porto e do Madeira. Ele é produzido com as variedades Moscatel de Alexandria e/ou Moscatel Roxo (uma mutação da primeira, de pele rosada); não existe uma casta chamada Moscatel de Setúbal. Devido à aromática Moscatel, o vinho apresenta distintos aromas florais e cítricos, além de aromas típicos do envelhecimento oxidativo devido ao processo de produção.

Algarve

No extremo sul do país, está o Algarve. É banhado unicamente pelo Atlântico, mas devido à sua posição voltada ao sul, recebe influência mediterrânica, com verões mais secos que o restante do litoral português. A produção de vinhos é pequena e sofreu muito com o avanço do turismo nas últimas décadas.


Madeira e Açores


Para completar a lista, faltam as ilhas portuguesas: Ilha da Madeira, e arquipélago de Açores. Ambos são ilhas vulcânicas no Oceano Atlântico, portanto apresentam semelhanças. O clima é dominado por fortes ventos e muita umidade. As vinhas são plantadas em encostas, protegidas por muretas de pedra vulcânica, que além de atenuar a influência dos ventos, conservam o calor, ajudando a maturação das uvas.

Hoje, vinhos dos Açores são desconhecidos até mesmo dos portugueses do continente; mas o Lajido de Pico já foi freqüentador assíduo dos banquetes dos czares no século XIX. Já os fortificados da Madeira são muito conhecidos e reconhecidos. Se não possuem a mesma reputação dos Portos, vêm voltando a crescer em notoriedade.

Madeira

    IGP: Vinho Regional Terras Madeirenses DOCs: Madeira, Madeirense
A Ilha da Madeira é famosa pelo seu vinho fortificado. Ao lado do Porto, está entre os grandes vinhos fortificados do mundo. A principal característica dos vinhos Madeira é que são completamente oxidados. Portanto, são provavelmente os vinhos mais longevos do mundo. A maioria é feita em cortes, e a uva mais comum é a Tinta Negra Mole. Mas os melhores Madeiras são monocastas (feitos de uma só casta) de variedades brancas, sendo que cada uma indica a doçura do vinho. Do mais seco ao mais doce: Sercial, Verdelho, Boal e Malvasia.

Mas a ilha também produz vinhos tranqüilos, tintos e brancos, seja sob a DOC Madeirense, ou pela IGP Terras Madeirenses. Os brancos são mais interessantes, mas tanto um quanto outro dificilmente podem ser encontrados fora da própria ilha.

Açores

    IGP: Vinho Regional Açores DOCs: Pico, Biscoitos, Graciosa
Os vinhos de Açores são raros, muito difíceis de serem encontrados fora do arquipélago. Das 9 ilhas, três produzem vinho. Na Ilha de Pico, e na Ilha Terceira (DOC Biscoitos), produzem vinhos licorosos. Na Ilha Graciosa, produzem-se vinhos brancos.

Epílogo


Este texto representa um resumo da minha visão dos vinhos portugueses. Ele ficou um pouco mais longo do que eu tinha intenção inicialmente, mas realmente não era possível resumir mais, sem perder muito em essência. Em algumas regiões mais notórias e curiosas, aponto textos complementares, para quem quiser se aprofundar um pouco mais. E continuarei a incluir mais textos complementares, ao longo do tempo.

O conteúdo é baseado na minha experiência em vinhos portugueses, assim como em muita pesquisa, para evitar escrever informações incorretas. Mas seguirá sendo continuamente revisto e aprimorado, sempre que eu julgar necessário. Espero que instigue o interesse em quem não conhece ainda os vinhos de Portugal, e que possa servir de base para ajudar a quem se sente um pouco perdido diante de tantos vinhos diferentes.

Fontes


Instituto da Vinha e do Vinho de Portugal
Wines of Portugal: página oficial da Viniportugal
Portaria 239/12 - Normas de Execução relativas à Designação, Apresentação e Rotulagem
Carcavelos, o eterno esquecido
As regiões vitivinícolas de Portugal
Relevo de Portugal
Por Terras e Aldeias de Portugal

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