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25 de junho de 2023

Vinho aromatizado

A produção de cerveja permite uma infinidade de adições com o fim de incrementar o sabor da bebida: frutas, plantas aromáticas, café, chocolate, mel, mandioca... e até aromas artificiais (ou "idênticos" aos naturais), como em algumas cervejas pseudo-gourmets.

Mas com o vinho, não é bem assim. Há sim, várias substâncias que se podem adicionar (legalmente) ao vinho, mas são raras as adições permitidas que visam adicionar sabores. Há, por exemplo o carvalho, principalmente se usado em infusão com chips (mais detalhes), e a resina de pinho (neste caso, exclusivamente no Retsina). O produtor pode sim, adicionar aromas ao seu vinho; só não poderá mais chamá-lo de vinho. No Brasil, a legislação dá o nome dúbio de "vinho composto". A legislação européia, por sua vez, dá um nome mais claro: bebida aromatizada a base de vinho.

Tertúlia

No mês que passou, fui à Póvoa do Varzim, assistir a uma tertúlia organizada pela Tua Vinharia. Gostei muito do evento por vários motivos (não necessariamente na ordem que se segue): pelo formato, cujo objetivo era uma discussão muito além da simples apresentação dos produtores ali presentes; pelos produtores em si, em geral pequenos e com pensamento "fora da caixa"; e enfim, por passar a conhecer a Tua Vinharia (ao menos virtualmente, pois o evento não ocorreu na loja, mas pude conhecer o proprietário, Jaime, e alguns dos vinhos do portfólio).

Ao final, claro, houve prova de vinhos. E mesmo tendo gostado muito de muitos, para um deles, um texto praticamente se construiu em minha cabeça. E cá está. Pois o vinho em questão foi produzido pela Quinta de Tourais. Em seu rótulo, consta apenas o nome Lilipop, mas para diferenciar-se de outros com o mesmo nome, o site deles chama de Lilipop Lúpulo.

Vinho com lúpulo

O lúpulo é um dos ingredientes mais tradicionais da cerveja. O principal motivo de sua adoção na cerveja, no passado, foi seu efeito anti-oxidante, que ajuda a conservar a bebida. Mas há muito tempo, não só faz parte do paladar característico da cerveja, mas há uma imensa variedade de lúpulos, que podem dar distintos sabores à bebida. Analogamente, ao pensar em utilizar o lúpulo em seu vinho, O Fernando, da Quinta de Tourais, buscava uma alternativa ao sulfito como anti-oxidante. Mas também não ignorou seu efeito aromatizante.

O Lilipop Lúpulo foi produzido a partir de uvas Rabigato e Gouveio, variedades típicas dos vinhos brancos do Douro. O vinho fermentou com as cascas, e depois estagiou por 6 meses em barricas neutras; mais exatamente 5 barricas[*], onde em cada uma foi adicionado um típo de lúpulo. E após o lote, foi engarrafado sem filtração.

[*] O Fernando me disse pessoalmente 5 barricas, mas o site da empresa diz 6; o que provavelmente se deve a uma diferença de safra. A que provamos na feira, foi da colheita 2022, apesar de não constar na garrafa (acho que a legislação não permite indicação de colheita em uma bebida a base de vinho).

Ele tem uma cor alaranjada intensa, típica de vinhos brancos que fermentaram com as cascas. A turbidez é ainda mais nítida na foto do que presencialmente. O aroma tem intensidade média/alta; e apesar de uma aroma de folhas secas / chá verde (que remetem ao lúpulo), os aromas bem poderiam se passar como sendo das uvas: as cascas de laranja, frutas exóticas, amendoado, são aromas comuns em vinhos laranja. Na boca, o vinho, ops... a bebida demonstrou o estilo proposto pelo Fernando: vinhos leves, frescos, de baixo teor alcoólico, sem que precisem ser unidimensionais.

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