27 de julho de 2016

Chianti Classico Gran Selezione

Outro dia, Thais e eu passamos um fim de semana delicioso em Monte Alegre do Sul. Um casal de amigos convidou a nós e a um terceiro casal - todos apreciadores de vinhos - para um fim de semana na casa deles, no alto de um belo condomínio nos arredores da cidade. Nessa época do ano, Monte Alegre tem noites frias, deliciosas para nos juntarmos à mesa para comer bem, e tomar bons vinhos.


Saímos pouco após o expediente de sexta-feira, e em uma horinha já chegamos na casa de nossos amigos. Monte Alegre nos recebeu com um frio de 8ºC, daquele que dá vontade de entrar logo em casa. E nossos amigos, com um Champagne Veuve Cliquot, e uns aperitivos - queijos, azeitonas, torradinhas, etc. - enquanto esperávamos o prato principal: uma lasanha a bolonhesa assando no forno.

Quando a lasanha já estava quase no ponto, nosso anfitrião trouxe uma singela garrafa magnum de um Chianti Classico. Ou melhor, o que pensávamos ser um Chianti Classico, pois o rótulo não dizia nada de Riserva. Era o Cellole Chianti Classico Gran Selezione 2011, do produtor San Fabiano Calcinaia.


Gran Selezione

Acontece que eu não sabia - e acho que os outros também não - que o termo Gran Selezione, que estava escrito discretamente no alto do rótulo, não era apenas um termo comercial aleatório. Eu conhecia apenas as categorias básica e Riserva; mas não tinha a menor idéia de que existia uma terceira categoria, criada em 2013: a Chianti Classico Gran Selezione [*].

A título de informação, a categoria Riserva define um mínimo de 24 meses de envelhecimento, com um mínimo de 3 meses em garrafa. A nova categoria define um tempo de envelhecimento um pouco maior: 30 meses. Além disso, para um Gran Selezione, as uvas devem ser provenientes de vinhedos próprios, e o vinho deve possuir características químicas mais restritivas (teor alcoólico e de extrato mais altos, veja aqui). A nova categoria, apesar de criada em 2013, e homologada em 2014 [**] vale para vinhos de safras anteriores que atenderem aos critérios. Por isso, este vinho que tomamos, de 2011, já pôde ostentá-la.


Cellole

Cellole corresponde ao melhor vinhedo da empresa, nas proximidades da vinícola, a uma altitude de 550 metros. Ele é feito de 90% Sangiovese, e os outros 10% de 'outras variedades autorizadas'. Após a fermentação, ele estagia por 24 meses em barricas de primeiro e segundo uso, e mais 6 em garrafa [*].

Ele nos pegou de surpresa. Estávamos esperando um vinho mais frutado e mais leve, ideal para massas - como um Chianti Classico normal. Mas em vez disso, era um porradão. Já começava na cor, um rubi mais intenso do que o esperado, e com pouco brilho. O aroma era marcado pela madeira, com bastante chocolate amargo e fumo, que se sobressaíam às frutas negras. O corpo era de médio para alto, os taninos eram finos, porém intensos, e uma boa acidez equilibrava álcool.

Como não estávamos esperando, ele não teve a oportunidade de mostrar todo o seu potencial. Poderia ser guardado por muitos anos, ou no mínimo merecia algumas horas em decanter. Mas mesmo assim fui muito bem apreciado até a última gota. E ainda foi seguido por um outro Chianti Classico, desta vez sem surpresas. E depois disso, nada melhor do que se enfiar debaixo de uma pilha de cobertores, e dormir aquela noite silenciosa do interior.


Leituras complementares

Caso se interesse em se aprofundar um pouco mais a respeito da nova categoria Chianti Classico Gran Selezione, recomendo os textos abaixo:

4 comentários:

  1. Bom dia, Rodrigo.

    Primeiramente, vai aqui uma pitada de inveja pelo fim de semana frio. Não vou pedir pra vc mandar pra cá porque por aqui frio de novo só no ano que vem mesmo. :(

    Segundo, o primeiro link para o site da Decanter está com erro (not found).

    Terceiro, achei interessante que nas regras do consórcio Chianti, apesar de especificado o tempo de envelhecimento necessário para cada categoria, não existe a exigência de que este seja feito em barricas. Essa eu não sabia.

    Obviamente, isso significa que seria possível se deparar com Chianti Classico Riservas e Gran Seleziones sem passagem por carvalho. Será que algum produtor ousaria, me pergunto?

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  2. Olá Edward, obrigado pelo aviso. Link corrigido.

    Quanto ao não uso de carvalho, apesar de não haver exigência explícita nas regras, algum produtor que queira inovar nesse sentido ainda teria que passar pela comissão técnica que avalia amostras candidatas. Se algum produtor ousar, será que a maioria da comissão aprovaria o vinho na categoria superior?

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    1. Parafraseando um famoso comentarista de futebol, "a regra é clara", ou pelo menos ela é na tabela daquela página.

      Já vi Chiantis básicos sem estágio algum em carvalho, mas nunca um Riserva que não tenha passado no mínimo um ano em barrica... Se algum dia aparecer um Riserva "non legno" na minha frente vou catar com certeza.

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    2. Se achar, me avisa, pois eu também quero conhecer!

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