30 de junho de 2014

Sobre vinhos na Provence: Château Henri Bonnaud, Palette


Saí do Château Grand Boise em direção à localidade de Palette, localizada a apenas 4 Km da cidade de Aix-en-Provence. No caminho, sempre vendo a montanha de Sainte-Victoire à minha direita, resolvi dirigir em direção a ela, para vê-la mais de perto. Entrei por uma estradinha que só comportava um carro, em meio à Résèrve Naturelle de la Sainte-Victoire. Tão perto assim, um platô a meia altura não permitia visualizar a montanha em sua totalidade, mas é uma bela paisagem, mesmo assim. No final desta estrada, saí da reserva, e caí em uma estrada de acesso a propriedades rurais, só um pouquinho mais larga que a anterior. Escolhi seguir para a direita, e no primeiro cruzamento, vejo uma placa indicando "Henri Bonnaud A.O.P. Palette". Virei então, à esquerda, na direção indicada pela placa.

Já passava de meio dia, e o sol estava quente, sem nenhuma nuvem no céu. À medida que avançava, a montanha voltava a se mostrar, desta vez, no retrovisor. Entretido com a montanha, pensava em um bom local para tirar umas fotos. Passei por uma parcela de vinhas, e me pareceu o lugar perfeito para umas fotografias, com vinhas no primeiro plano, e a montanha ao fundo. 50 metros à frente, em um entroncamento, encontrei um local para parar o carro, e voltei até a posição do vinhedo para tirar as fotos.


Ao voltar para o carro, tive a curiosidade de ler as placas de sinalização, e entre elas, estava "Henri Bonnaud A.O.P. Palette", indicando exatamente a rota de onde eu tinha vindo! Por isso, eu voltei pelo mesmo caminho, e 100 metros à frente estava a entrada da propriedade. Eu estava tirando fotos dos vinhedos, sem saber que era o local que eu estava buscando!

Os muros da frente da propriedade eram de pedras parecidas com as de São Tomé. Eles faziam a contenção de dois terraços, de um lado e do outro do portão de entrada, onde estavam plantadas vinhas. Um caminho de terra batida saía do portão, morro acima, com sinalizações indicando que a cave estava lá no alto, no final da rampa. Antes de chegar à cave, porém, à direita, está a casa onde moram o proprietário e sua esposa, com um jardim cheio de flores, incluindo a lavanda, toda florida nesta época do ano, e duas palmeiras. Para lá da casa, mais videiras, algumas com troncos grossos, evidência de que são pés de idade considerável.


A placa à entrada indicava que a cave fechava de 12:30 até as 14:00, e naquele momento já passava das 12:30. Mesmo assim, subi até onde as placas apontavam para a cave. Um homem de cabelos brancos se aproximou do carro. Era o proprietário. Ele até se prontificou a me receber na hora, se fosse apenas para uma compra rápida. Para degustar os vinhos, ele me pediu que voltasse depois, pois ele precisava almoçar e tinha uma reunião agendada para as 13:30. Eu compreendi a situação, e me dispus a voltar depois.

A visita

Quando voltei à tarde, o proprietário, Stéphane Spitzglous, estava em reunião, por isso, quem me recebeu foi sua esposa Géraldine. O domaine é 100% orgânico, não usa aditivos industriais nem no cultivo (com certificação), nem na vinificação (por convicção). Ela disse que são o único produtor orgânico, dos 5 que fazem parte da apelação Palette (pelo menos, são o único com certificação). Sua propriedade possui 14ha sob a AOP Palette (que foi o que me trouxe até ali), e mais 10ha na denominação Côtes de Provence - Sainte Victoire - afinal, ela está logo ali, no quintal deles!

Eles produzem vinhos AOP Palette nas três cores. O Quintessence Blanc 2012 (Palette) passa 8 meses em barrica. É um vinho muito intenso, com fruta e madeira muito evidentes, gordo, untuoso, e final fresco. Só achei caro, por €27.

Seu Henri Bonnaud Rosé 2013 (AOP Palette) foi feito de uvas colhidas a mão, como manda a apelação, o mosto é extraído por gotejamento, e 20% do vinho amadurece em barricas por 8 meses. O vinho tem 14% de álcool. Mas se o aroma da barrica se faz notar muito sutilmente, o álcool nem aparece, dando a impressão de um vinho leve e fresco. Acho que foi uma experiência mais bem sucedida que a do Château Grand Boise, e custa o mesmo, €17.


Entre os rosés, eu provei também o Terre Promise Rosé 2013 pertence à apelação Sainte-Victoire. É proveniente de colheita mecanizada, e não tem passagem por maideira. Por isso custa bem menos (€11). Nem por isso, é simples. Especialmente aromático, com notas florais e cítricas, tem boa estrutura, com 13,5% de álcool, mas ainda parece leve, devido ao frescor.

Mas a principal produção da casa são os tintos. Eu provei os dois da apelação Palette. Ambos são feitos com Grenache, Mourvèdre, e Carignan, incluindo vinhas velhas (de mais de 60 anos). O primeiro, Henri Bonnaud Rouge 2010, amadurece por 18 meses, metade em barricas, e metade em tonéis. É um vinho encorpado, sem desequilíbrio, mas eu diria apenas isso: encorpado.

Muito mais interessante é o Quintessence Rouge 2011, do qual são feitas apenas 4 a 6 mil garrafas por ano (dependendo da safra). Ele também pertence à AOP Palette, mas é perceptivelmente muito mais fresco, floral e persistente, não dá pra dizer que possui 15% de álcool. Ele também estagia 18 meses, porém 100% em barricas. Mas isso não significa que os aromas da madeira sejam predominantes: a fruta está presente em primeiro lugar. Custa €25.

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