22 de setembro de 2018

Harveys: a origem do Cream Sherry

Bristol Milk

Desde a Idade Média, o Porto de Bristol, no sul da Inglaterra, era um grande canal de recepção de vinho do mercado inglês. Os vinhos chegavam em barris, e maturavam em caves da cidade até o blend final. Um dos blends que provavelmente surgiu dali foi batizado de Bristol Milk, um Jerez Oloroso adoçado com PX, uma mistura cuja primeira referência data de 1634.

À época, os espanhóis só produziam os Jerez super secos ou super doces. Mas o blend entre os dois fez grande sucesso em toda a Inglaterra. Porque essa mistura foi chamada de milk é objeto de debate: especula-se que era consumido preferencialmente pela manhã, e era dado a crianças como fortificante, e esfregado nas gengivas de bebês para aliviar o incômodo da dentição.

Rótulo do Harvey's Bristol Milk (fonte: Blog Jerez-Xeres-Sherry)

Do leite ao creme

A empresa Harvey's (originalmente John Harvey & Sons) era uma dessas empresas que importava Jerez, para produção do Bristol Milk. Em 1860, tiveram a idéia de criar uma versão mais encorpada, baseada em um Oloroso mais envelhecido (e, portanto, mais concentrado), com um percentual maior de PX. E se a versão anterior era o 'leite', acharam apropriado batizá-lo de Bristol Cream, e registraram o nome.

O Bristol Milk desapareceu com o tempo, mas o Bristol Cream é ainda hoje o Jerez mais consumido na Inglaterra e Estados Unidos. Na década de 1970, a Harvey's mudou sua operação para a cidade de Jerez, onde hoje possui 10% dos vinhedos, a maioria destinada a produzir o Bristol Cream. O sucesso do produto foi tão grande que o Consejo Regulador de Jerez criou a categoria Cream, e hoje todos os grandes produtores de Jerez produzem versões desse estilo.

Rótulo do Harvey's Bristol Cream (fonte: Garrafeira S. Pedro)

Categoria superior

O Bristol Cream é o grande sucesso comercial da Harveys, e seu produto mais popular. No entanto, o Harveys Signature 12 Y.O. Cream Sherry é um produto de categoria superior. O blend é formado de aproximadamente 80% Oloroso e 20% PX, com idades médias de 12 anos de idade. O resultado tem aproximadamente 120 g/L de açúcar, e 19% de teor alcoólico.

Eu o levei em um jantar no restaurante com amigos, para finalizar o jantar. A sobremesa foi bem mais-ou-menos, e o que salvou foi mesmo o vinho. Ele tinha uma cor entre o bronze e o rubi, de média intensidade, tipo um Tawny 20 Anos. O aroma era intenso, típico de vinhos de crianza oxidativa, com notas de amêndoas torradas, avelãs, tâmaras, figo e caramelo. O sabor era igualmente intenso, com a doçura em bom equilíbrio com o alto teor alcoólico e a boa acidez. O fim de boca é untuoso e persistente, com os aromas de boca confirmando o nariz. Um vinho de sobremesa muito saboroso, que merece o mesmo status que outros fortificados de reconhecida reputação.


Este vinho, infelizmente, não existe no Brasil. Eu o trouxe de minha última viagem à Inglaterra, onde comprei por £12.

Referências

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