26 de fevereiro de 2016

Rieslings e eisbein na Cantina Alemã


Eu já moro há algum tempo em Campinas, e nunca tinha ouvido falar que havia um restaurante tradicionalíssimo da cidade - aberto há 51 anos - dedicado exclusivamente à culinária alemã. Este mês, uma confrade da Nossa Confraria sugeriu que fizéssemos lá um encontro extra, e assim fomos. Ele se localiza em um estabelecimento de fachada discreta, de estilo retrô, na Rua Luzitana, nº 981.

Fomos atendidos pelo Vinícius, que de acordo com as próprias palavras, está no limbo: não é funcionário, nem dono. Ele é filho do dono, e nos contou a história do lugar. A Cantina foi aberta por uma senhora casada com um alemão, em 1964. O pai do Vinícius, Sr. Luiz, trabalhou como garçom no restaurante por vários anos, e saiu para montar seu próprio negócio, que deu muito certo. No meio dos anos 1980, ela resolveu se mudar para a Alemanha - já que seus filhos já moravam lá - e portanto procurou alguém para continuar o negócio. O pai topou e comprou dela o restaurante; e assim, desde 1986, pai e filho passaram a tocar o negócio, mantendo a mesma decoração e o cardápio que o restaurante já mantinha desde a abertura.


Couvert

Nossa seleção de vinhos para a noite constou majoritariamente de espumantes e brancos, incluindo 2 Rieslings, opções óbvias para harmonizar com pratos à base de porco, que predominam na culinária alemã. Para completar, para cobrir qualquer possibilidade, levamos também um tinto.

O tradicional couvert do restaurante - composto de pepinos em conserva, fatias de lombo apimentado e com ervas, patê de vitela, manteiga e pão preto - foram acompanhados de dois espumantes. O primeiro foi o Palacios Reales Brut Nature (eu já comentei a respeito da versão Brut aqui, e este é muito parecido, nem me pareceu mais seco). E o segundo foi o fantástico Adolfo Lona Brut Rosé, que já comentei aqui.


Müller-Thurgau

Enquanto esperávamos o prato principal, ainda deu tempo de bebericar o Black Tower Rivaner 2014, vinho alemão semi-seco, com apenas 9,5% de álcool. Ele vem em um garrafa bicolor, com base transparente, e topo preto, que chama a atenção. Quanto ao líquido, tinha cor amarelo palha, aroma de boa intensidade, entre o floral e o frutado, e sabor com alguma doçura, mas equilibrado pela acidez, sem ser enjoativo. Uma curiosidade é a variedade de uva, chamada Rivaner, que eu não conhecia. Uma pesquisa rápida, e descobri que se tratava de um sinônimo da Müller-Thurgau. Ah, agora sim, né? Não? Você pode nunca ter ouvido falar do nome, mas já deve ter tomado vinho com ela. Ou nunca tomou o infame Liebfraumilch?

Bem, a Müller-Thurgau é uma variedade produtiva, dentre as poucas que suportam o clima frio da Alemanha, e geralmente resulta em vinhos leves feitos para serem bebidos jovens. Mas isso não significa que ela seja a culpada pela baixa qualidade dos Liebfraumilch. Esses eram (creio que ainda são) vinhos mal-feitos.


knock-out

O pedido da maioria foi o carro-chefe da casa, o schlachtplatte: uma travessa com duas lingüiças - uma branca e outra vermelha - uma bisteca de porco (kassler, em alemão), e o famoso eisbein (joelho de porco cozido), além de batatas (assadas ou cozidas) e chucrute, de acompanhamento. Este prato serve 3, portanto, pedimos 2 dele, além de um bolo de carne (não me lembro do nome em alemão), acompanhado de maionese de batatas.


Quando chegaram os pratos, abrimos os Rieslings. De um lado, o Vistamar Sepia Riesling Reserva 2014, produzido no Vale de Casablanca, Chile. Era um vinho mais simples, de cor amarelo-palha clarinho, aroma predominantemente floral somado de frutas tropicais, corpo leve e acidez discreta. Do outro, um peso-pesado alemão chamado Fritz Haag Brauneberger Juffer Riesling Trocken 2011. A Fritz Haag é uma vinícola familiar da Alemanha, e associada à VDP, uma associação dos melhores produtores do país, que impõe regras de qualidade mais estritas que a legislação do país (já comentei a respeito dela, aqui).

Eu já havia comentado a respeito de outro vinho da Fritz Haag há dois anos (aqui). Na época, era um entrada de gama, um Riesling básico, e já era muito bom. Este é um vinho de categoria superior, que leva o nome do vinhedo de origem, Brauneberger Juffer. É um exemplar mais concentrado, algo que se percebe desde a cor mais intensa, até a estrutura em boca. Ele tem também um caráter mais maduro que os Rieslings mais básicos, com aromas que remetem a mel, flor de amêndoas e frutas tropicais, como abacaxi e nêspera, mas sem perder o característico petrolato e a excelente acidez dos Rieslings alemães. O alemão venceu o chileno por nocaute.


Para quem é de tinto

... tínhamos também um tinto: Luccarelli Primitivo di Puglia 2014. De cor rubi intensa, aroma de frutas negras e toque de chocolate amargo, equilibrado, corpo médio, taninos macios; enfim, correto e agradável. Eu só o provei após terminar de comer, mas alguns confrades acompanharam tanto o bolo de carne quanto as carnes de porco, e ele se saiu bem.

E para fechar a fatura, ainda deu tempo das meninas pedirem sobremesas: o clássico apfelstrudel, e a sweet pie, que é semelhante a uma torta holandesa.

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