3 de agosto de 2016

Partal 2005

Mesmo associado à categoria básica da Sociedade da Mesa, vez ou outra me senti tentado por algum dos vinhos da Seleção Grandes Vinhos - uma categoria superior, trimestral, de vinhos mais caros. O Partal 2005 foi um desses vinhos, que pedi, e não me arrependi.


Ele vem da DO Bullas, região de Murcia, ao sul do Levante espanhol. O Levante corresponde a uma faixa de terra razoavelmente estreita, ao longo da costa mediterrânea, com um imenso aclive que vai do nível do mar a mais de 1000 metros de altitude, em uma faixa de pouco mais de 200 quilômetros. Os vinhedos de Murcia se localizam a meio caminho, em altitudes que variam de 400 a 900 metros. O clima se divide entre a influência continental e a mediterrânea, com verões muito quentes, pouca chuva, moderada influência de brisas marítimas, e grandes amplitudes térmicas devido à altitude.

Em toda a região de Murcia, predomina a Monastrell. Esta variedade é cultivada em toda a faixa mediterrânea da Espanha - e também da França, onde é conhecida como Mourvèdre. Mas é em Murcia que ela reina, ocupando 80% dos vinhedos. Resistente ao calor e a geadas, é produtiva, e capaz de gerar vinhos intensos, em cor, taninos e álcool. E a altitude dos vinhedos de Murcia garantem que também não lhe falte a necessária acidez.


O Partal 2005 é o vinho topo de gama da Bodega Balcona, que tomou os rumos atuais em 1997 quando 6 irmãos passaram a produzir os vinhos com os vinhedos da família; vinhedos que começaram a ser incorporados no tempo de sua avó, Josefa "La Balcona". A filosofia da vinícola é dar tempo ao tempo: "tempo para que as leveduras atinjam a plena maturação, tempo de maceração para obter estrutura, tempo de crianza nas melhores barricas de carvalho francês, tempo após o engarrafamento para que os vinhos se integrem e fiquem redondos, tempo para que respirem após abertos, tempo para que seja apreciado a goles curtos" (tradução livre do site do produtor).

O vinho leva 60% de Monastrell, proveniente de vinhas com mais de 60 anos de idade; o restante é composto de Syrah, Tempranillo, Cabernet Sauvignon e Merlot. As vinhas são tratadas sem necessidade de pesticidas. A colheita, manual, ocorreu entre a metade de setembro e fins de outubro, e cada variedade foi vinificada separadamente. A fermentação levou entre 7 e 10 dias, levada a cabo por leveduras autóctones. No total, o vinho macerou por 20 dias, para obter estrutura. E depois, descansou 12 meses em barricas de carvalho francês, antes do assemblage final e engarrafamento, em maio de 2007.

Até o momento, provei este vinho em duas ocasiões diferentes. Ele possui cor rubi de intensidade média, já com algum reflexo granada, demonstrando a idade. Em nenhuma das duas vezes, ele apresentou borras; e em nenhuma das vezes, necessitou de aeração. Ele mostrou de cara a sua elegância, equilíbrio e complexidade aromática: frutas negras maduras, especiarias, notas tostadas, ameixas secas, e balsâmico. Ele tem corpo médio, ótima acidez, álcool totalmente equilibrado, e taninos de intensidade média. Em uma ocasião, acompanhou uma torta de bacalhau, mas creio que se saiu melhor quando escoltou uma costela de boi assada no forno, com purê de mandioquinha e escarola refogada.


Este vinho foi oferecido pelo clube no mês de março de 2014, ou seja há mais de 2 anos. Mas fico perplexo ao ver que, apesar de todo esse tempo, ainda haja até hoje exemplares em estoque. Será que de todo o conjunto de associados, ninguém mais se deu conta da qualidade que tem este vinho?

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