11 de agosto de 2015

Graševina, ou as origens da Riesling Itálico


A Riesling Itálico é uma uva de relativa importância para a produção de espumantes nacionais. Utilizada por uma grande quantidade de produtores, entra no corte de diversos exemplares, contribuindo com sua acidez e perfil aromático discreto. Mas devaneios nacionalistas à parte, a participação do Brasil no cultivo total de Riesling Itálico no mundo é insignificante. Conhecida em inglês e alemão como Welschriesling, ela é muito cultivada na Europa Central. A Croácia é líder no cultivo, com quase 8 mil hectares. Áustria, Hungria e Eslovênia possuem quase 5 mil hectares de vinhedos, cada uma; e até mesmo Eslováquia e Republica Tcheca possuem extensões de cultivo significativas [*]. Só a título de comparação, a extensão de plantações de Riesling Itálico na Eslováquia (já ouviu falar de vinho da Eslováquia?) é maior que o total de vinhedos na Serra Gaúcha (somando todas as variedades viníferas e não viníferas) [*].


A mais croata das uvas

Italianos (e brasileiros) em geral acham que a Riesling Itálico é de origem italiana, por causa do seu nome em português (e italiano). Mas os croatas discordam. Eles a chamam de Graševina, e para eles, ela é originária de seu país. É a variedade mais cultivada, e ocupa quase um quarto dos vinhedos do país [*]. E independente da tradição, algumas teorias apontam que ela realmente deve ter origem croata. Ou seja, ela não é Riesling (não tem nenhum parentesco com a verdadeira Riesling), e provavelmente não é 'Itálica'! Com o nome tão inadequado, melhor que ela passasse a ser chamada pelo seu nome croata.

Na Croácia, como no restante da Europa Central, ela é muito utilizada para produzir vinho branco. Na maioria das vezes, vinhos semi-secos, de baixa qualidade, de produção artesanal, e consumo local. Dizem que também é possível ter vinhos brancos secos, simples mas agradáveis e de qualidade aceitável, mas a sua vocação está mesmo na produção de vinhos de sobremesa, como colheitas tardias, botrytizados ou de uvas congeladas (icewines).

Ela é uma uva de fácil adaptação, com excessivo vigor, e excelente acidez, mas pouco aroma e estrutura. E processos que fazem a uva perder o excesso de água, concentrando os açúcares e sabores, são muito benéficos para ela. Além disso, ela tem facilidade de ser atacada pelo fungo da botrytis. Na Áustria, gera vinhos Beerenauslese (colheita tardia) e Trockenbeerenauslese (uvas passificadas no pé) vendidos a preço de ouro líquido, e aclamados por grandes críticos. Na Eslovênia, é usada pela Pucklavec & Friends para produção de um Icewine super concentrado e fresco, parcialmente botrytizado.


Graševina colheita tardia


O motivo de falar sobre a origem desta uva é explicar o contexto que está por trás do Krauthaker Graševina Kasna Berba 2013. Ele é um vinho de sobremesa da Croácia, que foi vendido na categoria "Vinho Top do mês" de maio, do Clube de vinhos Winelands. Foi produzido pelo processo de colheita tardia (Kasna Berba, em croata) mas é um colheita tardia no mínimo diferente, fora do padrão de cor e aromas usual deste estilo.

De cor amarelo palha de intensidade média, o aroma traz lembrança de pêssegos em calda, flores de amêndoa, mel e o sutil mas inconfundível aroma de 'cera' típico dos Tokajis Aszú e Sauternes. Seguramente, uma pequena parte das uvas foi acometida pela famosa botrytis. Na boca, ele não tem a intensidade de outros vinhos de sobremesa. Possui doçura e acidez comedidas, num equilíbrio que o torna muito fácil de beber. Eu o levei ao restaurante L'Alouette, em Campinas, para acompanhar a sobremesa, em um jantar com alguns amigos. Rapidinho, a garrafa foi embora. Eu o tomei junto de uma orange au caramel, uma sobremesa feita de pedaços de laranja, uma calda de caramelo, lascas de casca de laranja cristalizada, e sorvete de creme. Ficaram perfeitos lado a lado, pois os dois eram pouco doces, e a sobremesa possuía um frescor da laranja que foi bem com o vinho.


Ele foi produzido pela vinícola Krauthaker, criada por Vlado Krauthaker em 1992. Ele ainda comanda a vinícola, que possui 32 hectares próprios, e mais 68ha arrendados, na região de Kutjevo, Eslavônia, no leste da Croácia. 65% dos vinhedos são plantados com Graševina, o que mostra como ele acredita na qualidade desta variedade. Ela tem real e incontestável potencial para vinhos de sobremesa, e alguns românticos vêm tentando provar que é possível também fazer bons vinhos de mesa.

Recomendações de leitura

Segue uma lista de recomendações de leitura, caso queiram conhecer um pouco mais sobre a variedade Graševina (apenas textos em inglês):

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