7 de março de 2015

Um banquete na Quinta dos Termos

Texto da série: Descobrindo e Provando Portugal com a ViniPortugal

Este relato trata da minha visita a Portugal como convidado da Vinhos de Portugal. Caso ainda não tenha lido, leia o prólogo.

Após a visita à Quinta de Lourosa, no dia anterior, seguimos até a região de Trás-os-Montes, para jantarmos e hospedarmo-nos no Hotel & Spa Alfândega da Fé. No interior de Portugal, longe da costa, os ventos do Atlântico exercem menor influência, por isso chove menos, porém o inverno é mais rigoroso. Tanto que fomos brindados com uma pequena precipitação de neve, durante o pequeno-almoço, que pudemos apreciar confortavelmente a partir do calor do restaurante, no terraço fechado com vidro de fora a fora. A minúscula precipitação de neve ficava ainda mais bonita com a imagem de fundo, do vale com montanhas a perder de vista.


Destino: Beira Interior

A neve não durou mais do que alguns minutos, e terminado o pequeno-almoço, era hora de partir. Seguimos para o sul, em direção à Beira Interior, a leste da Serra da Estrela, com destino à Quinta do Termos. Eu havia conhecido alguns vinhos da Beira Interior - inclusive alguns da Quinta dos Termos - durante a feira Vinho e Sabores de Portugal de 2013, quando nada menos que 6 produtores da região vieram a Campinas.

É uma região pouco conhecida, mesmo em Portugal, e mais ainda no exterior, mas merece atenção, pois possui vinhos com muita personalidade, devido em primeiro lugar ao terroir continental, seco, com altitude média de 500m; e em segundo lugar a algumas variedades muito especiais típicas dali. Entre elas, Rufete e Fonte Cal. Eu fiquei alucinado com os vinhos de Fonte Cal quando os conheci em 2013, e fiquei muito empolgado em saber que teria novamente a oportunidade de degustá-los, este ano.


A Quinta dos Termos

Fomos recebidos pelos proprietários, Sr. e Sra. João e Lurdes Carvalho, sob um tempo ensolarado e frio, com algumas nuvens e muito vento. Enquanto o Sr. João nos mostrou a quinta, a Sra. Lurdes foi cuidar dos detalhes para o almoço que ocorreria mais tarde. Ele nos contou um pouco a respeito da história da quinta, das vinhas, dos vinhos, e em seguida nos mostrou a produção, passando pelos tanques de inox, a sala de barris de carvalho, e a cave onde repousam as garrafas, inclusive as de espumantes, que também são produzidas na propriedade. Mas em vez de me estender em palavras para relatar tudo que nos foi dito, compartilho um vídeo de apresentação produzido pela empresa:



O vídeo faz uma boa apresentação da quinta, mostra números-chave da empresa, exibe etapas do processo de cultivo e produção de vinho, e mostra belas imagens. Mas é bem melhor ver e ouvir tudo pessoalmente!

Após a visita pela produção, fomos conduzidos a um amplo espaço no andar superior, com uma grande mesa quadrada preparada para o almoço, e duas longas mesas à direita, uma das quais preparada para a prova de vinhos. Alguns quadros em um canto, garrafas em outro, e um armário que exibe algumas garrafas com suas respectivas medalhas, completavam o cenário. Pela janela, avistávamos uma vinha de Syrah, que é usada no vinho Reserva do Patrão.


Degustação

A lista de rótulos da quinta é longa. O vídeo acima menciona 22, mas acho que há mais. Nenhum deles faz-se todos os anos: é sempre condicionada à qualidade das uvas, de cada casta, cada ano. Provamos 9 deles durante a degustação, e alguns dos tops foram reservados para o almoço. Para não sobrecarregar o texto com uma listagem sem fim, selecionei alguns que se destacaram para mim.

Em primeiro lugar, os brancos. A Fonte Cal é uma aposta da Quinta dos Termos, e está presente em quase todos os vinhos brancos. Provamos o Branco Reserva 2013 - um lote de Fonte Cal, Arinto, Síria e Verdelho - e o Fonte Cal Reserva 2013, varietal da casta. Eles não entram em contato com madeira, mas a Fonte Cal confere ao vinho sabor e aroma muito particulares que dão a impressão de que é um vinho barricado. Apresentam uma textura amanteigada, e leves aromas similares à tosta, como coco e chocolate branco, mas sem exagero, com muita fruta e muito frescor no conjunto. O resultado é excelente.


Entre os tintos, merece destaque o Vinhas Velhas 2011, produzido a partir de uma vinha plantada em 1931 - portanto com 80 anos à época da colheita - com variedades misturadas, onde predominam Trincadeira, Jaen, Rufete e Marufo, algumas das castas tintas mais tradicionais da Beira Interior. Ao blend, soma-se 10% de Syrah de vinhas novas. Foi engarrafado em novembro de 2014, e ainda não está no mercado. Apresenta bastante fruta vermelha, alcaçuz, leve tosta e um toque de couro, numa estrutura muito elegante.

Outro que me conquistou foi o Talhão da Serra 2013, um varietal de Rufete, que João Carvalho chamou de "Pinot Noir da Beira Interior", o que reflete bem o vinho: de cor brilhante, mas de pouca intensidade, apresenta aroma de balas de frutas vermelhas, licor de cassis, mentol e um leve tostado, escoltado por uma boa acidez e corpo leve.


O melhor borrego na brasa

Finda a degustação, veio a melhor parte: o almoço preparado pela Sra. Lurdes. O cardápio foi um suculento borrego (cordeiro de menos de um ano) assado na brasa, acompanhado de umas batatas espetaculares, também assadas na brasa; e não nos esqueçamos da salada. Tudo acompanhado de mais vinhos da quinta, como o Garrafeira Branco 2010, o Reserva do Patrão 2010, Colheita Selecionada 2008, e o Deslize 2009 (o 'deslize', no caso, foi ter sido feito com Petit Verdot).


Não é preciso dizer que comi muito mais do que precisava, mas quando chegou o mel de rosmaninho, da própria Quinta dos Termos, para se comer com queijo fresco, eu tinha ao menos que provar. E depois, ainda veio a sobremesa, uma torta de amêndoas deliciosa. Comi tanto no almoço, que o jantar, horas depois e a uma centena de quilômetros dali, ficou prejudicado...

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