1 de julho de 2015

Dönnhoff Oberhauser Leistenberg Riesling Kabinett 2011

Um nome complicado, um vinho diferenciado


Conheci este vinho em uma reunião da minha confraria este ano, com tema de vinhos alemães. Tem um nome complicado, como costumam ter os vinhos alemães, mas o nome reflete também o sistema de classificação de qualidade do país. Conhecer o nome ajuda a trazer sentido ao vinho, então deixe-me explicar cada parte.

Parte por parte

A primeira palavra é nome do produtor, no caso, a vinícola Dönnhoff. Ela se localiza às margens do rio Nahe, um afluente do Reno, no oeste do país. A região de Nahe faz fronteira com a famosa Rheingau (Reno), e é também muito próxima da igualmente famosa região de Mosel. É menos conhecida, mas vem ganhando atenção, com alguns produtores que vêm apresentando vinhos de grande qualidade, como a Dönnhoff.

A segunda e terceira palavras, Oberhauser Leistenberg, são o nome do vinhedo, pois a empresa reserva seus melhores vinhedos para serem vinificados separadamente (single vineyard). Leistenberg, próximo à pequena cidade de Oberhauser é localizado em encostas com terraços, voltadas a sudeste. O solo é composto de ardósia cinza, que retém a luz solar e a libera como calor, favorecendo a maturação das uvas.

Ele é feito da uva Riesling, a verdadeira, a principal uva da Alemanha, considerada por muitos especialistas a casta branca mais nobre do mundo, responsável por alguns dos melhores vinhos do mundo. Hoje, é também a uva mais plantada em Nahe.

A última palavra, Kabinett, representa um Prädikat, isto é, uma distinção de qualidade dada ao vinho, que reflete o grau de maturidade da uva, de acordo com a legislação alemã. Em um país com clima frio como a Alemanha, a maturação é sempre um desafio, e as melhores uvas recebem uma classificação de Prädikat, de acordo com o grau de maturação obtido. Kabinett significa que as uvas foram colhidas na maturação ideal.


VDP - Verband Deutscher Prädikatsweingüter

Reforçando a qualidade da vinícola Dönnhoff, e de seus vinhos, vale ressaltar que ela faz parte da VDP, a associação dos melhores produtores da Alemanha (o nome dela significa Associação dos Produtores de Qualidade). Fundada em 1910, ela se baseia na distinção dos melhores vinhedos, e impõe regras mais rígidas do que as legislações alemã e européia. Além de serem obrigados a possuírem a própria adega, os membros têm limites de rendimento nas colheitas, têm limite mínimo de densidade do mosto (o que indica a maturação adequada), são obrigados a realizar colheita seletiva nos vinhedos, colhendo apenas os cachos com maturação adequada, e são obrigados a aplicar viticultura sustentável, ecologicamente correta.

Os vinhos VDP estampam o símbolo da associação na cápsula das garrafas.

Foto original: VDP

Aversão ao açúcar

Dario Taibo, em um editorial da revista Sociedade da Mesa, diagnosticou que o mercado brasileiro sofre de glicofobia - aversão ao açúcar. E não há como negar. Recentemente, durante a reunião da minha confraria, quando provamos o vinho, ficou claro como parte dos confrades simplesmente o rejeitou, apenas por conter perceptível açúcar residual, ou seja, independente da complexidade aromática, e da sua estrutura. Esses confrades, assim como diversos consumidores no Brasil, associam todo vinho adocicado a porcarias adoçadas com açúcar, que até hoje encontramos nas prateleiras de supermercados, o que é uma injustiça com os vinhos bem feitos.

O Dönnhoff Oberhauser Leistenberg Riesling Kabinett 2011 possui aromas de frutas de caroço, como pêssego ou nectarina maduros, cera de abelha e destacado petrolato, típico da Riesling. Possui sensação semi-seca, com boa acidez, e bom volume de boca, com sensação de untuosidade. O sabor é intenso, confirmando os aromas do nariz. Sua cor amarelo-palha brilhante indica que irá evoluir, adquirindo maior complexidade com mais alguns anos.

Ele é importado pela Decanter.

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