23 de maio de 2017

Münster com sotaque

Um queijo de estilo francês, produzido no Brasil, exposto em uma feira de cervejas, foi a inspiração para uma harmonização com vinho.

No mês de abril, ocorreu em Campinas um evento de cervejas artesanais (o Festival da Cultura Cervejeira). Mas além da diversidade de pequenos produtores de cerveja, a feira também trouxe alguns produtores de queijo artesanal. Dentre esses, me chamou a atenção uma queijaria de Santa Catarina, que faz queijos com sotaque francês. A idealizadora da Queijo com Sotaque foi a francesa Elisabeth Schober, que se encantou com o Brasil, e viu na pouca diversidade de produção local um nicho a ser explorado.


Chulé na bagagem

Um dos queijos que mais me chamou a atenção foi inspirado no Münster, um queijo muito forte e fedido, típico da Alsácia (na fronteira com a Alemanha). Impossível me esquecer da vez que comprei desse queijo no free-shop, voltando da Europa. A vendedora me garantiu que ele agüentaria a viagem ao Brasil, e até o embalou em uma sacola metálica, para ajudar a conservar a temperatura (além da embalagem a vácuo em que já estava).

No meio do vôo, comecei a sentir um fedor, que pensei se tratar do chulé horrendo de algum passageiro. Mas depois que o avião pousou, e abri o compartimento de bagagens, que vergonha, o fedor era do meu queijo! Ele ainda empesteou a minha geladeira por algumas semanas, mas os espaguetes ao molho de queijo Münster certamente valeram toda a pena.


Linguini au Münster

A versão brasileira da Queijo com Sotaque não tem o cheiro tão forte (não sei se o teria após uma viagem transatlântica); mas o sabor certamente me remeteu ao original, e me deu vontade de comer novamente do mesmo prato. A Thais queria que eu fizesse, mas me vendo vários minutos na cozinha sem saber por onde começar, ela acabou tomando a rédea. Só fiz picar o queijo.

Ela começou fazendo o roux, e logo adicionando o leite, para o molho branco. Logo, adicionou os pedaços de queijo, sem a casca, um pouquinho de mostarda, e ainda um pouco de vinho branco (o mesmo vinho que tomamos junto do prato, mas já já eu chego nele). Eu não poderia me resignar a jogar fora aquela casca de queijo, então inventei: joguei a casca numa frigideira, para fazer uma casquinha crocante, e servir junto da massa - e ficou uma delícia! E para completar, tinha ainda uma carne assada no forno para acompanhar.


O vinho

Apesar da carne, o protagonista do prato para mim era o queijo, então fui na "harmonização regional", e imaginei que um Gewürz seria uma boa pedida - acompanharia bem o sabor forte do queijo. Eu não tinha à disposição um autêntico Gewürz da Alsácia, mas como o queijo também não era francês, fui de chileno. Mas não era um qualquer: Casa Marín Gewurztraminer Casona Vineyard 2007.

A Casa Marín tem apenas 17 anos, mas já é uma referência do vinho Chileno, tendo sido uma das pioneiras no plantio de vinhas no Valle de San António. Esse vale, localizado muito próximo ao litoral, possui forte influência do Oceano Pacífico, tornando o clima bastante frio. Por isso, a região tem se mostrado ideal para cultivo de variedades de clima frio, como Sauvignon Blanc, Riesling, Gewürztraminer, entre outras.

As uvas deste vinho são provenientes do vinhedo chamado Casona, quase ao nível do mar. E devido a geadas recorrentes, a produção deste vinho tem sido sempre muito limitada. Por outro lado, graças a esse clima frio, o vinho mantém uma importante acidez, compensando um problema comum aos Gewurz.

A minha garrafa foi comprada diretamente da vinícola, numa mega-promoção, comprando de caixa saía por menos de R$45 a garrafa. Isso porque se tratava de uma safra antiga, já com 10 anos (o preço da mais nova é por volta dos R$105, lá na vinícola). Mas o vinho se encontrava em perfeitas condições.

A cor entre palha e dourado, tinha alta intensidade. O nariz era exuberante, floral e de frutas maduras (lichia, manga, mamão). Na boca, se mostrou encorpado, cheio, bem frutado, visivelmente com um alto teor alcoólico, mas com uma boa acidez, e um final de média duração. Havia uma leve sensação de doçura, provavelmente resultado do álcool e dos aromas de boca, mas a ficha técnica do produto indica um vinho definitivamente seco.

Mas o mais importante é que o vinho casou à perfeição, tanto com a massa ao molho de queijo, quanto com os outros queijos que trouxemos da Queijo com Sotaque, e comemos de aperitivo. Ótimos queijos, e ótimo vinho!


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