23 de junho de 2013

Sociedade da Mesa - 1º semestre 2013

No início do ano, postei minhas impressões sobre vinhos da Sociedade da Mesa, fazendo um balanço do que havia recebido do clube até então. Passados mais 6 meses, e já que estou avaliando dois clubes, achei interessante publicar logo sobre os vinhos deste primeiro semestre, analisando a qualidade daqueles que optei por receber.


Recomendo

  • Nomad Fetească Neagră 2009, da Romênia. Este vinho chegou em dezembro de 2012, e não havia dado tempo de prová-lo antes de publicar a retrospectiva anterior. Ele tem as curiosidades de ser feito a partir de uma casta autóctone da Romênia (Fetească Neagră), e de ser envelhecido em carvalho romeno. Do ponto de vista organoléptico, ele tem corpo mediano, com álcool sobrando um pouco, mas com aroma elegante, com predominância de tostado e chocolate, e um fundo de frutas negras maduras, discreto. É um vinho atípico, na origem, e no sabor. Recomendo decantá-lo.
  • Otazu Reserva 2005, da denominação de origem Navarra, Espanha. O clube prometeu que o vinho deve melhorar ao longo dos próximos 3 anos. Mas passado um ano, abri uma garrafa para ver se é verdade. O aroma tem tudo o que se poderia querer: frutas vermelhas e negras, folhas secas, especiarias, tostado, baunilha. Já os taninos estão mesmo um pouco duros, e podem amaciar com um pouco mais de tempo de adega. Escolhendo-o para acompanhar uma maminha assada, ou um cordeiro, desce bem.
  • Gauthey-Cadet & Fils 2011: da AOP Bourgogne Passe-Tout-Grains, França, com 2/3 de Gamay e 1/3 de Pinot Noir, 12,5% de teor alcoólico, sem passagem por madeira. É leve, para ser consumido jovem, mas não se resume àquela frutinha vermelha fresca. Quando eu vi Gamay no corte, fiquei preocupado de ser um vinho demasiado simples, mas não é o caso. Tem bastante aroma de fruta, com certeza, mas também muita pimenta, e um pouco de folhas secas. É tão fácil de beber, que as 4 primeiras garrafas se foram em duas semanas. Aí pedi mais duas, e já se foram, também.
  • Pionero Maccerato 2011: D.O. Rías Baixas, na Galícia, produzido pela Viña Almirante. Este vinho, apesar de branco, passou por maceração pré-fermentativa, isto é, ficou 8 horas em contato com as cascas, antes de fermentar. Eu já havia lido a respeito dele, e já tinha o interesse de prová-lo, então foi com bastante satisfação que recebi o anúncio da remessa de maio. Foi degustado em uma noite fria, junto de um bacalhau com natas servido em mini pão italiano, e a garrafa foi embora em um instante. Encorpado e estruturado, com aromas intensos e acidez destacada. Pretendo encomendar mais dele.

Não recomendo

  • Casa Vasari 2010: da região de Valdichiana, na Toscana. A revista do clube falava de um vinho "com aromas melados, fácil, com estrutura polida, nada agressiva". Pois não foi o que encontrei na taça. O que senti foram exatamente taninos verdes, associados a um aroma vegetal que remetia a tronco de árvore recém-cortada, e a um amargor de remédio, como AAS. Nem decantando por algumas horas, o vinho amaciou. Mas guardei a garrafa, e o provei novamente no dia seguinte, acompanhado de rabada: rabo de boi cozido com mandioca. Deu certo: o prato anulou os taninos verdes e o aroma de tronco de árvore, deixando o vinho mais redondo e permitiu sentir o sutil aroma de frutas frescas. Vou guardar por um ano para ver se fica melhor, ou abro pra tomar com a próxima rabada: o que vier primeiro.
  • Menciño 2011: D.O. Valdeorras, da Galícia. A uva Mencía é uma das mais características da região de Valdeorras, mas testes de DNA provaram que é exatamente a mesma casta que em Portugal é conhecida por Jaen. No entanto, o tratamento que dão à uva em um e outro lugar são completamente diferentes. Em Portugal, é associada a vinhos com amadurecimento em barrica, e bom potencial de guarda. Já na Galícia, a julgar por este vinho pelo menos, é usada em vinhos frescos, sem complexidade, bom para fazer sangria, ou para cozinhar. Foi o que eu fiz: uma sangria com uma garrafa, e um coq au vin, com a outra. Sinceramente, eu teria suspendido a entrega, se viesse apenas este vinho, mas como ele veio junto do Pionero Maccerato, eu optei por recebê-lo.

Na expectativa

  • La Valona 2010: outro espanhol, da região de Castilla La Mancha, da Finca La Valona. Um corte onde predomina a Tempranillo, com partes menores de Syrah, Merlot e Malbec, e com estágio em madeira por 16 meses (o rótulo deixa bem claro), o vinho promete. Assim como no caso do Otazu, o clube diz que vem de uma excelente negociação, e por isso conseguiram fazer um vinho que valeria muito mais sair por R$46,50. Na primeira vez, o vinho era mesmo especial, então estou com alta expectativa quanto a este. Deve chegar apenas no final de julho/2013.

4 comentários:

  1. La Valona 2010:
    Aproveitei a noite passada, que foi um pouco mais fresca, e abri uma garrafa para provar. Deixei o vinho respirar por 40 minutos, conforme recomendação do clube.
    Identifiquei um vinho parrudo, encorpado, com muita matéria corante, retinto, denso, bombadão. Os taninos são bem pronunciados, porém agradáveis. O álcool esquenta um pouco a boca, mas o vinho tem estrutura para comportá-lo.
    Identifiquei aroma de pimenta do reino, seguido de café e chocolate, ou seja, bastante influência da madeira. Mas o vinho se abriu com o tempo, mostrando nuances de cereja e ameixa seca.
    Em suma, é o tipo de vinho 'internacional', ou poderia-se até dizer 'parkerizado', muito intenso, muito álcool, muita madeira. Mas fica melhor com o tempo, à medida em que vai se abrindo, mostrando-se mais interessante, porém sem perder a força. Diferente do recomendado pelo clube, acho melhor passar pelo menos uma hora no decanter, ou guardá-lo por um ou dois anos.

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    1. Eu tinha uma garrafa do Casa Vasari guardada na minha adega, e resolvi abri-la agora, mais de um ano depois que o provei pela primeira vez.

      Aromas: de início, jabuticaba, um toque iodado. Em um segundo momento, o café toma conta. Pra dar mais um nó na cabeça, com mais algum tempo apareceu um gosto muito distinto de doce de banana.
      Os taninos estão bem mais macios, mas já começa a dar sinais de perda da acidez.
      É um vinho bem melhor que um ano atrás.

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  2. Olá Rodrigo
    Estou conhecendo seu blog agora. Muito legal.
    Estás de parabéns. Seus textos são muito bem-organizados e bem-escritos.
    Gostei bastante deste post sobre os vinhos da SM
    Um abraço e saúde
    Tiago Bulla
    www.universodosvinhos.com

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    1. Obrigado, Tiago.

      Achei muito pertinente a discussão que você levantou no seu blog.
      Acho que ainda falta mais gente comentando sobre as próprias experiências com os clubes de vinhos. 'Aquele' clube do seu texto fornece um espaço no próprio site, o que é muito legal da parte deles, mas outros clubes não têm isso.
      Por outro lado, não encontro muitos blogs descrevendo as próprias opiniões sobre os vinhos destes clubes. Uma exceção é o Winelands, de quem já vi relatos de diferentes blogueiros.
      Espero que o seu texto ajude a arrancar de algumas pessoas quais são suas experiências e opiniões sobre o assunto.

      Um abraço,
      Rodrigo

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