Trockenbeerenauslese
Esta imensa palavra alemã, às vezes abreviada como TBA, significa "seleção de uvas secas" (passificadas), e corresponde ao topo de qualidade da classificação de vinhos da Alemanha [*]. Não é todos os anos que se consegue atingir as condições para se produzir um TBA. Em um país com verão curto e clima muito frio, a maturação das uvas define a escala de qualidade. Pela lógica alemã, quanto mais maduras, maior a concentração de açúcar, e como conseqüência, maior será a qualidade do vinho. Em um TBA, as uvas passificam no pé. Além disso, é comum que parte delas tenham sido atingidas pela 'podridão nobre', apesar de não ser obrigatório.Os poucos produtores que tentam produzi-lo - porque estão nas melhores terras, com melhor exposição ao sol - arriscam perder a produção com geadas de outono. Por isso, eles normalmente realizam diversas colheitas ao longo do período de maturação. Nas primeiras passagens, colhem os cachos que já estão maduros o suficiente para vinhos secos. E à medida que o outono avança, passam mais algumas vezes, a cada vez colhendo uvas mais sobremaduras, e portanto gerando vinhos com classificações maiores. Quanto mais tempo, maior o risco de uma geada pôr a perder o restante da colheita. E o que consegue atingir as condições necessárias para um TBA representa uma pequena parte da produção total. Portanto, somando-se o risco, o trabalho, a baixa produção e a qualidade do vinho final, são vinhos necessariamente mais caros.
Ortega
É uma variedade criada em laboratório, na Alemanha, em 1948. Resiste a climas frios melhor do que a Riesling, e por isso, além da Alemanha, pode ser encontrada em locais muito frios, como Inglaterra e Canadá. Tem aromas semelhantes à Moscatel, e gera vinhos com alto teor de açúcar. Em climas mais quentes, a acidez final é baixa, mas nos locais frios em que costuma ser cultivada, isso não é problema.Ludwig Wagner & Sohn é uma empresa familiar fundada no Século XVII. Além da produção de vinhos, oferecem um serviço de guest house para turistas. Hoje, Josef Wagner trabalha na produção, e sua esposa Regina é responsável pela comercialização. Em sua propriedade razoavelmente grande, de 10 hectares, cultivam diversas variedades de uvas - algo pouco comum na Alemanha. Mas apesar disso, a Ortega é uma das poucas que eles arriscam produzir os estilos mais caros Beerenauslese (BA) e TBA.
O Ortega TBA 2009 mostrou uma densidade licorosa ao ser vertido na taça, além da cor âmbar intensa. É um vinho aromático, onde se destacam damasco seco, mel e casca de laranja confitada. Não encontrei nenhum vestígio do aroma característico da Botrytis (podridão nobre). Sua intensidade segue na boca, com muita doçura (222 g/L, o dobro de um Porto, por exemplo) mas compensado por uma super acidez (7,9 g/l). O teor alcoólico, em compensação, é de apenas 10%. O final é longo, com bastante do damasco e da casca de laranja. Curiosamente, o final da garrafa apresentava um depósito, que na hora, supusemos que fosse açúcar residual depositado, algo que eu nunca tinha visto antes. A hipótese foi tomada como certa, portanto ninguém se deu ao trabalho de provar para se certificar, mas no dia seguinte, me ocorreu que pudesse se tratar apenas de bitartarato de potássio, mesmo.
Enfim, foi uma bela experiência de vinho. Porém, se o preço no site do produtor não estiver muito desatualizado, creio que a importadora costuma vendê-lo caro demais. Ela o vende por R$322 em sua loja física, e o produtor o anuncia por €7,70. Ainda bem que essa foi brinde.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sintam-se livres para comentar, criticar, ou fazer perguntas. É possível comentar anonimamente, com perfil do Google, ou com qualquer uma das formas disponíveis abaixo. Caso prefiram, podem enviar uma mensagem privada para sobrevinhoseafins@gmail.com.