1 de julho de 2016

Um Syrah do Rhône... só que não é da França

Quando falamos de Syrah plantada nas encostas do rio Ródano, pensamos no Vale do Rhône na França, principalmente na porção norte, onde ela reina absoluta. Porém, essa região que é conhecida mundialmente como Vale do Rhône pertence aos últimos 240Km(*) do trajeto que o rio corre até o Mediterrâneo. Aproximadamente 500 quilômetros rio acima, mais especificamente nos Alpes Suíços, o mesmo rio garante condições de cultivo à vinha. E lá, também podemos encontrar vinhedos de Syrah plantados às margens do Rhône.

(*) distância fluvial entre Vienne e Arles, calculada pelo site da VNF - Voies Navigables de France (clique aqui).

O Cantão de Valais (imagem do Commons Wikimedia)

O Rhône nasce na Suíça - resultado do degelo dos Alpes. Ele corre por 290Km por vales em meio aos Alpes Suíços, até desaguar no Lago de Genebra (do lado contrário deste lago, ele sai em direção à França). Toda a região que o rio percorre até o lago constitui o Cantão (região administrativa) de Valais: que é a principal região produtora de vinhos da Suíça, graças ao rio. Apesar de uma boa insolação que a região tem no verão, a altitude e a proximidade com os Alpes trazem sérios limites à maturação das uvas. Longe do rio, geadas de primavera são quase garantidas. Elas destroem os primeiros brotos da vinha que acordava da hibernação, e arruínam a colheita. Aquilo que sobrevive às geadas, não teria calor suficiente durante o verão para atingir a plena maturação. É o efeito termoregulador da água do rio que diminui os riscos de geadas, e aumenta o período de calor, permitindo a maturação adequada das uvas.

Uma amiga da Nossa Confraria tem família na Suíça, e da última vez que foi lá, trouxe uns vinhos para provarmos juntos. Na última reunião, abrimos o primeiro deles, que vem a ser o Syrah Réserve 2011, produzido pelo Domaine des Muses, uma vinícola familiar localizada no município de Sierre, região de Valais. O vinho faz parte da linha Réserve, que de acordo com o site do produtor corresponde aos vinhos com maturação em barricas. No entanto, não há ficha técnica, então não sei precisar qual o tempo de estágio, ou quais tipos de barricas, etc.


Ele tinha cor rubi de intensidade média. O nariz era um tanto curioso, predominando um caráter herbáceo - como aspargos em conserva e azeitona. Além do herbáceo, tinha bastante especiarias (pimenta-da-Jamaica, noz moscada, etc.), um toque mentolado, e uma fruta negra razoavelmente discreta. Com algum tempo aerando na taça não mudou nada. Na boca, tinha corpo médio, boa acidez, taninos finos, de média intensidade, álcool discreto, e um aroma de boca mais... normal, com frutas negras, especiarias e um toque tostado. É um Syrah bem diferente, que me levou a pensar na influência que o frio da região possa ter tido no vinho. Hei de provar outros exemplares, para confirmar se é uma característica da região, ou foi apenas este vinho.

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