10 de novembro de 2019

ArmAs Areni

A Geórgia é apontada como o berço da vitivinicultura; mas a Armênia, sua vizinha no Cáucaso, também faz parte da área onde provavelmente o homem fez vinho pela primeira vez. Na realidade, a evidência arqueológica mais antiga foi encontrada na Armênia: trata-se de uma prensa e recipientes de barro, com sementes e engaços fossilizados, datados de 6000 anos atrás, e encontrados em uma caverna batizada Areni-1 (veja aqui).

A Armênia fica encravada no Cáucaso, ao sul da Geórgia, e a meio caminho entre o Mar Negro e o Cáspio. Tem um relevo dominado por montanhas, com altitudes que podem chegar a 4090m sobre o nível do mar. Os vinhedos são cultivados em altitudes de até 1600m, o que promove grande amplitude térmica, com mais de 20ºC de diferença de temperatura entre o dia e a noite. Em compensação, o clima continental garante mais de 300 dias de sol por ano.

A religião cristã ortodoxa tem no vinho um de seus elementos sagrados, tornando-o um importante elemento da cultura. No entanto, durante o período em que foi ocupado pela União Soviética, a maior parte de sua produção de uvas foi destinada à destilação. Com seu isolamento geográfico e uma cultura muito introspectiva, mesmo após 30 anos do fim do bloco, muita coisa segue igual. A maior parte da produção segue destinada ao brandy, e o país segue desconhecido para o resto do mundo.

Mas aos poucos, o século XXI tem trazido modernização ao país, principalmente por meio de emigrantes retornando à terra natal. Um desses exemplos é a vinícola ArmAs. Seu nome nada tem a ver com português: é formado pelas primeiras letras dos nomes do fundador Armenak Aslanian, que após o colapso do bloco soviético havia se radicado com a família na Califórnia. A família tinha tradição vinícola, desde seu avô, Armenak Aslanian Sr.; e em 2007, ele decidiu voltar ao país natal e construir a vinícola, que incluiu 100ha de vinhedos irrigados, um orquidário, um pequeno lago, uma sala de provas e um pequeno hotel. Cultivam principalmente variedades locais, como Kakhet, Rkatsiteli, Kangun, Voskehat e Areni.


E porque eu estaria escrevendo um texto a respeito de vinhos da Armênia? Pois não é que um confrade fez uma improvável viagem de turismo ao país e nos trouxe uma garrafa de vinho para provarmos? Trata-se do ArmAs Areni Reserve 2012. Areni é uma variedade tinta, de casca grossa, resistente a pragas e à intensa insolação da região do Transcáucaso, e citada por Jancis Robinson como a de melhor qualidade do país, em seu livro Wine Grapes.

O vinho tinha cor rubi de média intensidade, e aroma intenso, com frutas frescas e ervas aromáticas em destaque, além de um toque tostado devido ao estágio de 22 meses em barricas de carvalho francês e armênio. Tinha corpo médio, elegante, com boa acidez, taninos presentes e macios, álcool equilibrado, e média persistência. Um vinho original, e deveras agradável!

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