28 de junho de 2014

Sobre vinhos na Provence: Les Baux de Provence

Saindo da auto-estrada que liga Aix a Avignon, seguimos uma estrada local em direção à bela Saint-Rémy de Provence. No caminho avistamos placas que indicavam o Domaine des Terres Blanches. Saímos, então, da estrada local, seguindo em direção ao sul, até os pés dos Alpilles, a pequena cadeia de montanhas que domina a região. Passamos por uma rota entre as vinhas, sempre com as montanhas ao fundo, até chegar à sede comercial do domaine, onde fomos recebidos pelo Diego, o simpático cachorro da propriedade.

Vinhedos do Domaine des Terres Blanches, aos pés dos Alpilles

A cave fica aberta 7 dias por semana. Dentro dela, o atendente Philippe, esperava por clientes. Entramos para uma degustação gratuita dos vinhos, branco, rosé e tintos, produzidos pelo domaine.

O Domaine des Terres Blanches...

... fica localizado na região demarcada Les Baux de Provence, com 38ha de vinhas, que se estendem dos pés dos Alpilles em direção ao norte, plantados em planície. Ele foi criado em 1968, e o fundador da propriedade foi o responsável pela criação da AOP Les Baux de Provence. Hoje pertence a outro proprietário, mas continua sendo uma empresa familiar.

Desde a fundação, a produção segue o cultivo orgânico, o que é simplificado pela ação do vento Mistral na região. Se em toda a região, o vento exerce muita influência, ela é ainda mais forte na propriedade, que ao norte dos Alpilles, não possui nenhuma cadeia montanhosa que possa atenuar a força do vento. Por isso, as vinhas mais novas precisam ser presas por uma estaca, a fim de impedir que o vento as arranque do solo. Hoje em dia a cultura possui certificação orgânica "bio-ativa", que implica em preservar os micro-organismos do solo, na medida em que eles criam um equilíbrio com as plantas, ajudando a que se mantenham naturalmente resistentes a eventuais doenças.


Vinhos degustados

Assim como em toda a AOP, a principal produção é de tintos. Sendo assim, o domaine possui apenas um rótulo branco, e um rosé dentro da apelação de origem. O Les Baux de Provence blanc 2013 (€12) é feito principalmente de Rolle, apresenta um bom frescor, frutado, e toque herbáceo relativamente intenso. Não foi dos meus favoritos. O Les Baux de Provence rosé 2013 (€11), por sua vez, é um corte de uvas tintas, com pequena adição da uva branca Rolle. O perfil de frutas vermelhas e agrumes predominam, dando a tipicidade da Provence.

Entre os tintos, são três rótulos dentro da denominação de origem. O Les Baux de Provence rouge 2011 (€12) é o mais simples, leve e frutado. Apenas 15% dele estagia em barricas (de 3º uso), enquanto o restante descansa um ano em tanques de inox. O Aurélia 2011 (€16) é o próximo vinho na escala. Com mais corpo, mais álcool, e influência maior da madeira, sobressaem-se as especiarias. É um bom vinho, mas se preferir a alta gama, melhor ir direto ao seguinte.

O produto mais exclusivo da casa é o L'Exception. 2008 foi o último ano lançado desta linha, de diminuta produção: exatamente 4 barricas, sendo uma nova e três usadas, resultando em aproximadamente 2000 garrafas. É produzido apenas nas melhores safras, e nem é assim tão caro: €25. Foi o meu preferido, e do meu pai. Apesar de possuir 15% de álcool, é um vinho redondo, macio, e apresenta até mesmo certo frescor na boca. Também é muito aromático, com bom equilíbrio das frutas, especiarias, e tostado. É importante deixá-lo respirar uns minutos, antes de tomar.


Les Baux de Provence

Esta é a apelação de origem que se situa mais a oeste da Provence, quase às margens do rio Ródano. Seu nome tem origem em uma turística cidade de origem medieval encrostada na montanha, um lugar em que toda porta parece pertencer a uma loja, restaurante, ou hotel. A título de curiosidade, a cidade também emprestou seu nome à bauxita, mineral descoberto nesta localidade, mas que devido à sua intensiva exploração, se esgotou na região.

Até 1995, toda a área demarcada fazia parte da apelação Coteaux d'Aix-en-Provence, a segunda maior AOP da Provence. A partir de 1995, os tintos e rosés ganharam a apelação própria, Les Baux de Provence, e desde 2012, os brancos também podem estampar a AOP em seus rótulos.

Esta é a região mais influenciada pelo vento Mistral. Este vento, frio e seco, vem do norte, canalizado pelo rio Ródano (o Rhône), e varre a umidade da região. Como conseqüência, a região tem mais horas de sol, menos chuva, as uvas amadurecem mais cedo, e os ataques de fungos são praticamente inexistentes. Não é à toa que quase todos os produtores da região praticam cultivo biológico, ou biodinâmico. A associação de produtores até tentou incluir a obrigatoriedade de cultivo orgânico dentro das regras da AOP, mas o INAO, instituição francesa que regula as denominações de origem do país, recusou o pedido.

Os vinhos tintos são os de maior reputação. As principais variedades de uva são Grenache, Syrah e Mourvèdre (juntas, devem compor no mínimo 60% do vinho), mas a Cabernet Sauvignon (máximo 20%) também é muito cultivada em toda a região, e vem ganhando importância. Os tintos não precisam ter estágio em madeira, mas só podem ser comercializados um ano após a colheita.

Les Baux de Provence branco, que só foi autorizado a partir de 2012

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