21 de abril de 2017

#throwback

Quando se trata de Porto, sempre fui mais Tawny - bem envelhecido - com toda sua complexidade e persistência. Os Rubys, achava-os enjoativos, pouco frescos... porque ainda não havia tomado um que se prezasse. Até que tomei meu primeiro Vintage.


Os Vintages são o topo da hierarquia dos Rubys - e dos vinhos do Porto, como um todo. E apesar de terem em comum a cor rubi, e os aromas remetendo a frutas vermelhas, o salto de qualidade é imenso. O produtor precisa ter um misto de bênção dos deuses - possuir vinhedos nos melhores terrenos, contar com as condições climáticas perfeitas - com o máximo de cuidado para não por a perder a qualidade das uvas. Tudo para obter um Porto com uma estrutura potente e equilibrada, capaz de resistir por décadas engarrafado, e ainda melhorar com o tempo. E claro, não basta que ele, o produtor, ache que fez algo digno de se chamar Vintage: ele precisa convencer, e obter o crivo, do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto.

Eu não me convencia por todo esse discurso, até tomar meu primeiro Vintage. Foi há dois anos, em viagem a Portugal, em uma visita à Quinta de Castelo Melhor.

Esta quinta é sede do Duorum, projeto criado em 2007, da parceria entre João Portugal Ramos e José Maria Soares Franco - dois grandes nomes da enologia portuguesa. Soares Franco, que foi o enólogo responsável pelo mítico Barca Velha durante 20 anos (de 1987 a 2007), é quem dirige a enologia no Duorum. Eles viram na quinta, à margem sul do Douro Superior, bem perto da fronteira com a Espanha - e avistando do alto a sede da Casa Ferreirinha - o terreno que julgavam ideal para seu projeto.


Foi com certo saudosismo, daquela recepção espetacular, que abri uma garrafa do Duorum Vintage 2007 - primeira safra do projeto - em minha última reunião de confraria. Verti-o no decanter, para que pudesse oxigenar um pouco; afinal, um Vintage de 10 anos é jovem. Perdi dois dedos de vinho, que permaneceram à garrafa, para evitar que os sedimentos acumulados dos seus poucos anos comprometessem o restante do vinho. E ali, ele permaneceu por pouco mais de duas horas - era pouco, mas era o tempo que tinha disponível.

Como um bom Porto Vintage jovem, tinha cor rubi violácea intensa, que tingia a taça de lágrimas arroxeadas. O aroma intenso de licores, com um toque de chocolate e mentolado, em nada denunciava uma evolução expressiva. Na boca, era encorpado, com taninos intensos e finos, acidez média/alta, e longa persistência. É um belo vinho, que certamente foi aberto bem antes do tempo, mas que trouxe bastante satisfação.

Infelizmente, não se equiparou ao que tomei na visita à Quinta; talvez faltasse o entorno, com o rio correndo lá embaixo, os terraços cheios de videiras hibernando, o vento frio uivando do lado de fora.

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