13 de maio de 2014

Nemea em três altitudes


Nemea é a região mais importante da Grécia no que se refere a vinhos tintos. Localizada a nordeste da península do Peloponeso (ao sul do país, próxima a Atenas), os vinhos que recebem a Denominação de Origem são produzidos exclusivamente com a uva Agiorgitiko. A uva e a região são amalgamados, já que a uva é nativa dali, é a única permitida na Denominação de Origem, e a D.O. é a única que recomenda o seu uso.

Mapa editado sob licença da Commons Wikimedia

Agiorgitiko é uma variedade que suporta bem o calor mediterrâneo, gera vinhos de aromas marcadamente frutados, corpo médio, e pode render taninos e acidez tanto altos quanto baixos, dependendo das condições de cultivo. Por isso, os estilos de vinho podem variar muito, de leves e ligeiros, a vinhos de guarda, dependendo da altitude de plantio. Basicamente, pode-se dividir a região em três zonas, em função da altitude. E cada uma delas gera uvas destinadas a um vinho de estilo diferente.

A região mais plana, mais próxima à cidade de Nemea, tem altitudes de 250 a 350 metros. Nesta área, as temperaturas são mais altas, comprometendo os níveis de acidez. Por conseqüência, elas são normalmente usadas para os vinhos mais simples. Às vezes também são usadas para vinhos semi-secos, ou fermentados com maceração carbônica.

A segunda região se localiza a oeste, com vinhedos plantados entre 400m e 600m acima do nível do mar. E a terceira, a norte, aos pés do monte Kyllini, os vinhedos podem chegar a 900m de altitude. E quanto mais alto, melhor é a qualidade da uva obtida, resultando em vinhos mais longevos.

Nemea na prática

Nas remessas de fevereiro e março, a Winelands entregou três vinhos de Nemea, do mesmo produtor, permitindo verificar na prática os três terroirs da região. Todos feitos com a mesma variedade, sempre colhida a mão, mas cada um proveniente de uma altitude diferente. Os três têm corpo médio, intensidade de cor média, e a mesma graduação alcoólica (13,5%). A principal diferença é a acidez, e conseqüentemente, a capacidade de envelhecimento.


Primeiro, chegou o Cavino Agiorgitiko 2011. É proveniente de vinhedos entre 300 e 500m de altitude, e após a fermentação, estagiou em tanques de inox, por 6 meses. Ou seja, teoricamente, sem passagem por madeira. Mas é possível perceber chocolate e anis no retrogosto. Por isso, aproveitei a presença da Cavino na Expovinis, e perguntei ao enólogo, Stelios Tsiris, se havia uso de pastilhas. Ele confirmou um uso bem comedido de pastilhas, apenas para incrementar um pouco a complexidade dos aromas. De qualquer maneira, privilegia a fruta, que aparece em primeiro plano, e a acidez deu conta de equilibrar o álcool, mas já era possível perceber que estava decaindo, e deveria ser consumido o mais rápido possível (não, não me refiro a entornar a garrafa de uma vez).


No mês seguinte, vieram os outros dois. O Nemea Reserve 2009 foi feito de uvas provenientes de vinhedos das áreas sub-montanhosas, entre 400 e 600m de altitude; estagiou 14 meses em barricas, quando ocorreu fermentação malolática, e ainda ficou mais 12 meses em garrafa antes de ser comercializado. Um vinho com corpo equivalente ao primeiro, acidez melhor, aromas de frutas vermelhas, os tostados da madeira eram mais evidentes, mas ainda muito bem integrados, sem sobrecarregar. Devido à melhor acidez, é um vinho que agüenta um pouco mais de guarda. Tanto que tem 5 anos (dois a mais que o primeiro), e está muito bom.


O Nemea Grande Reserve 2008, por sua vez, vem de vinhedos plantados entre 650 e 900m, e passa 18 meses em barricas e mais 12 em garrafa. E com todo este tempo de espera, ele ainda deve evoluir por mais dois anos, quando atingirá seu pico. Por isso, para tomá-lo agora, é recomendável uma boa aeração, de pelo menos meia hora (deixei uma hora). Tem acidez excelente, taninos muito redondos, o aroma é ligeiramente mais complexo, aparecendo notas balsâmicas interessantes, e a influência da barrica me pareceu mais sutil neste do que no segundo vinho, com um discreto chocolate amargo.

Todos os vinhos são muito gostosos, mas o terceiro vinho é definitivamente o melhor. E o Fernando me falou que vai importar mais dele, então podem esperar, que deve chegar mais ainda este ano.

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