19 de fevereiro de 2017

Dalva Porto Colheita 1977

De minha última viagem a Portugal, trouxe algumas preciosidades na mala: e uma das maiores, foi o Dalva Porto Colheita 1977, produzido pela empresa C. da Silva. Além de ter obtido um preço bem legal, a marca Dalva tem alta reputação, e qualidade que eu mesmo já havia tido oportunidade de atestar.


Porto com safra

Vinhos do Porto com safra definida - isto é, de uma só colheita - são especiais. Isso porque a maior parte do Vinho do Porto é usado em blends, de vários anos. Apenas uma pequena parte, dos melhores vinhos, nos melhores anos, é engarrafada com uma única safra. Mas existem dois tipos fundamentalmente diferentes de Porto com safra: os Vintages e os Colheitas.

Vintage significa safra em inglês; e colheita é o termo mais usual em Portugal para se referir à safra. Portanto, grosso modo, ambos termos significariam a mesma coisa. Mas, como você pode imaginar, não é assim. Em Porto, ficou estabelecido que Vintage é usado para vinhos engarrafados cedo (família Ruby) e que envelhecem bem em garrafa. Já Colheita, se refere a vinhos com período mais longo em madeira, da família Tawny.

Envelhecimento oxidativo

O diferencial dos Tawnys é o envelhecimento oxidativo que eles sofrem enquanto estão nos tonéis. Quanto mais tempo em tonéis, mais oxidado. Um Porto Colheita, especificamente, deve passar no mínimo 7 anos. Por isso:
  • sua cor vai do castanho ao âmbar, dependendo da idade;
  • os aromas tendem a frutas secas: tanto figos secos e tâmaras quanto amêndoas e avelãs;
  • após engarrafados, eles não evoluem;
  • a data de engarrafamento deve constar no contra-rótulo;
  • recomenda-se que sejam consumidos logo;
  • são fechados em tampas mistas plástico/cortiça;

Mas isso não significa que sejam necessariamente frágeis. Ainda mais um Colheita antigo, com décadas de envelhecimento oxidativo, não é qualquer arzinho que vai lhe fazer mal. Armazenado em boas condições, ele certamente agüenta alguns anos. A ficha técnica do Porto Dalva, por exemplo, recomenda que poderia ser guardado por até 10 anos.

Ano de engarrafamento

Sempre verifique o ano de engarrafamento, no contra-rótulo. Os produtores de maior prestígio só vendem exemplares que tenham sido engarrafados a menos de um ano. Mas em garrafeiras, é possível encontrar vinhos engarrafados há mais tempo.

Se por um lado é um risco, por outro - se a garrafeira armazenar o vinho em condições apropriadas - pode ser uma oportunidade de se encontrar um vinho com preço bem menor. Isso porque, à medida que o tempo passa, o vendedor fica preocupado de encalhar com a garrafa, e abaixa o preço. Eu economizei quase 20 euros, comprando numa garrafeira, um vinho em perfeitas condições.


Armazenar e servir

Como já mencionei, este tipo de vinho não evolui em garrafa. Mas pode ser guardado por algum tempo. E quando chegar o momento de servir, lembre-se que é um vinho com 40 anos: é o tipo de vinho que vale a pena aplicar algumas formalidades ao servir. Atente-se à temperatura correta, e ao tipo de taça.
  • devido à tampa de plástico, a garrafa deve ser armazenada de pé, antes ou depois de aberta;
  • não precisa passar por decanter ou aerador;
  • após aberto, ele pode ser armazenado por um período de 1 a 4 meses, dependendo da idade do vinho (mais velhos, agüentam mais tempo);
  • a temperatura de serviço é entre 10ºC e 14ºC. A temperatura da geladeira é uma boa referência;
  • deve ser servido em taças pequenas (taças ISO, ou específicas para vinhos licorosos).

Harmonizações

Um Porto com 40 anos de idade é um vinho de contemplação, daqueles que você pode ficar bebericando, ao fim da refeição. Mas é claro, que também pode acompanhar comida. Sobremesas são a escolha mais natural, mas é possível pensar em outras possibilidades, como acompanhando queijos. Abaixo, algumas sugestões:
  • ele não é um bom par para chocolate (para chocolate, o melhor são os Rubys e Vintages);
  • combina bem com sobremesas a base de figo, tâmaras, damasco seco, amêndoas, nozes, avelãs, etc;
  • também combina bem com sobremesas de frutas caramelizadas;
  • vai bem queijos de casca branca, como brie e camembert, associados a uma geléia de figo;

A nossa garrafa foi acompanhada de um verrine 100% feito em casa, composto de camadas sobrepostas de um creme à base de queijo mascarpone, um crumble de nozes caramelizadas, e figo rami - figo cozido por horas em calda de açúcar, e fica caramelizado. Foi uma simbiose perfeita: era como se estivéssemos bebendo a sobremesa e comendo o vinho.

Para conhecer um pouco mais a respeito dos Vinhos do Porto, leia: Dos Vinhos do Porto

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