3 de maio de 2016

Jackson-Triggs Vidal Icewine 2012

Desde que ouviu falar pela primeira vez do Icewine, o caro e raro vinho feito de uvas congeladas, Thais ficou com vontade de prová-lo. Quando um casal de amigos viajou aos Estados Unidos, ela logo encomendou uma garrafa. Afinal, o Canadá, ali do lado, é o maior produtor mundial deste tipo de vinho. A garrafa que nossos amigos trouxeram foi Jackson-Triggs Vidal Icewine 2012, produzido na Península de Niágara.


Icewine

Para quem não sabe, o Icewine é produzido com uvas que congelam no pé, e são colhidas e prensadas ainda congeladas (abaixo de -7ºC). Dessa forma, a maior parte da água, na forma de gelo, é descartada, o que faz com que o mosto remanescente seja hiper concentrado (em acidez, açúcares, substâncias aromáticas, etc). O resultado é um vinho denso muito doce e ao mesmo tempo com muita acidez. Por causa da eliminação da água, o rendimento é muito baixo, e por isso é sempre um vinho caro.

O Canadá é o maior produtor de Icewine do mundo. O inverno rigoroso do país é garantia de se obter uvas congeladas, todos os anos (pelo menos até hoje), um fator que outros grandes produtores de Icewine, como Alemanha e Áustria, não podem contar.

Imagem aérea do escarpamento, na altura de Grimsby, Ontário (fonte: Commons Wikimedia)

Península de Niágara

A Península de Niágara está localizada na área mais meridional do Canadá, no sul da Província de Ontario, na região dos Grandes Lagos. Ela corresponde à área espremida entre o Lago de Ontario (ao Norte) e o Lago Erie (ao sul). A leste, é delimitada pelo Rio Niágara, que corre entre um lago e outro, passando pelas famosas Cataratas no Niágara.

O Escarpamento de Niágara - uma formação geológica que se estende por praticamente toda a extensão dos Grandes Lagos - divide a Península em dois planos com uma diferença de altitude de 60 metros. O norte, às margens do Lago de Ontario, está a uma altitude mais baixa. A massa de água do lago armazena calor durante o verão, e o emana durante o outono. As paredes do escarpamento, por sua vez, contribuem segurando essa brisa com calor por mais tempo na planície. O resultado é que o clima é ligeiramente mais quente do que a parte mais alta, e com probabilidade muito menor de geadas no início do outono, permitindo uma extensão do período de maturação. Por essa razão, esta pequena faixa de terra entre o lago e o escarpamento é responsável pela maior parte da produção frutífera do Canadá, incluindo uvas viníferas. [*][**]

A Jackson-Triggs é uma marca criada em 1993, e leva os sobrenomes dos fundadores. A empresa tem a maior parte de sua produção na província de Columbia Britânica. Apenas em 2001 instalaram uma vinícola na Península do Niágara, incluindo uma área de plantio de 4,5 hectares, próximo à pequena cidade de Niagara-on-the-lake. Desde 2006, ela pertence à Constelation Brands, o mesmo grupo que possui as marcas de Robert Mondavi.

Uvas Vidal, na região de Niágara, Canadá (fonte: Commons Wikimedia)

Vidal

Uma descrição a respeito deste vinho não seria completa sem comentar sobre a variedade de uva utilizada na sua produção: Vidal. Ela é uma variedade híbrida, isto é, ela é resultado de cruzamentos de uvas viníferas com uvas de mesa. Foi criada em laboratório na França, na década de 1930, por Jean Louis Vidal. Por ser híbrida, hoje não é permitido seu uso para produção de vinhos na França, e por essa razão, ela praticamente se extinguiu no país de origem. Porém, foi levada ao Canadá, e sua resistência ao clima frio lhe permitiu ótima adaptação.

Nós tomamos o vinho na degustação com queijos, que organizei na Nossa Confraria. Ele tinha cor amarelo palha de média intensidade, brilhante, e muito viscoso. O aroma apresentava um perfil de frutas pouco usual, como nêspera e carambola, além de um toque de cera de abelha. Na boca, mostrava intensa doçura, escoltada por acidez igualmente intensa, muita untuosidade, e álcool discreto. Sua intensidade de sabor se mostrou perfeita para acompanhar queijos muito fortes.

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