25 de julho de 2016

Lirica crua

Este espumante foi lançado em setembro do ano passado, despertou a atenção dos enófilos mais antenados, e pipocou em vários blogs de vinho nacionais. Porém, apenas este mês ele veio a cruzar meu caminho, quando foi levado por um outro convidado, em um jantar na casa de amigos.


O Lírica Crua foi produzido pela vinícola Hermann, localizada na Serra do Sudeste (RS), e pertencente à família proprietária da importadora Decanter. Ele é produzido pelo método tradicional, isto é, com segunda fermentação na garrafa. Mas o que chama a atenção nele é que ele é vendido sem ser realizada a etapa de dégorgement, que resulta na retirada da borra. Eu ainda não ouvi falar de outro espumante assim, em nenhum lugar do mundo.

A borra, no método tradicional, sempre é mantida por um certo período com o líquido, para dar corpo e complexidade aromática ao espumante. Este tempo pode variar de poucos meses a vários anos, e é normalmente responsável pelos aromas de pão, massa de pão, brioche amanteigado, e outros do gênero, que estão presentes em Champagnes e muitos outros espumantes. No entanto, a borra nunca se dissolve completamente, e por isso, para que ele possa ficar translúcido como estamos acostumados, é necessário retirá-la, pelo processo de dégorgement. Caso contrário, fica completamente turvo, como é o caso deste.


O Lírica Crua vem fechado com uma cápsula e uma tampa de metal, similar às de garrafas de cerveja isto é, da forma como as garrafas ficam fechadas na adega até o momento do dégorgement. É necessário cuidado ao abrir, para a pressão não atirar cápsula e tampinha longe.

Na taça, ele tem cor amarelo-palha de média intensidade, porém completamente turvo, e quase não é possível ver a as bolhas subindo. O aroma remete principalmente às leveduras, com brioche bastante amanteigado no primeiro plano, e um pouco de fruta ao fundo (pêra, abacaxi e casca de limão). A borra presente não causa excesso de corpo, nem amargor, e apesar do aroma que tende mais para o caráter austero, na boca ele tem o frescor que se espera de um espumante. Apesar de não ter recebido licor de dosagem, não é tão bruto quanto poderia-se esperar; Creio que a borra lhe dá a suavidade que equilibra a acidez. Na ocasião em que o conheci, ele foi servido com bruschetas de queijo de cabra com geléia de tomate, e espumante e petisco caíram muito bem um com o outro.


A idéia de se colocar no mercado um espumante assim - como se a produção tivesse sido interrompida antes do fim - pode parecer apenas um experimento. Se foi assim, na minha opinião foi bem sucedido, e espero que haja outras edições.

Veja também o que outros blogs escreveram sobre ele:

2 comentários:

  1. Olá Rodrigo tem o espumante da Pizzato no mesmo estilo e premiado no Descorchados e lançado antes do Crua!

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    1. Olá Héberson,
      obrigado pela dica. Quem imaginaria que haveria outro espumante nesse estilo, e assim tão perto! Creio que ele não teve a mesma repercussão do Crua, hein?

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