31 de março de 2019

Clos Mogador 2005

Se hoje o Priorato é uma das regiões mais conceituadas da Espanha (se não a mais), é graças ao Clos Mogador, e ao seu produtor, René Barbier.


O Priorato deve seu nome - e o início da atividade vitivinícola - aos monges cartuxos que ali estabeleceram um monastério em 1194, e governaram a região. As encostas foram escarpadas em terraços tomados de vinhedos, até a chegada da filoxera, no final do Século XIX. Devido às condições severas de clima e solo, e ao isolamento geográfico, a maior parte da mão de obra foi para cidades grandes em busca de emprego, e muito poucos vinhedos foram replantados.

Assim, quando ganhou o status de Denominació d'Origen em 1954, o Priorato era uma região sem relevância, dominada por cooperativas, produzindo sobretudo vinho a granel. Mas René Barbier, catalão de origem francesa, visitou a região, e viu o potencial de vinhas velhas de Garnacha e Carignan, que tinham suas raízes entranhadas profundamente no solo pobre em matéria orgânica, composto fundamentalmente de ardósias negra e vermelha, chamado localmente de licorella.

Barbier, à época enólogo em Rioja, comprou um vinhedo no local em 1979, e convenceu 4 amigos a também investirem na região, dentre os quais Álvaro Palácios. Em 1989, dividindo as mesmas instalações vinícolas, os 5 produziram um vinho sob 5 rótulos diferentes: Clos Mogador, Clos Dofi, Clos Erasmus, Clos Martinet e Clos de l'Obac. Somente a partir de 1992, eles passaram a produzir seus vinhos de forma independente. Os vinhos ganharam notas altas de ninguém menos que Robert Parker, e daí em diante, rumaram para o estrelato, mesmo com preços altos.

O Clos Mogador 2005 é produzido exclusivamente de uvas de uma só propriedade, também chamada Clos Mogador, de 20 hectares de vinhedos em altitude média de 350m, entremeados por vegetação complementar, como árvores frutíferas, oliveiras e ervas aromáticas. O vinho é composto de 40% Garnacha e 15% Cariñena de vinhas velhas, além de 28% Cabernet Sauvignon e 17% Syrah de vinhas mais novas. O vinho estagiou por 20 meses em barricas européias, das quais 70% novas.

O vinho tinha cor rubi intensa, com lágrimas púrpuras, sem sinal da idade. O aroma trazia frutas negras maduras, especiarias (sobretudo alcaçuz, mas também algo de pimenta do reino), tostado, chocolate, mentol, bálsamo e um mineral lembrando uma pedra. Na boca, começa esquentando com os 14,5% de álcool, depois mostra o corpo quase mastigável, taninos intensos, mas finaliza com a bosca fresca, devido à grande acidez. O final é longo, ressaltando as notas tostadas e o mentol.


Tive a oportunidade de degustá-lo junto com o grupo de craques que compõem a primeira confraria de degustação da Sociedade Brasileira de Sommeliers, a convite de Bruno Vianna. O vinho, trazido direto do Priorato por um dos confrades, foi apreciado durante o jantar, ao final da degustação, no Bonelli. O prato que pedi foi um guisado de cordeiro com batatas, temperado com muitas ervas e pimenta-do-reino, preparado especialmente para o evento, e inspirado na culinária montanhesa da Catalunha; uma escolha certeira para o vinho.

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