11 de janeiro de 2017

Manzanilla Fina Orleans Borbón

Jerez com origem que remete à família real francesa


Dando uma olhada na adega do supermercado Verdemar em Belo Horizonte, fiquei surpreso por encontrar um vinho de Jerez: é a primeira vez que vejo um em supermercados no Brasil. Creio que, por serem peculiares e pouco conhecidos, não são muito populares nesse ramo de distribuição. O que comprei foi a Manzanilla Fina Orleans Borbón - Pago Balbaina, que vinha em meia-garrafa (375mL), por R$40. Diga-se de passagem, um preço convidativo para este tipo de vinho.



A Manzanilla (ou Manzanilla Fina) é um Jerez ao estilo Fino - vinho branco fortificado, muito seco, e envelhecido em um sistema de criaderas sob uma camada de leveduras chamada de flor, que lhe dá os aromas e sabores característicos - só que com a distinção de ser produzido especificamente nos arredores do município de Sanlúcar de Barrameda, no litoral da Andaluzia. Teoricamente, além das características esperadas de um Jerez Fino, as Manzanillas recebem uma denominação própria porque teoricamente são mais salinos, já que a região se encontra ainda mais próxima ao mar.

Origem real

Essa que comprei foi produzida pela Bodega Infantes Orleans Borbón, uma casa localizada no município de Sanlúcar de Barrameda, e que remete ao reinado francês. Ela tem origem em Antonio de Orleans, Duque de Montpensier, e filho de Luis Felipe 1, último rei francês, deposto em 1848. O Duque se casou com a Infanta Maria Luisa Fernanda de Borbón, pertencente à família real espanhola.

Quando da deposição de seu pai, o Duque exilou-se na Espanha, terra da esposa. Em 1849, visitou a região de Sanlúcar, e decidiu construir ali um palácio de verão. Na mesma época, plantou algumas vinhas, que apenas arrendava a um produtor local. Foram seus netos, já no ano de 1943, que decidiram entrar no ramo de vinhos de Jerez, e converteram o palácio em uma bodega, usando os estábulos adaptados como adega.

Pagos de Jerez

O rótulo da garrafa traz uma informação que, para mim, foi novidade. Ele traz a especificação Pago Balbaína, um conceito que eu ainda não tinha lido associado a Jerez. Pago, no sentido mais genérico, é uma porção de terra com características homogêneas, tanto morfológicas (composição do terreno), quanto geográficas (clima e topografia), e que pode estar dividido em várias vinhas [*][**]. Seria a tradução ao espanhol do conceito de micro-terroir, ou seja, a identificação de pequenas parcelas distintas dentro de uma área maior que é definida pela Denominação de Origem.

Este conceito, aparentemente, já foi mais explorado em Jerez, porém com o tempo - e o aumento de escala de produção das principais empresas locais - foi sendo deixado de lado, e as uvas de diferentes pagos acabam 'misturadas' em uma mesma criadera. Mas, aparentemente, no caso da Bodega Orleans Borbón, resolveram engarrafar esse vinho como sendo de um único pago, chamado Balbaina. Este pago se localiza a meio caminho em direção ao município de Puerto de Santa Maria, bem próximo ao litoral, e um dos que mais recebe a influência da brisa atlântica, o que resulta em vinhos mais delicados e elegantes.


O vinho

A Manzanilla Orleans Borbón tem a cor característica, amarelo-palha de baixa intensidade. O aroma remete à crianza biológica, com notas de fermento e também de maçãs vermelhas. Na boca, é leve, e apesar da acidez mediana, não sobra álcool. Um vinho bem legal para quem curte um Jerez, e com um preço atrativo.

Leituras complementares

A respeito da bodega

A respeito dos pagos de Jerez

3 comentários:

  1. Olá, Rodrigo.
    Assim como você (só que num grau bem menor), sou um curioso, e acredito que um vinho se torna muito mais interessante quando se conhece sua história, produtores, geografia....essa é a graça do vinho (e, para mim, tbm de qualquer bebida ou alimento).
    Não conhecia o seu blog. Ontem, no mesmo Verdemar, comprei o Manzanilla Fina (Orleans), meio que na sorte. Suas características me chamaram tanta a atenção que, na mesma hora, fui pesquisar. O primeiro (e único, até agora) site que visitei foi o seu. E que achado. Avaliações e explicações profundas, mas curtas. Consistentes, mas nem um pouco maçantes. De leitura fácil, instrutiva e agradável.
    Parabéns! Com certeza, será uma das minhas referências!
    Forte abraço e sucesso.

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    1. Olá Guilherme, obrigado! É exatamente o que eu busco em meus textos: que sejam informativos, e agradáveis de ler. Por isso mensagens como a sua me deixam motivado a seguir em frente.
      Abraço!

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  2. Esse vinho é mesmo excelente. Comprei algumas garrafas no Verdemar e, de vez em quando, sirvo para algum amigo. Vale a pena ver a cara de surpresa de quem o experimenta! :)

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