10 de setembro de 2017

RE Velado 2012


Este vinho nasceu por acaso, fruto de um terremoto de grandes proporções que atingiu o Chile em fevereiro de 2010. Esse terremoto ceifou centenas de vidas e causou milhões de dólares de prejuízos materiais. A indústria vinícola também foi severamente afetada - com adegas colapsadas, tanques e barris danificados, muitos produtores perderam grandes volumes da sua produção. A estimativa oficial de perda foi de um total de 150 milhões de litros de vinho [*].

Nas Bodegas RE, uma barrica em específico rachou, causando o vazamento de parte do vinho, e permitindo a entrada de ar. Ela continha um Pinot Noir rosado, que seria usado no blend Chardonnoir. Esta seria mais uma vítima do terremoto... no entanto, dentro do barril se formou uma camada de leveduras sobre o vinho. Essa camada é típica dos vinhos Finos de Jerez: ela o protege da oxidação, e lhe atribui características ímpares e especiais. Quando o provaram, perceberam exatamente que o vinho estava em perfeitas condições, e decidiram engarrafá-lo.

Em espanhol, essa camada de leveduras é chamada de velo, e por isso, ele foi batizado de RE Velado. Hoje ele é um dos ícones das Bodegas RE, e foi reproduzido, sem terremoto. O RE Velado 2012 é a segunda versão deste vinho, e seguiu a mesma receita: Pinot Noir vinificado como um rosado bem claro, foi colocado em barris meio cheios, para permitir a formação do velo.

Ele tem uma cor pele de pêssego - entre o rosado e o alaranjado - e bem brilhante. No aroma, muita complexidade: tangerina, pêssego, damasco seco, pimenta branca, flores, chá verde, avelãs e nozes. As notas de frutos secos se intensificam com o tempo, à medida em que o vinho respira e esquenta um pouco, tornando-o ainda melhor. Na boca, é seco, encorpado, com muito volume de boca, alguma untuosidade, uma incrível acidez, leve salinidade, álcool discreto, e uma longa persistência, predominada pelas notas cítricas e de frutos secos.


Ele foi apreciado ao lado de um robalo em crosta crocante ao molho a base de creme de leite, vinho branco e caviar. Um prato digno da complexidade deste vinho!

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