25 de abril de 2016

Godello Luna Beberide 2013

A Espanha é o terceiro maior produtor de vinhos do mundo, e os vinhos brancos correspondem a pouco mais de 40% da produção [*]. Porém, apesar de sua extensa produção, quando enumeramos as principais regiões e tipicidade, são muito poucos os exemplos de vinhos brancos espanhóis que se destacam, em termos de qualidade e reconhecimento. Tirando-se uma ou outra exceção, os bons brancos espanhóis se resumem a três tipos:
  • os Albariños produzidos em Rías Baixas;
  • os vinhos de Rueda, feitos à base de Verdejo;
  • alguns brancos Reservas e Gran Reservas de Rioja, feitos à base de Viura.
Recentemente, os vinhos da uva Godello têm ganhado atenção de críticos, e vem mostrando que pode vir a ser uma opção a mais dentro dos grandes vinhos brancos espanhóis.


Godello

De acordo com o livro Wine Grapes, a Godello é provavelmente originária do vale do Rio Síl, entre Valdeorras (Galícia) e Bierzo, duas Denominações de Origem do noroeste da Espanha. A variedade chegou à beira da extinção em sua região de origem na década de 1970, quando foi salva graças a um movimento de vinhateiros de Valdeorras para reabilitar os vinhedos locais. Desde então, ela tem aumentado sua área de plantio, e seus vinhos têm recebido elogios da crítica internacional.

A Godello não se dá bem no calor tórrido da Espanha continental, e por isso, seu plantio é restrito ao noroeste do país, que corresponde à Galícia e a Bierzo. Dentro da divisões administrativas espanholas, Valdeorras faz parte da Galícia, mas Bierzo, não. Porém, o clima desta DO é mais parecido com o de Valdeorras do que com o restante da região de que faz parte. O clima é marcado pela influência do Oceano Atlântico, que implica em verões amenos, e muita precipitação anual. Por outro lado, a Godello também não é adepta ao excesso de umidade, e por isso ela se dá melhor nas áreas mais afastadas do mar, no limite da influência atlântica, exatamente à área que corresponde às DOs Valdeorras e Bierzo.

A título de curiosidade, estudos de DNA concluíram que a Godello é idêntica à casta conhecida em Portugal por Gouveio [*]. Portugal possui uma área de plantio de Gouveio/Godello maior do que a da Espanha, distribuída por todo o país. Porém, em Portugal ela é quase sempre usada em cortes, isto é, misturada a outras variedades. Ela contribui com altos níveis de álcool e acidez, gerando vinhos aptos para guarda.


Luna Beberide

Ainda são poucos os vinhos espanhóis feitos com esta variedade. O único que encontrei no Brasil foi o Godello Luna Beberide 2013, produzido em Bierzo, e vendido na Wine.com.br. No final do ano passado, comprei uma garrafa para experimentar, e a levei em uma reunião da Nossa Confraria do ano passado, cujo tema era bem apropriadamente tapas e vinhos espanhóis.

A bodega Luna Beneride foi criada por Alejandro Luna, em 1986. As uvas utilizadas neste vinho vêm de vinhedos antigos da região, de 60 anos ou mais, plantados em altitudes de 400 a 750 metros, que foram recuperados pela vinícola. Ele não passa por madeira, mas permanece sobre as borras por 6 meses em tanques de inox, para adquirir corpo e complexidade.

Na reunião da confraria, logo que abri o vinho, me decepcionei um pouco, pois estava muito fechado e alcoólico. Mas este é daqueles vinhos que precisam de uma aeração antes de serem apreciados; e também não deve ser servido gelado, pois quando gelado, a acidez some. Na ocasião, tirei-o do balde de gelo, e deixei-o lá. Quando voltei nele mais tarde, ela outro vinho, muito mais expressivo, e sem o álcool sobrando do início. Achei-o tão complexo, que resolvi comprar outra garrafa, para tomar em casa, e apreciá-lo com mais calma.

Na temperatura correta (acima de 12ºC, na minha opinião), ele mostra bom corpo, com álcool e acidez em equilíbrio. Desta vez em casa, utilizei o aerador para ver se acelerava um pouco as coisas. Ajudou, mas não resolveu. Ele precisava mesmo era de tempo, no decanter. No início, estava discreto, algo floral e de frutas maduras. Com o tempo, foi ganhando intensidade, e notas de mel se somaram ao conjunto. No dia, tomei apenas metade da garrafa; e no dia seguinte, o vinho estava ainda mais expressivo e gostoso. Aos aromas do dia anterior se somaram cera e ervas aromáticas, principalmente sálvia. Pelo que o vinho proporciona, o valor de R$68 que paguei (em promoção), valeu muito a pena.

2 comentários:

  1. Olá, bom dia!
    Atenção para a correção.
    Essa importação é da World Wine e não da Wine!

    :)

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    Respostas
    1. Olá, obrigado pela informação.
      De qualquer maneira, a Wine também vende este vinho, e foi com eles que comprei.

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