17 de dezembro de 2016

Costasera Amarone Classico Riserva 2011

Este ano, escrevi bastante a respeito de Amarones e outros vinhos de Valpolicella. Entre degustações das minhas confrarias e vinhos tomados entre amigos, tomei de um bocado de vinhos da região. Achei pertinente documentar duas degustações que achei bastante educativas: uma intrínseca (comparação entre os quatro estilos da região); e outra extrínseca (uma avaliação de vinhos feitos ao estilo Amarone); assim como alguns dos vinhos mais dignos de nota (aqui).

Eu não escrevi a respeito de cada um dos vinhos que provei, ou me tornaria muito repetitivo. Mas eu não poderia terminar o ano sem registrar uma garrafa que um casal amigo trouxe da Itália e dividiu com a gente; e que certamente está entre os melhores vinhos que tomei no ano: o Costasera Amarone Classico Riserva 2011. Ele é produzido pela vinícola Masi - uma das mais conceituadas de Valpolicella.


As uvas deste vinho provém de vinhedos dentro de uma área denominada de Costasera - daí o nome do vinho. Esta área está toda incluída na zona de Valpolicella Classico, o que lhe permite estampar este termo no rótulo. Além disso, ele passa por um estágio de envelhecimento prolongado em madeira, de no mínimo 3 anos em barrica, e mais um ano em garrafa, para poder ser classificado como Riserva.

Oseleta

A Masi foi a responsável pelo resgate da Oseleta, que esteve em vias de extinção. Essa casta é usada em Valpolicella há pelo menos 150 anos. E apesar de ter capacidade de gerar vinhos mais estruturados do que as outras variedades típicas, ela foi preterida após a devastação da filoxera (na década de 1880), por ter pouca produtividade. Na década de 1980, a Masi levou a cabo um projeto de recuperação, coletando 48 clones pela região, e criando um campo experimental, para seleção dos melhores clones [*]. A partir de então, plantou 18 hectares da variedade, e passou a utilizar em diversos de seus vinhos. O Amarone Costasera Riserva leva 10% de Oseleta, que é o máximo permitido pela legislação. O restante é composto das variedades mais clássicas da região: Corvina, Rondinella e Molinara.

A propóaito, o trabalho da Masi trouxe a atenção de outras vinícolas, e os melhores produtores têm optado por incluir a Oseleta em seus melhores vinhos, muitas vezes em substituição à Molinara, considerada a variedade de mais baixa qualidade dentre as permitidas em Valpolicella. Aqui no blog, já comentei a respeito do La Bandina Valpolicella Superiore, um Valpolicella que faz jus ao termo Superiore, e o Zenato Ripassa, que é uma das principais referências em Ripasso.


Apaxximento

A vinícola Masi tem um especial orgulho pelo seu processo de passificação das uvas (em italiano, appassimento). Possuem até mesmo uma marca registrada (Appaxximento®), e um selo que consta no contra-rótulo de suas garrafas. No processo tradicional, os cachos de uvas são colocados em caixas de bambu vazadas, e estas caixas permanecem por um período de um mês ou mais, em galpões ventilados. No caso da vinícola, as condições de ventilação, temperatura e umidade são controlados por computador, com base em medições de um conjunto de grandes safras que tiveram na região.

As uvas permanecem secando nos galpões por um período de 4 meses, o que representa o dobro do mínimo exigido pela regulamentação. Com isso, além de perder 40% do volume - concentrando açúcares, aromas e polifenóis - o período mais longo permite que se desenvolva botrytis cinerea, aumentando consideravelmente a concentração de glicerina, o que confere ao vinho uma maior sensação de maciez.


O Costasera Amarone Classico Riserva 2011 foi colocado no mercado no final do ano passado. E mesmo tendo capacidade de guarda de 30 anos, já está extremamente macio e agradável. No visual, ele mostra muita concentração e jovialidade: cor rubi violácea intensa, com lágrimas que tingem a taça. O aroma, de intensidade média, traz no primeiro plano os efeitos da passificação (ameixas, uvas passas, licor de cassis ou ginja, geléia de mirtilo, amarenas), e em segundo plano a influência do estágio em madeira (chocolate amargo, café, caramelo). Ele tem 15,5% de teor alcoólico, mas este não esquenta a boca, pois é suavizado glicerina. A combinação álcool, glicerina e açúcar residual tornam o vinho untuoso, de tão encorpado. Os taninos são intensos, mas muito macios; e a alta acidez não deixa o vinho ficar enjoativo. Este foi, disparado, o melhor Amarone que já tomei.

Para se aprofundar

Para conhecer um pouquinho mais a respeito da vinícola Masi, e dos Amarones, além do site da vinícola, eu recomendo os seguintes textos:

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