16 de abril de 2018

Mais um vinho chileno que foge do lugar-comum

Os vinhos chilenos são os mais importados do Brasil, e abarrotam as prateleiras dos supermercados com vinhos básicos, de qualidade constante; mas ao mesmo tempo sem personalidade, padronizados, aburridos. Normalmente se restringem a vinhos monovarietais, de Cabernet Sauvignon, Merlot, Carmenère, Syrah, Chardonnay ou Sauvignon Blanc; na grande maioria, são oriundos dos maiores produtores, e quase sempre das mesmas regiões do Vale Central: Maipo, Cachapoal ou Colchagua.

Mas o Chile produz muito mais do que isso: muitos sabores distintos, para todos os gostos. A 'expansão' da fronteira vinícola que vem ocorrendo desde o final do século passado nos tem trazido muitos vinhos interessantes, que fogem do estereótipo dos vinhos 'Coca-cola' do Vale Central. Eles têm sido direcionados principalmente ao mercado externo, e vários deles estão disponíveis nas nossas importadoras.

Eu tenho com alguma freqüência apresentado exemplos, como os vinhos 'fora-da-caixa' das Bodegas RE, um Carignan 'natureba' feito de um vinhedo silvestre, os Vignos do Maule, o Pais Salvaje, os Gewurztraminers do Vale de San Antonio, dentre outros.


Viognier no Limarí

Semana passada, abri o Dalbosco Reserva Viognier 2017, que recebi da Vinhosite. A Dalbosco é uma vinícola recente, fundada em 2008, em Punitaqui, região entre cordilheiras do Valle de Limarí. Localizado no norte do Chile, e não muito distante do deserto do Atacama, é um vale com muito pouca chuva, e muita insolação. Devido ao calor do verão, a região está mais associada à mineração e à produção do destilado Pisco, mas a partir do início do século os produtores têm se aventurado a produzir vinhos, e já têm chamado atenção.

A Viognier é uma variedade originária do norte do Rhône, na França; e de um total de 14 hectares plantados na década de 1960, ela renasceu, e hoje é cultivada em todo o mundo. Com grande estrutura e aromas intensos florais e melados, quando bem trabalhada ela gera vinhos fantásticos, mas em climas muito quentes, corre o risco de resultar em fermentados chatos e alcoólicos. Portanto, à primeira vista, podería-se pensar que o Vale do Limarí não seria tão apropriado para ela; mas a proximidade com os Andes fornece noites frias, que podem chegar a 1ºC mesmo no verão, e favorecem uma maturação bem lenta, com manutenção do frescor.

Este é o único vinho branco produzido pela vinícola. As uvas provém de um vinhedo chamado Las Lluvias, plantado em 1999, antes da aquisição pela empresa. São as primeiras uvas a serem colhidas, ainda no mês de março. Após uma seleção dos bagos e prensagem, o mosto permanece em contato com as cascas por 2 a 3 horas, para extrair mais aromas. Em seguida, o líquido é decantado, para a fermentação a baixas temperaturas (14ºC a 16ºC), com leveduras selecionadas. Terminada a fermentação, o vinho permanece por algumas semanas com a borra, para finalmente ser filtrado e engarrafado.

De cor amarelo verdeal de baixa intensidade, possui aroma intenso e complexo, com destaque para notas cítricas de limão, somadas a flores, frutas maduras, e notas meladas. Na boca, o frescor do cítrico envolve as notas de flor de amêndoas e frutas maduras, como mamão e pêssego. De corpo médio, com deliciosa acidez, e álcool (12,5%) muito discreto, tem sabor intenso, e de boa persistência. É desses vinhos que você abre, e quando se dá conta, a garrafa foi embora. Vale muito a pena.

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