26 de janeiro de 2019

Muscat de Saint Jean de Minervois

Procurar fontes diferentes, de vez em quando, é uma boa oportunidade de encontrar novidades interessantes. Uma dessas fontes fora do meu padrão é a Casa do Vinho Famiglia Martini, que convenientemente fica perto da casa dos meus pais, e eu sempre tento dar uma passada lá, quando vou a BH.

Dessa vez, um dos vinhos que me chamou a atenção foi o Vendanges d'Automne, produzido pela cooperativa Les Vignerons de Saint Jean. Trata-se de um vinho doce fortificado, feito a partir de uvas Moscatel Branca, ao redor da comuna de Saint Jean de Minervois; e por isso, ganha a denominação de origem Muscat de Saint Jean de Minervois.


Essa AOP, criada em 1948, possui apenas 200ha plantados, e a cooperativa local é responsável por 80% da produção, com o restante nas mãos de meia dúzia de produtores independentes [*]. Ela está no Languedoc, e recebe influência do clima Mediterrâneo, de verões relativamente quentes e secos; por outro lado, se localiza mais no interior, aos pés do Massif Centrale, que domina o centro da França, em altitudes entre 250 e 300m. Por isso, tem noites mais frescas, o que permite uma maturação mais lenta, conservando boa acidez. O solo é pobre, e composto de pedras brancas, que ajudam a refletir a luz às parreiras, durante o dia.

O Muscat de Saint Jean de Minervois é um vin doux naturel - um vinho doce fortificado - a partir da Moscatel Branca (Muscat blanc à petit grains). A uva deve ser colhida com no mínimo 252g/L de açúcar (o que lhe dá um potencial alcoólico de aproximadamente 14%). A fermentação é interrompida aproximadamente na metade, com a mutage: adição de álcool neutro, a 96%, até que o vinho atinja o teor desejado (mínimo de 15%). Como se utiliza uma aguardente com alto teor alcoólico, o líquido adicionado representa de 5 a 10% do total, diluindo menos o vinho.

Em geral, são vinhos jovens, com pouco envelhecimento, mantendo cor dourada e aromas mais frutados. Mas o Vendanges d'Automne é uma exceção. As uvas são deixadas secando no pé, e colhidas apenas no outono (daí o nome). As uvas secas resultam um rendimento de apenas 8hL/ha - muito baixo, em comparação com o limite máximo de 30hL/ha, permitido na AOP - favorecendo a concentração. Após o processo de fermentação e mutage, o vinho matura em barris de carvalho. Finalmente, é feito um corte com safras mais antigas, para o engarrafamento.

O resultado é um vinho tem cor âmbar, de média intensidade, com muito caráter oxidativo: aroma intenso de frutas secas (ameixa, damasco, tâmaras), castanhas, casca de laranja cristalizada, mel, caramelo e especiarias. Na boca, tem sabor intenso, corpo médio-, doçura e álcool equilibrados por uma acidez média+, e alta persistência, cheio de notas oxidativas. E casou muito bem com a sobremesa.


Ele é o topo de gama da cooperativa, e custa 15€ na vinícola. Por isso, o preço de R$89 na Casa do Vinho vale muito a pena.

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