Das taças de vinho

"As taças de vinho devem ser lisas, transparentes, bojudas, de cristal, etc. etc.". Existem vários textos pela Internet que descrevem como são as taças corretas para que um degustador possa realizar uma análise visual, olfativa e gustativa formal de um vinho. Só que nem todo momento é adequado a essas análises formais, e nem todo vinho tem nada a mais a oferecer que justifique a 'taça perfeita'. Portanto, não deixemos a enochatice nos impedir de tomar um vinho só porque não temos a taça 'correta'.


A taça mais adequada

Por outro lado, há vinhos superiores que justificam um maior cuidado. São raros e caros, e portanto, queremos tirar o melhor proveito. E aí, a escolha pode ser tão complicada quanto se queira. Você pode se ater ao básico: um jogo de taças maiores para tintos, e outro com taças menores para brancos. Poderia ainda incluir um terceiro conjunto para espumantes, e um quarto, para vinhos de sobremesa. Você pode parar por aí, ou se quiser, pode complicar mais.

Se depender da indústria de cristais, você precisaria ter um imenso armário, para armazenar uma infinidade de modelos diferentes. Tem taça para Bordeaux, para Brunello, para Ermitage, Loire, Alsácia... ou ainda por variedades de uva: Syrah, Tempranillo, Riesling, Zinfandel... a diversidade é tanta, que há uma taça específica para Chardonnay de Chablis e outra pra Chardonnay de Montrachet; uma para Pinot Noir da Borgonha, outra para Pinot Noir do Novo Mundo!

E essas taças tão específicas fazem tanta diferença assim?

Uma vez, participei de uma 'degustação' de taças Riedel, onde provávamos o mesmo vinho em taças diferentes. Guiados pelo representante da empresa que conduzia a degustação, o resultado era assustador: não apenas a percepção de aromas mudava, mas o próprio equilíbrio do vinho. Na taça 'errada', o vinho poderia parecer alcoólico, ou com acidez excessiva. É claro que os vinhos foram escolhidos a dedo para ressaltarem essas diferenças, e o 'efeito manada' ajudava a amplificá-los. Mas que diferentes modelos fazem a diferença, ah fazem.

E se é assim, o que fazer? Me ater a um conjunto pequeno de taças e beber sempre os mesmos tipos de vinho por toda a minha vida? Ou me mudar para uma casa maior, onde possa criar um cômodo dedicado a armazenar toda a coleção de mais de 400 modelos de taças diferentes da Riedel? Eu prefiro não fazer nem um, nem outro, e ser mais pragmático.

Taça ISO

Para a sorte dos pragmáticos, alguém pensou em simplificar. A taça ISO foi projetada para ser um coringa, boa para qualquer tipo de vinho: tinto, branco, rosé, até espumantes, Jerez e Porto. Tanto, que é a escolha para degustações formais, como concursos de vinho.

E se ela é boa para essas situações, ela é mais do que suficiente para poder tomar qualquer vinho em casa. Além disso, é mais funcional, pois é menor, mais fácil de guardar, e menos suscetível a ser derrubada por um movimento expansivo de braço durante um animado jantar. Portanto, pra quem não tem muito espaço para vários jogos de taças, mas quer uma taça legal para tomar seus vinhos, essa é a melhor opção. Nas lojas, às vezes é conhecida como taça de degustação.

Taças clássicas

Existe uma infinidade de modelos de taças. Mas alguns modelos são consagrados, mais comumente encontrados por aí, e por isso e merecem uma menção especial.



Bordeaux: em homenagem à clássica região da França, é recomendada para vinhos tintos encorpados, e com bastante taninos.


Borgonha: de bojo bem largo, recebe o nome da região que é referência em Pinot Noir. É recomendada para esses vinhos, que são mais elegantes e delicados. Também é recomendada para Chardonnays barricados, ao estilo de Montrachet.


Brancos: recomenda-se taças menores para vinhos brancos, para que a quantidade de vinho servida seja menor, e portanto o vinho seja consumido mais rápido, e não esquente. Vinhos rosés, geralmente, pedem o mesmo tipo de taça que brancos.


Flûte: até pouco tempo, era a taça mais recomendada para todo tipo de espumante. Ela privilegia o aspecto visual da bebida, das bolhas subindo pelo líquido (chamado de perlage).


Tulipa: é a 'nova' recomendação de taça para espumantes, principalmente os mais complexos, como Champagne. É mais larga do que a flûte, de forma que privilegia mais os aromas complexos, em detrimento do aspecto visual.

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