9 de julho de 2019

Hétfürtös Tokaji Aszú 6 Puttonyos 2000

A famosa podridão nobre é caprichosa. Esse fenômeno, que apodrece as uvas, mas "só um pouquinho" - o suficiente para furar as cascas, e assim permitir a perda de água, concentrando nas uvas acidez, açúcar e sabor - depende de condições bastante específicas e efêmeras. Ocorre em poucas regiões do mundo, e não ocorre todos os anos. Por isso, a intensidade desses vinhos pode variar bastante: de liquidozinhos insossos, aos melhores vinhos doces do mundo.

Nesse sentido, a classificação dos vinhos Tokaji Aszú é bastante objetiva e eficiente. A escala, de 3 a 6 puttonyos, tem origem na quantidade de baldes (os puttonyos) de capacidade de 25 Kg, contendo uvas botrytizadas colhidas a mão, bago a bago, que eram adicionadas a um barril de 136 litros, onde ocorreria a fermentação. Quanto mais baldes adicionados, maior o volume de uvas botrytizadas, e portanto, mais intenso. Hoje, o processo tradicional não é tão economicamente viável, e a classificação se baseia na quantidade de açúcar final do vinho.

Como não pode ser usado outro processo para a concentração de açúcar, e o teor alcoólico não varia muito, grosso modo, a concentração de açúcar final do vinho representa indiretamente a quantidade de uvas botrytizadas, e também a concentração de acidez e sabor. O fato de as categorias de 3 e 4 puttonyos terem sido descontinuadas só amenta a exclusividade desses vinhos. Por isso, a oportunidade de beber um Tokaji Aszú 6 puttonyos é uma ocasião memorável.


O Hétfürtös Tokaji Aszú 6 Puttonyos 2000 foi trazido da Hungria, e compartilhado por um confrade, em uma reunião de confraria. Demorei para achar informações a respeito do produtor, mas finalmente, as encontrei no site Food Perestroica.

Pelo que conta o autor, que visitou a vinícola, o vinho foi produzido por János Árvay e Kristián Sauska; e Hétfürtös significa 7 cachos, referindo-se ao fato de que só permitem no máximo 7 cachos por planta (não me pareceu pouco), de forma a controlar a produtividade, e alcançar maior concentração nas uvas. Os dois sócios se separaram em 2009, cada um seguiu com sua vinícola, e nenhum dos dois engarrafa mais vinhos com o nome Hétfürtös.

O vinho tinha uma cor muito brilhante (indicando acidez), de tonalidade acobreada/alaranjada, lembrando damasco seco. Tinha aroma intenso, que trazia o típico químico de vinhos botrytizados, somado a damasco seco, casca de laranja, mel, pêssego em calda, geléia de kinkan, physalis. O sabor era intenso, bem doce, mas com uma acidez ainda mais alta, deixando um final muito fresco e igualmente longo. É um vinho para se tomar bem lentamente, apreciando-se toda sua intensidade e deliciosa persistência.

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