4 de agosto de 2013

Arenae Ramisco 2005 - DOC Colares


Na minha última viagem a Portugal, trouxe dois vinhos raros, duas preciosidades: duas garrafas de vinhos da D.O.C. Colares, feitos com a casta Ramisco. Na companhia do meu pai, resolvi abrir uma delas: Arenae Ramisco 2005, produzido pela Adega Regional de Colares, uma cooperativa que reúne 90% dos produtores da região.

Colares, nos arredores de Lisboa, acumula peculiaridades. É a região demarcada mais ocidental da Europa continental. As vinhas são plantadas em areia, de frente para o Atlântico, e sofre com ventos marítimos muito fortes. Em teoria seria uma das regiões mais inóspitas para cultivo de uvas. No entanto, com técnicas específicas locais para driblar as adversidades, produz-se vinhos únicos.

Por causa do vento, as vinhas crescem sem condução, expandindo-se horizontalmente, pelo solo. Além disso, são cobertas por paliçadas de cana seca. No entanto, quando o cacho começa a crescer, se ficasse em contato com a areia, se queimariam com o calor, e não amadureceriam. Por isso, os produtores suspendem cada cacho individualmente com gravetos, o suficiente para não tocarem o solo.

Porque são plantadas na areia (em solo coberto de areia), elas estão imunes ao ataque da filoxera. E por isso, são uma das raras localidades onde as videiras não precisam de porta-enxerto.

A região sofre pressão da especulação imobiliária (da expansão urbana da capital), por isso é uma das menores de Portugal, com tendência a diminuir. A produção deste vinho, no ano de 2005, foi de 7950 garrafas (consta no contra-rótulo).

A principal uva é a tinta Ramisco, que fora da região, é praticamente inexistente. É uma uva muito ácida e tânica, e resulta em vinhos com longo potencial de envelhecimento. O vinho maturou 4 anos, com períodos em barrica, tonéis e também em garrafa, antes de ser posto no mercado. A ficha técnica do produtor recomenda consumi-lo entre 5 e 20 anos, mas o vendedor da garrafeira disse que se eu fosse abrir o vinho antes de 2 décadas, deveria deixá-lo aerar por 24 horas!

Mas é um total exagero, pelo menos para este rótulo. Eu estava preparado para deixá-lo aerando, mas por curiosidade, coloquei um pouquinho na taça, para prová-lo. O vinho já apresentava cor tijolo, depósitos sólidos, e algum aroma de fumo e couro. Apesar disso, mostrava-se muito fresco, com boa acidez, aromas de frutas vermelhas, e muito tanino. Após duas horas no decanter, o aroma já tinha melhorado, tendo desaparecido aquele couro, e dando lugar a notas de ameixa seca e balsâmico. Meu pai identificou casca de jabuticaba. Fora isso, tinha o corpo médio, e 13% de álcool. Como fazia calor, tive que deixar o decanter dentro de uma vasilha com água e algumas pedrinhas de gelo, para manter a temperatura abaixo dos 20ºC, que é o ideal.

É sempre um prazer para um enófilo provar um vinho raro, e maior ainda, dividir uma garrafa dessas com meu pai. E apesar de raro, e da grande qualidade, não é caro. Comprei-o em Lisboa, por uns €10 (garrafa atípica de 0,5L), na Garrafeira Nacional.

3 comentários:

  1. Gostaria muito de provar esse vinho especial. Sebe onde eu posso encontrá-lo aqui no Brasil?

    Atenciosamente,

    Daniel

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    Respostas
    1. Olá Daniel,

      até hoje ainda não vi nenhum Colares no mercado brasileiro. Acho que terá de ir a Portugal para conhecê-lo.

      Um abraço,
      Rodrigo

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  2. Tive a oportunidade de provar os surpreendentes vinhos de Collares, no meu Grupo de Degustação da ABS Rio, do Produtor José Gomes da Silva. Fiquei positivamente impressionado com esses vinhos e com um Retrogosto de "Quero Mais!"

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