23 de fevereiro de 2016

Château La Nerthe Rouge, AOC Châteauneuf-du-Pape

Um dos pontos positivos de fazer parte de uma confraria é de vez em quando podermos comprar um grande vinho, que seria caro demais para comprarmos sozinhos, mas que dividindo entre todos os confrades, a conta final não sai tão cara. Foi graças à confraria da ABS que pude provar um vinho de Châteauneuf-du-Pape, a apelação mais conceituada - e mais cara - do sul do vale do rio Rhône. O vinho que quero comentar é o Château La Nerthe Rouge 2011, que custa R$441,00 na Grand Cru.


Castelo novo do Papa

Châteauneuf-du-Pape é uma vila ao sul de Avignon, muito próxima ao rio Rhône, no sul da França. Seu nome atual faz referência ao Século XIV, quando Clemente V, ao ser nomeado Papa, transferiu a sede do Papado para Avignon. O Papa seguinte, João XXII construiu um castelo em Châteauneuf, mas nem ele nem os Papas seguintes nunca chegaram a residir nele.

Apesar de a produção de vinhos na área existir desde antes da chegada dos Papas à região, até o início do Século XX eram vinhos sem grande reputação, comparáveis aos vinhos das regiões vizinhas. Foi o Baron Pierre Le Roy de Boiseaumarie, dono de uma propriedade vinícola do local, que escreveu e promulgou uma série de regras para estabelecer uma produção focada em qualidade para toda a região, e eliminar fraudes. Estas regras inspiraram a criação dos sistema de Apelações de Origem Controladas da França; e em 1936, Châteauneuf-du-Pape esteve entre as primeiras a serem declaradas AOC pelo sistema francês.

A apelação Châteauneuf-du-Pape permite 18 variedades, entre tintas e brancas. Os vinhos são normalmente feitos em corte de algumas ou diversas variedades (alguns produtores usam todas as variedades - brancas e tintas - no mesmo vinho, o que é permitido pelas regras). Os tintos, normalmente, têm predominância de Grenache assim como ocorre na maioria do Rhône sul. São considerados vinhos para guarda, já que costumam ser muito tânicos na juventude.

Foto: Commons Wikimedia

La Nerthe

O Château La Nerthe é possivelmente a propriedade mais antiga de Châteauneuf-du-Pape. Documentos históricos de 1560 fazem referência a ela, porém atestando a existência desde o Século XII. Desde então, documentos posteriores atestam a presença de seus vinhos em diversas cortes pela Europa.

Seus 92 hectares de vinhedos cultivam todas as variedades permitidas na AOC, e são certificados com agricultura biológica (orgânica). O solo dos vinhedos são cobertos de seixos (chamados em francês de galets roulés). Estes cascalhos tem origem em rochas alpinas, despencaram ao vale, e foram arredondados ao longo de milênios pelas águas do rio, quando seu leito era muito mais largo que o atual. Estas pedras de cascalho retém calor, que emanam à noite, contribuindo para uma maior maturação das uvas.

O vinho que tomamos, o Château La Nerthe Rouge 2011, é o vinho base do Château, o de maior produção (200 mil garrafas), e o mais exportado. Não é feito a partir de todas as variedades permitidas, sendo composto de Grenache (47%), Syrah (29%), Mourvèdre (22%) e Cinsault (2%), de vinhas com idade média de 40 anos.

As uvas foram colhidas a mão, selecionadas na adega, e vinificadas juntas, parte em tanques de inox, e parte em tanques de madeira. Elas passaram primeiro por maceração pré-fermentativa de 12 a 24 horas, em baixa temperatura. Em seguida, a temperatura foi elevada para iniciar a fermentação, que durou 18 dias, por ação de leveduras indígenas. O vinho ainda realizou fermentação malolática, antes de ser colocado em barris (69%) e tonéis de carvalho (31%), para um estágio de 12 meses, antes do corte final e posterior engarrafamento. [ficha técnica].

O vinho tinha cor rubi de intensidade média. Logo ao ser servido, mostrou uma predominância de aromas do estágio em madeira, como chocolate amargo. Mas com o tempo, foi se abrindo, e ficando mais interessante, com toque floral, frutas vermelhas e negras (predominância de negras) e especiarias, como alcaçuz e baunilha. Na boca, mostrava corpo médio, elegante, com taninos de média intensidade e granularidade fina, além de boa acidez. Apesar disso, predominou um pouco o álcool, que esquentava a boca. O sabor era intenso, com bastante chocolate e notas tostadas, e uma persistência de média duração.

A conclusão a que chego é que foi um vinho complexo e interessante, porém tomei vinhos igualmente complexos que custam bem menos. Ainda bem que não precisei pagar sozinho pelos R$441 que custa uma garrafa.

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