3 de fevereiro de 2015

Pinot Noir neozelandês com ossobuco ao vinho

Esta noite, o jantar foi um ossobuco braseado no vinho tinto. Não sabe o que é braseado? É cozido bem lentamente em baixa temperatura, segundo explica a autora da receita, Fabiana Pinfildi, do blog Figos e Funghis (clique aqui para ver a receita).

Thais preparou o ossobuco em uma panela de barro, que trouxemos desta última viagem a BH, e por isso, não foi necessário levar ao forno (uma opção da receita original). Além disso, em vez da massa, Thais usou os legumes que tinham sido usados para fazer o caldo de legumes, e refogou-os no molho que ficou do ossobuco, para servir como acompanhamento. Ficou um espetáculo!


E para harmonizar...

O ossobuco é uma carne intensa e gordurosa, cheia de sabor. Um vinho muito pesado tornaria a experiência cansativa, deixaria toda a refeição muito pesada, provavelmente, não conseguiríamos tomar mais do que dois goles do vinho. É preciso um vinho com excelente acidez, para se contrapor à intensidade do ossobuco.

Eu tinha este neozelandês que chegou no final de 2014 pela Sociedade da Mesa: Mt Hector Pinot Noir 2013, produzido pela Matahiwi Estate Winery. Eu já tinha tomado a primeira garrafa, e sabia que ele teria o que precisa para harmonizar com o ossobuco.

O vinho é um Pinot Noir um pouco mais intenso: possui uma cor rubi de intensidade média, o que é intenso para um Pinot Noir. Intenso, mas sem excesso de madeira: apenas parte dele estagiou em barrica, e em seu perfil aromático se sobressaem as frutas vermelhas, com boa dose de especiarias, e apenas um toque tostado no retrogosto. Os taninos são finos e de média intensidade, e tem uma excelente acidez que o torna muito gostoso. Ao lado do ossobuco, o vinho fazia salivar mais a cada gole, e seu caráter frutado se sobressaía, uma delícia.


Vinho da Nova Zelândia

Vinhos da Nova Zelândia são raridade no Brasil. O pequeno volume de importação, a distância (que aumenta o custo do frete e, conseqüentemente dos impostos, já que todos os impostos brasileiros incidem inclusive sobre o preço do frete), somados à nossa burrocracia, fazem com que os vinhos da Nova Zelândia sejam para nós ainda mais caros do que os de outros países.

Aliás, por falar em burrocracia, estes vinhos neozelandeses passaram por um suplício para entrarem no país, graças à (aparentemente proposital) ineficiência da Receita brasileira. Não é a primeira vez que vinhos deste país são importados ao Brasil, mas na interessante entrevista que Dario Taibo concedeu ao Marcus do blog Vinhos de Hoje, ficamos sabendo que neste ano que passou, todos os vinhos neozelandeses ficaram retidos, porque a documentação neozelandesa estava autenticada com certificado digital, e a nossa Receita não aceita certificados digitais.

Mas os vinhos de lá têm boa reputação internacional, e seus Pinot Noirs têm sido considerados muitas vezes os melhores fora da Borgonha, mesmo que a maioria venha com tampa de rosca. É isso mesmo, tampa de rosca.

Aqui no Brasil ainda existe uma resistência muito grande com relação a elas, mas em nível global já ganharam a aceitação de 85% dos consumidores habituais de vinho (em pesquisa de 2011). Na Nova Zelândia, a maioria da produção já usa tampa de rosca (a renomada crítica Jancis Robinson fala em mais de 90%), graças à ação da Screw Cap Initiative, uma entidade de origem neozelandesa que promove o uso das tampas de rosca.

Inclusive, hoje em dia a opinião mais recorrente entre produtores e críticos de vinhos é que este tipo de fechamento é o melhor para vinhos de consumo imediato[*] (que corresponde a 95% dos vinhos do mundo). Então, se você tem preconceito contra as tampas de rosca, está na hora de rever seus conceitos.

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