12 de junho de 2016

Adgestone: vinhos na Ilha de Wight

Neste mês de maio, fui com minha esposa e meus pais passear na Inglaterra. Fomos visitar meu irmão, que está estudando em Portsmouth, no litoral sul do país. Montamos base em Porstmouth, e visitamos principalmente os arredores. Logo ao sul da cidade se localiza uma ilha, pequena se comparada à própria Grã-Bretanha, mas cheia de atrações turísticas, apesar de ser mais conhecida dos britânicos do que de estrangeiros. Chama-se Isle of Wight, e contém castelos, abadias, igrejas medievais, pubs, belas vistas de seus mirantes, falésias por todo lado, e uma abundante produção agrícola. Sua localização no extremo sul do país, e a freqüente chuva que o mar traz o ano todo fazem da Ilha de Wight uma importante zona de produção agrícola do Reino Unido, principalmente de frutas.

Loja e café da Adgestone Vineyard

E entre as frutas, claro, estão as uvas viníferas. Existem duas vinícolas na ilha, e uma delas estava praticamente no nosso caminho, em direção ao nosso hotel, em Sandown. Algumas placas de trânsito indicaram o pequeno desvio morro acima, até a sede da Adgestone Vineyards, que conta com um café, uma lojinha, a adega, e a casa do proprietário.

A Adgestone Vineyards existe desde 1968, como gosta de frisar o proprietário, Russ Broughton. Porém não foi o vinhedo pioneiro na ilha, pois como ele também gosta de lembrar, os romanos cultivaram uvas por ali, 2000 anos atrás. Quando cheguei, no final da tarde, o café estava fechado, mas a loja ainda estava aberta, e o Sr. Broughton nos recebeu e apresentou os vinhos. Além de seus vinhos, ele vende produtos de pequenos produtores locais, como licores, geléias, chutneys, pimentas, etc.

Vinhedo de Regent, em frente ao estacionamento

Os vinhos

Como eu comentei no texto anterior, o clima da Inglaterra, mesmo na Isle of Wight, impõe um desafio à plena maturação das uvas. Portanto, as variedades cultivadas foram especialmente selecionadas dentre as mais resistentes a climas muito frios: cruzamentos criados em laboratório durante o século passado especificamente para este fim. Em várias delas, variedades híbridas, isto é, cruzamentos entre variedades viníferas e não-viníferas.

O primeiro vinho que nos mostrou era o Dry Wight 2015, um branco seco feito de uma uva chamada Seyval Blanc, uma variedade híbrida, que gera vinhos de boa acidez. De acordo com o proprietário, parte das vinhas que deram origem ao vinho é da época da fundação da vinícola, em 1968. É um vinho leve, de acidez abundante mas equilibrada, e aroma intenso, remetendo a frutas exóticas como maracujá, manga e mamão, além de um herbáceo de folha de tomate, lembrando um pouco a Sauvignon Blanc. Observe o trocadilho no nome do vinho: o nome da ilha (Wight) e branco em inglês (White) têm pronúncia idêntica.


O trocadilho também está no nome do segundo vinho Medium Wight 2015. Ele é feito a partir de Phoenix, Bacchus e Schönburger, três cruzamentos criados na Alemanha com objetivo de oferecer resistência ao frio. As duas últimas são variedades que tendem a fornecer alto teor de açúcar, e baixa acidez. Por essa razão, foram escolhidas para este vinho, de caráter semi-seco. Aroma modesto, lembrando melão e flores brancas, corpo também leve, e média acidez que equilibra bem a doçura.

O terceiro vinho é o Blush 2015, termo que costuma se referir a rosés mais pálidos. É produzido com uma variedade híbrida chamada Regent. Tinta, de casca grossa e polpa colorida, altamente resistente a climas frios. A uva vinificada como branco gerou este rosé pálido e elegante, com aromas de pomelo e frutas vermelhas. Apesar de semi-seco, possui sensação de doçura menor do que o Medium Wight, e boa acidez. Me pareceu um bom vinho de piscina, ou acompanhando petiscos de frutos do mar, no calor do verão.


E por fim, o tinto Full Bodied Red - que de encorpado só tem o nome - é feito de mais um híbrido criado na Alemanha - chamado Rondo - mas que foi cultivado comercialmente pela primeira vez na Tchecoslováquia (em 1964). Ele estagiou em tanques de inox com presença de traves de madeira, para lhe conferir um pouco de complexidade. Tem cor clara como um Gamay, e corpo leve, com taninos em pouca intensidade, porém rústicos, e sabor majoritariamente herbáceo. Na minha opinião, o mais fraco dos quatro.

No final, minha impressão é de que os brancos e o rosé até não eram de todo ruins. Eu cheguei a provar coisa bem pior, durante a viagem. Ainda assim, considerando seu preço - £10,49 - não acho que valham a pena. Mas, quando visito vinícolas que não cobram pela degustação, acabo me sentindo na obrigação de comprar alguma coisa. Por isso, acabei levando uma garrafa, que consumi posteriormente.

2 comentários:

  1. Obrigado por compartilhar a experiência, especialmente quanto aos detalhes geográficos do passeio. E também quanto às inusitadas variedades de uva, claro!

    Se eu retornar ao Reino Unido algum dia vou me lembrar dessa postagem.

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