3 de outubro de 2017

Covela Rosé no Gallo Nero

Depois da boa experiência com o ossobuco do Gallo Nero, Thais sugeriu o restaurante para um almoço de sábado. No almoço, eles servem o que chamam de "menu degustação", pequenas porções de diversos pratos, servidos um após o outro, e ao final, podemos repetir o que quisermos.

Após um couvert e uma salada também incluídos no preço, o cardápio daquele sábado continha: penne ao molho de gorgonzola; gnocchi recheado e gratinado, ao molho rosé; bisteca suína reduzida em seu molho acompanhado de canjiquinha com agrião; e cartoccio (papelote) de salmão acompanhado de legumes grelhados no azeite.

Como era sábado, resolvi pedir um vinho. Da outra vez, eu já tinha visto na carta do restaurante o Covela Rosé. Por isso, dessa vez nem olhei a carta. Confirmei se tinham, e com ele fui.


Covela

A Quinta de Covela é um produtor de grande reputação da região do Minho, norte de Portugal. Com uma história que remete ao Século XVI, a propriedade é famosa por ter pertencido a Manoel de Oliveira, importante cineasta luso. Na década de 1980, foi adquirida por um empresário, que criou a marca Covela e fez muitos investimentos na vinha. Os vinhos ganharam sua boa reputação, mas dificuldades econômicas levaram a posse da propriedade a um banco, que em total descaso, demitiu a equipe em 2009, deixando-a em total abandono.

Em 2011 o abandono acabou, tendo sido adquirida pelo empresário brasileiro Marcelo Lima e o jornalista britânico Tony Smith, amigos que buscavam iniciar um negócio no mundo do vinho. Recontrataram a mesma equipe que havia sido responsável pela fama dos vinhos, e reergueram a propriedade, alçando-a novamente ao seu destaque. Para conhecer um pouco mais de sua história recente, recomendo a reportagem do site português Fugas: O brasileiro, o britânico e a quinta de Manoel de Oliveira

A propriedade de 49ha, com 18 plantados de vinhas, se localiza na sub-região de Baião, quase na divisa entre a região dos Vinhos Verdes e do Douro. A produção de brancos e rosés predomina com 90%, sendo o Vinho Verde Avesso seu 'cartão de visitas'.


Gastronômico

Apesar de produzido na região dos Vinhos Verdes, o Covela Rosé 2015 é um Vinho Regional do Minho. Diferentemente dos Vinhos Verdes, ele não possui agulha. Ele é 100% Touriga Nacional, proveniente de colheita manual, e vinificado com curta maceração, para se obter um vinho rosado bem claro e elegante. No aroma predominam frutas vermelhas frescas, acompanhadas de um toque cítrico e floral. O corpo é leve, mas nem tanto, com bom volume de boca, muito frescor, sem doçura, nem amargor. Um vinho gastronômico.

Quando digo gastronômico, me refiro a um vinho versátil, capaz de acompanhar sem problemas uma grande diversidade de pratos. Um só vinho que possa acompanhar uma seqüência de pratos distintos. E o Covela foi quase perfeito nesse quesito: acompanhou da salada à bisteca, passando pela massa com gorgonzola, a canjiquinha e os legumes grelhados.

A única ressalva foi o salmão. É engraçado, que 99 em cada 100 sommeliers vão dizer que vinho rosé vai bem com salmão. Já li até que seria a harmonização perfeita, "porque ambos são rosados". Gosto não se discute, mas pra mim, a combinação resultou em um gosto metálico desagradável. Dizem que isso ocorre por uma reação entre taninos e iodo. Não sei se salmão tem iodo, mas é dos alimentos mais suscetíveis a causar gosto metálico.


Mas a culpa não é do vinho, nem da comida: é de quem escolheu, no caso, eu. E independente de não ter ido bem com o salmão, é um vinho gastronômico. E no final, finalizei com um pouco mais de gnocchi. Se coubesse algo mais, pegaria um pouco mais de bisteca, mas não convinha...

5 comentários:

  1. Na minha modesta opinião de cinéfilo os filmes de Manoel de Oliveira são *insuportáveis*, e não me surpreenderia nada com o fato dele ter afundado uma propriedade vinícola com (num paralelo frouxo com o mundo do cinema) seu desleixo disfarçado de arte.

    De qualquer forma é bom saber que a propriedade se reergueu.
    Já vi um Covela à venda por aqui, se cruzar de novo com ele levarei para casa.

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    1. Eu tenho que confessar que não conheço nenhum filme dele. Quanto aos vinhos, ele nunca chegou a explorar comercialmente.
      Caso encontre, recomendo que compre para provar, e fique tranqüilo, pois não há nenhum desleixo na produção deles; já provei de todos em feiras. Não deixe de provar também o Avesso, que é seu vinho mais emblemático.
      E aproveitando o comentário da Daniele, logo abaixo, é possível comprar diretamente da importadora, a Winebrands.

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  2. Covela Rosé está aí:

    http://www.winebrands.com.br/vinho-rose-quinta-de-covela-2015/p

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  3. Obrigado Rodrigo pelo belíssimo post. A equipe Covela ficou muito feliz com esse seu artigo. Edward, de facto o Manoel de Oliveira nunca explorou a produção de vinho. A marca foi criada no início dos anos 90 por um empresário Português.

    Um abraço a ambos!

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