Das uvas

Existem basicamente duas 'famílias' de uvas. As vitis vinífera - ou uvas viníferas - são as mais utilizadas para se produzir vinho, no mundo todo. Elas provavelmente são originárias do Oriente Médio (na região do Cáucaso, entre Turquia, Geórgia, Armênia). Desde a Antiguidade, as uvas viníferas são utilizadas para produção de vinho nas terras ao redor do Mediterrâneo. Dentre os exemplos, estão a Cabernet Sauvignon, Merlot, Sauvignon Blanc, Chardonnay, Pinot Noir, e Syrah.

O outro grupo são as uvas americanas, ou seja, que já existiam no continente americano. Também são chamadas de uvas de mesa, e normalmente são consumidas como fruta, em vez de vinho. Em muitos países do mundo - e certamente nos países mais tradicionais - é proibido fazer vinho a partir de uvas de mesa. No entanto, no Brasil, por razões históricas, não apenas é permitido, como eles correspondem à maior parte da produção e do consumo. Alguns exemplos: Bordô, Niágara, Isabel, etc. Os vinhos feitos de uvas de mesa são facilmente identificáveis no paladar: têm um gosto característico, normalmente descrito como 'gosto de suco de uva'.

Esta parte da produção é tão importante no Brasil, que o país tem uma classificação própria para distinguir um grupo e outro. Define-se Vinho de Mesa aquele produzido a partir de uvas de mesa. E Vinho Fino, aquele produzido a partir de uvas viníferas. Por lei, estes termos devem estar escritos no rótulo dos vinhos nacionais.

A legislação brasileira tentou simplificar, mas na realidade trouxe uma complicação: na Europa, o termo Vinho de Mesa também é utilizado. Porém, nada tem a ver com o uso de uvas de mesa. Na Europa, um vinho de mesa é um termo usado para vinhos que não têm um indicação de procedência (veja Das Denominações de Origem).


Uvas do velho mundo


Existem milhares de variedades de uvas viníferas, tanto de origem francesa, quanto italiana, portuguesa, espanhola, alemã, austríaca, húngara, etc. e até mesmo uvas 'criadas' em países do novo mundo, como a Pinotage na África do Sul. As mais famosas (Cabernet Sauvignon, Merlot, Sauvignon Blanc, Chardonnay, Pinot Noir, e Syrah) são de origem francesa; porém estão tão difundidas em todo o mundo, que muitas vezes são chamadas de 'internacionais'. Por outro lado, a maioria das variedades ficam mais restritas a seus países de origem, e raramente são cultivadas em outros lugares.

Portugal

Não se sabe ao certo quantas castas tem Portugal, mas são certamente mais do que 250 (número divulgado pela Viniportugal). Algumas são muito comuns em todo o território nacional, e às vezes são conhecidas por mais de um nome: Touriga Nacional, Tinta Roriz (Aragonês), Trincadeira (Tinta Amarela), Fernão Pires (Maria Gomes) e Arinto (Pedernã).
Outras são mais específicas a algumas regiões, como por exemplo Baga e Bical (da Bairrada); Alvarinho e Loureiro (do Minho); Sousão, Tinta Barroca e Tinto Cão (no Porto); Alicante Bouschet (no Alentejo); e Tinta Negra Mole (ilha da Madeira).

Espanha

A Tempranillo está em praticamente todo o país, sob nomes diferentes (Tinta del País, Cencíbel, Tinto Fino, etc.). Mas a Espanha tem mais a oferecer. A Monastrell (chamada Mourvèdre na França) é a protagonista em algumas regiões. A Garnacha e a Graciano costumam fazer parte dos vinhos da Rioja. O corte 'tradicional' do Cava (espumante espanhol) são as brancas Macabeo (Viura), Xarel-lo e Parellada. A Viura é muito comum também em vinhos tranquilos, principalmente no norte e nordeste. Entre as brancas, ainda há a Albariño (D.O. Rías Baixas) e a Verdejo (D.O. Rueda).

Itália

Se há um país com mais variedades de uva que Portugal, é a Itália. Também não se sabe ao certo, mas contabilizam mais de 300.
A Nebbiolo é a uva dos Barolos e Barbarescos. Na Toscana, reina a Sangiovese, principal uva dos Chiantis, Chiantis Classicos e Brunellos di Montaltino. Na Puglia, a uva Primitivo gera o conceituado Primitivo di Mandúria. Na Sicília, a Nero d'Ávola tem ganhado notoriedade nos tintos tranquilos, enquanto as brancas Grillo e Inzolia são as uvas do Marsala. Os vinhos de Valpoliccela, incluindo os mais conceituados Ripassos e Amarones são feitos com as variedades Corvina, Rondinella e Molinara.

França

França é o berço das variedades mais famosas, citadas no início do texto, mas também possui muitas outras. Variedades como Cabernet Franc, Viognier, Gewurztraminer, Gamay, Pinot Gris, Mourvèdre, Grenache e Chenin Blanc, embora em menor proporção, estão plantadas em diversos países do globo.
Mas o país também possui variedades raras, muitas vezes confinadas a regiões específicas, como: Braquet, Folle Noir e Tibouren na Provence; Loin de l'oeil, Gros Manseng, Arrufiac e Fer Servadou no sudoeste; Poulssard, Trousseau e Savagnin no Jura; Jacquère, Mondeuse e Roussane em Savoie; Arbane em Champagne; Aligoté na Borgonha.

Alemanha

Com clima frio, são poucas as variedades de uva que se adaptam no país. A Riesling é uma das grandes uvas do mundo, também é considerada uma uva internacional, cultivada em muitos países. Na Alemanha, é a principal variedade, responsável pelos principais vinhos nas regiões de Rheingau e do Mosel.

Outros países

E a lista de variedades não termina. Alguns países menos conhecidos têm longa tradição vinícola, e possuem suas próprias variedades: Grécia (Agiorgitiko, Roditis, Mavrodaphne), Hungria (Furmint), Romênia (Fetească Neagră), Geórgia (Saperavi), Áustria (Grüner Veltliner, Zweigelt), Suíça (Humagne Rouge, Cornalin).


Uvas símbolo dos países do novo mundo


Algumas uvas viraram símbolo de países do novo mundo, mesmo que não sejam originárias dali.
  • A Malbec, é a uva símbolo da Argentina. Porém, sua origem é a região de Cahors, no sudeste da França, onde é chamada de Cot. Também tem pequenas aparições em assemblages de Bordeaux, porém sua fama mundial está relacionada aos argentinos;
  • a Carmenère, por sua vez, desapareceu da França, e foi encontrada por acaso no Chile, onde se pensou durante algum tempo tratar-se de Merlot. Em nenhum outro lugar se planta tanta Carmenère quanto no Chile;
  • a Tannat, é nativa de Madiran, na França, mas, ela também, é muito mais conhecida como símbolo de um país sulamericano; neste caso, o Uruguai;
  • o nome Zinfandel é relacionado a vinhos dos Estados Unidos, porém se trata da mesma uva que na Itália é conhecida como Primitivo. Mas a origem dela é a Croácia, onde é conhecida como Crljenak Kasteljanski.
E por fim, existem variedades realmente nativas de países do novo mundo. Em alguns casos, são originárias de cruzamento em laboratório; mas em outros, análises de DNA identificaram cruzamentos naturais que resultaram em variedades Vitis Vinifera que são originárias de países da América do Sul.
  • A Pinotage foi criada na África do Sul, em 1925, a partir do cruzamento entre Pinot Noir e Cinsault, com o objetivo de se adaptar melhor às condições climáticas do país;
  • uma variedade conhecida como Pais no Chile, Mission nos Estados Unidos, e Criolla Chica na Argentina é descendente da Listán Prieto, originária das Ilhas Canárias. A variedade foi trazida ao México no século XVI, sofreu mutações em solo americano, e depois se espalhou pelo restante do continente. Não é uma variedade de grande reputação, mas alguns produtores chilenos têm trabalhado para produzir vinhos de qualidade com ela;
  • testes de DNA também identificaram que a Torrontés, típica dos vinhos brancos da Argentina, não tem relação com a uva homônima da Espanha. Há 3 variedades de Torrontés diferentes na Argentina, e todas elas são cruzamentos distintos da Moscatel com a Criolla Chica.