28 de abril de 2013

Vinho e Sabores da Beira Interior: tintos

No texto anterior, descrevi os vinhos brancos da Beira Interior, que provei na feira Vinho e Sabores de Portugal. No entanto, a região não se limita a brancos: pelo contrário, produz ainda mais tintos.

Os tintos compartilham as melhores características: boa acidez, aptidão gastronômica, e uso moderado da madeira. Percebe-se nos vinhos da região, que a madeira é normalmente usada para amadurecer o vinho, e não para dar gosto. As uvas mais utilizadas são a Touriga Nacional e Tinta Roriz, uvas muito presentes em todo o país. Todos os produtores trouxeram suas versões de tintos com estas uvas, em alguns casos com alguma outra casta.

Touriga Nacional e Tinta Roriz (Aragonês)

    Beyra Tinto 2011: Touriga Nacional, Tinta Roriz, Alfrocheiro, Jaen. Estágio exclusivamente em cubas de inox, por 1 ano. Fresco, jovem, mas com taninos muito duros. Foi o único tinto apresentado da marca Beyra. Por outro lado, seu stand mostrou uma gama de vinhos do Douro de marcas que também pertencem ao enólogo Rui Madeira. Mas estes descreverei em um outro texto.
    Quinta dos Termos 2009: Touriga Nacional, Tinta Roriz, Trincadeira, Jaen. Com curto estágio em barrica. Taninos bem presentes. No aroma, muita fruta e um toque da madeira.
    Alpedrinha tinto 2009, a entrada de gama da Adega do Fundão: Touriga Nacional, Trincadeira e Tinta Roriz. Passa 6 meses em barrica, e depois mais 6 meses em garrafa. Apresenta muita fruta vermelha, e um toque balsâmico. O álcool se sobressai um pouco.
    DoisPontoCinco Reserva 2009: Touriga Nacional (60%) e Tinta Roriz. Estagiou 9 meses em barrica de carvalho. Mostrou aroma de frutas vermelhas, mas também um fundo mentolado, que deve ocorrer apenas após algum tempo de decantação. Em Portugal, custa €7,50.


    Fundanus Prestige 2008: também da Adega do Fundão. Jaen e Aragonês (quer dizer, Tinta Roriz). Passa 1 ano em barrica, e 1 ano em garrafa. Percebe-se uma influência maior da madeira. Além disso, uma intensidade menor de aromas frutados, dando lugar a especiarias.
    Quinta dos Currais Reserva 2010: Touriga Nacional (60%), Tinta Roriz e Castelão, com 12 meses de barrica de 1° e 2° usos. Resultou em um vinho com muito volume de boca, taninos aveludados. Aroma intenso de especiarias, e também de frutas vermelhas. Nem parece que tem 14,5% de álcool. Deve chegar ao mercado por menos de R$70,00, de acordo com a proprietária, Catarina.



Outras uvas

Alguns produtores trouxeram também vinhos baseados em outras castas. A Adega do Fundão, dentre 5 tintos, trouxe dois com base na Trincadeira, e mais um em que a esta divide espaço com a Rufete. Aliás, Rufete é uma variedade icônica da região. Muito elegante, é comparada à Pinot Noir. Ela também esteve presente em forma varietal, trazida pela Quinta dos Termos. E por falar em Quinta dos Termos, eles ainda apresentaram um corte muito inusitado de Vinhão com Petit Verdot e Tinto Cão, que deu certo.
    Cova da Beira 2011: da Adega do Fundão. Trincadeira, Rufete, Bastardo. Sem estágio em madeira, mas passa 6 meses em garrafa antes de ser colocado no mercado. Possui aroma de frutas doces, em compota. Mas no paladar, a acidez garante o equilíbrio.
    Praça Nova Garrafeira 2009: também da Adega do Fundão, feito de 100% Trincadeira. Passa 6 meses em barrica, e mais um ano em garrafa. Tem aroma de frutas menos doces que o anterior, e um toque de baunilha. A acidez é excelente, de forma que os 14% de álcool não se destacam.
    Praça Nova Reserva 2009: Adega do Fundão. Majoritariamente Trincadeira. Passa um ano em barrica, e mais um em garrafa. Parecido com o anterior, porém mostrando-se mais redondo, com taninos mais macios.
    Talhão da Serra 2009: da Quinta dos Termos. Varietal de Rufete, com 6 meses em barrica. Possui taninos macios, e aroma mais elegante, com um equilíbrio de frutas frescas e chocolate.
    Deslize (Quinta dos Termos) 2009: feito com Petit Verdot (o deslize), Tinto Cão, e um pouco de Vinhão. Possui muita acidez, taninos intensos, e aroma mais intenso de frutas. Apesar do 'deslize', é um D.O.C. Quero dizer, a Denominação de Origem permite a utilização da uva. É um vinho intenso, curioso, que me surpreendeu positivamente.

Conclusão

Os vinhos da região são ainda pouco conhecidos, mas têm por trás um longo histórico de produção. E tanto pela ação de cooperativas quanto pelo investimento e conhecimento trazidos por empresas e enólogos de outras regiões, os resultados em melhoria da qualidade e competitividade já podem ser vistos.

Todos vinhos têm boa acidez, e mesmo com 14% ou mais de álcool, este não incomodou. Os que passaram menos tempo em barrica costumam ter taninos intensos; algumas vezes muito intensos. Os aromas frutados estão sempre presentes, e normalmente não descambam para compotas; e a madeira também não foi exagerada em nenhum dos vinhos. Os preços tendem a ser muito competitivos em Portugal. Os que utilizam menos tempo em barrica costumam estar abaixo dos €5, enquanto os outros em geral estão abaixo dos €10. Agora resta torcer para que cheguem aqui com preços igualmente competitivos.

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