25 de fevereiro de 2013

Whiskeys na Irlanda - parte 3: Cooley e Kilbeggan

Este é o terceiro e último texto da série de whiskeys irlandeses.
No primeiro, falei do Jameson, e no segundo, da Bushmills. Neste, último, reúno os whiskeys produzidos nas outras duas destilarias existentes na ilha: Cooley, e Kilbeggan.

Reunir os dois no mesmo texto vem a calhar, já que hoje em dia, a destilaria de Kilbeggan pertence à Cooley. Esta última foi aberta em 1987, como uma destilaria independente, e se dedicou a resgatar antigas marcas irlandesas. Seguindo esta filosofia, ela reabriu a destilaria de Kilbeggan em 2007, que permanecia fechada desde 1953, após ir à falência. Em 2012, a Cooley foi comprada pela Jim Beam, produtora de Bourbon, nos Estados Unidos.


Museu e destilaria

Na Cooley, não existe um programa de visita regular. A empresa fez da antiga destilaria de Kilbeggan o seu museu, e instalou uma nova estrutura anexa para uma reduzida produção local. Fui com meu irmão à pequena localidade de mesmo nome para visitar o museu/destilaria.

A antiga destilaria está instalada à rua principal, sobre um pequeno curso d'água, que no passado era usado para girar a roda d'água que fazia movimentar o antigo maquinário, que está do exatamente mesmo modo como foi deixado em 1953.

A destilaria possuía licença de operação desde 1757. Em 1840, foi adquirida por John Locke, e portanto ela passou a se chamar Locke Distillery, até a falência, em 1953. Curioso é que, mesmo tendo permanecido fechada por décadas, eles a intitulam a destilaria mais antiga do mundo. Quando perguntei à funcionária a respeito da Bushmills, localizada na mesma ilha, e em operação desde 1608, ela me explicou que a outra 'só' possuía uma autorização com assinatura do rei, mas não um registro em cartório da mesma época, portanto, não era válido para se estabelecer o registro de funcionamento (???).


Visita

A partir da entrada, o museu fica à direita, enquanto a nova destilaria, com novo maquinário, fica à esquerda, de forma totalmente independente. A visita é toda auto-guiada: nos deram um mapa bonitinho mas confuso do local, e tínhamos que nos virar para achar cada etapa. Em cada tanque, havia um painel com as explicações da etapa em questão.

Foi muito interessante ver todo o maquinário antigo, e andar ao lado das máquinas, às vezes tendo que nos abaixar para passar por baixo de canos, como os funcionários tinham que fazer, no passado. Mas se eu não tivesse uma noção do processo como um todo, devido às visitas em outras destilarias, eu não teria conseguido absorver muita coisa dessa visita.

O acesso à área de produção, curiosamente, também ocorre sem nenhum acompanhamento. Ali, existe uma produção bem pequena, exclusivamente de cevada maltada, e com tripla destilação em alambiques, como é padrão no país. A primeira destilação, ocorrida em 2007, passou 5 anos em barris, e portanto, foi engarrafado em 2012. E também não foi engarrafado puro: foi usado em um blend com outros single malt whiskeys produzidos na Cooley, e engarrafado com o nome Distillery Reserve Malt Whiskey. Observe que ele é classificado apenas como malt whiskey - porque pelas regras do país, para ser single malt, precisa ser todo proveniente de uma só destilaria.
  • Quer conhecer mais a respeito das classificações de whiskeys? Clique aqui!
Ao final da visita, tínhamos direito a uma prova de whiskey, no bar anexo ao museu. Mas não era oferecido aquele produzido localmente, e sim o produto mais básico da linha Kilbeggan, um blend sem informação de idade, composto de 50% malte de cevada e 50% grain whiskey de milho, e que é 100% produzido na destilaria de Cooley. Por sinal, um produto sem grandes atributos.


Para conhecer o Distillery Reserve Malt Whiskey, comprei o kit da foto acima, com garrafinhas de 50mL. Fiquei satisfeito em ter provado só da garrafinha. É mais agradável que o básico, mas não vale o que custa.

Outras linhas da Cooley

Além da Kilbeggan, a Cooley se dedicou desde o início a fazer ressurgir outras marcas irlandesas, além de se dedicar a criar produtos de estilos variados. Eu pude verificar um pouco desta diversidade com outro kit de miniaturas, da foto abaixo.

  • Connemara: representa um whiskey maltado com turfa, o único whiskey defumado produzido na ilha. Tem o aroma tão intenso, que parece que se está bebendo fumaça.
  • Greenore: um single grain (100% não maltado) de milho, envelhecido 8 anos. Também é o único do tipo produzido na ilha. Tem o aroma marcadamente adocicado, como os bourbons. Mas no palato, é meio quadrado, duro, com álcool escondendo o sabor.
  • Kilbeggan: o produto básico da Kilbeggan, o mesmo que provamos na visita ao museu. Tem o aroma mais adocicado trazido pelo milho, sendo mais macio e com final mais aromático que o Greenore.
  • Tyrconnell: é um single malt. Tem um aroma curioso, lembrando um fundo de frutas secas. De todos os que provei da Cooley, foi o que eu mais gostei.

Whiskeys independentes

Além dos próprios whikeys, a destilaria Cooley presta também serviço de produção de marcas independentes, que não possuem destilaria própria. A produção, nesse caso, é feita segundo as instruções da empresa contratante. Um exemplo de cliente é a Tulamore Dew, uma marca totalmente independente, que ainda não possui destilaria própria (mas tem planos para isso). A marca é bem disseminada por toda a Irlanda, e eles têm um produto interessante, bom, e barato. Vale a pena.

Conclusão

Eu aprendi muito sobre whiskey nessa viagem, e com isso, aprendi a apreciar melhor a bebida, inclusive sabendo identificar melhor o que busco em um whiskey. Me agradou o estilo não defumado que abrange a maioria da produção irlandesa, e percebi a diferença que faz um malt whiskey, na maciez da bebida.

Porém, mais importante, percebi como a origem da madeira é importante no resultado final do produto. Os mais acessíveis são normalmente envelhecidos em barris de bourbon, que não aportam nada de distinto em termos de aroma (além do aroma da própria madeira). Mas um destilado envelhecido em barris de Jerez, aí sim, faz toda a diferença, fica muito mais saboroso.

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