12 de julho de 2015

Rio Sol Alicante Bouschet Winemaker's Selection 2009

Quando a Thais fez a lula ao vinho tinto, há poucos meses, eu havia tentado harmonizar o prato com um vinho tinto - afinal, o prato era feito de vinho tinto! - mas não havia ficado completamente contente com o resultado. Desta vez, ela fez polvo ao vinho tinto, e mesmo insatisfeito com a harmonização da outra vez, resolvi tentar um vinho tinto novamente. O prato ficou tão bom, que resolvi escrever um texto só pra falar da harmonização: Ktapodi Krasato.

Uma barganha

O assunto deste texto é o vinho que eu escolhi para acompanhar o prato: Rio Sol Alicante Bouschet Winemaker's Selection 2009. Eu tive a oportunidade de prová-lo, assim como vários outros da marca Rio Sol, na Expovinis deste ano. Eu gostei especialmente dos espumantes, e deste tinto. A representante da distribuidora do vinho, que estava no stand da feira, disse que ele sairia para o consumidor final a partir de R$32,00, o que não seria nada mal pela sua qualidade, mas não é que encontrei-o pouco depois no site da Sonoma, por R$18,00?

Sinceramente, mesmo antes dos aumentos de preços acarretados pelas mudanças nos tributos e pela vertiginosa desvalorização do Real, já não era fácil encontrar vinhos razoáveis por menos de R$30,00. Encontrei algumas recomendações abaixo desse preço, e gosto não se discute, mas provei algumas delas, e não gostei dos vinhos. Mas este Alicante Bouschet não é apenas razoável, é bom, mesmo. Bate facilmente muito vinho de R$50 a R$60, e também alguns de R$100 que não valem R$50.



Uma nova fronteira

A Rio Sol é uma marca da Vinibrasil, o braço brasileiro da empresa Dão Sul, de Portugal, que produz vinhos na Fazenda Santa Maria, no Vale do São Francisco. Isso mesmo, vinho produzido no Nordeste brasileiro. Muita gente torce o nariz, afinal, vinho só era produzido em regiões de clima temperado, com invernos frios, normalmente entre os paralelos 30º e 40º; como vinho do Nordeste, produzido na latitude 8º pode ser bom? Com conhecimento e tecnologia, definitivamente.

São necessários sistemas de irrigação e de fertilização, além de diferentes técnicas de condução, que levam as videiras a produzirem de 2 a 3 vezes por ano. E se o calor da região pode ser um desafio à retenção de ácidos da uva, o Nordeste não estará sozinho. Até mesmo em regiões frescas como o Minho, em Portugal, às vezes faz-se necessária uma correção dos ácidos, o que dirá de regiões muito mais quentes, como o Alentejo, a Espanha, o sul da Itália, a África do Sul...

E este Alicante Bouschet está no seu auge, em ótimas condições após 6 anos, algo que muito, mas muito vinho não consegue. Portanto, vamos deixar de lado o preconceito, porque este vinho é bom!


Uma uva diferente

O Rio Sol Alicante Bouschet Winemaker's Selection 2009 é feito de Alicante Bouschet, uma uva típica do Alentejo, uma região portuguesa de verões muito quentes. A Alicante Bouschet ali se adaptou muito bem, mostrando capacidade de reter boa acidez mesmo em climas quentes. Além disso, é uma casta tintureira, isto é, possui muita matéria corante, até mesmo na polpa, e isso implica que tem capacidade de gerar vinhos com cor intensa. A fermentação levou duas semanas, com remontagem leve. Após a fermentação alcoólica, realizou a malolática, e estagiou em barricas francesas de segundo ano, por 8 meses. Em seguida, passou por filtragem leve.

Logo que abri, o provei de imediato, e minha impressão não correspondeu ao que eu havia provado na feira. Mas era apenas uma questão de deixá-lo aerar. Aliás, ele necessita tanto aerar quanto decantar, já que possui um pouco de borra. A sua cor intensa é compatível com a Alicante Bouschet: devido à idade, já apresenta reflexos atijolados, mas devido à intensidade, fica com uma coloração mais próxima ao café do que o rubi, e suas lágrimas colorem a taça com muita nitidez.

No início, tinha aromas modestos, de jabuticaba, azeitona, e leve bálsamo. Com o tempo, foi se abrindo, apresentando ameixas secas, o balsâmico se intensificou, apareceram leves notas fumadas do estágio em barrica, e até mesmo um toque mentolado, mais para o final. Ele tem corpo cheio, mas com taninos que chegam a ser discretos de tão sedosos, e a acidez, que no início me pareceu um pouco tímida, se mostrou plena com meia hora de aeração. A influência da madeira no sabor é bem sutil, agradável, e a persistência é ótima, bem longa, privilegiando as notas balsâmicas e de jabuticaba.


Há! E como ficou o vinho com o prato? Veja no texto a respeito do prato: Ktapodi Krasato.

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