14 de setembro de 2013

MIV Campinas


Este sábado ocorreu a 8ª edição da Mostra Internacional de Vinhos, feira organizada pela ABS Campinas. Gostei do caderninho que dão no início, e vem com todos os vinhos, e algumas informações técnicas mais básicas: facilitou bastante a minha vida. Também gostei da taça que foi dada de brinde no evento: uma taça ISO, decente, no padrão utilizado em degustações técnicas. Em um evento em São Paulo, deram taças de vidro imensas que mais pareciam taça para cerveja de abadia da Bélgica!

Mas falando dos vinhos, minha curiosidade enológica me leva a procurar sempre novidades, uvas e países/regiões diferentes. Portanto era natural que minha primeira parada na feira fosse no Empório Sorio, que traz vinhos da Córsega, e que foram os primeiros que descrevi sobre a feira, em meu texto anterior (clique aqui para ler). Aproveitei a queima de estoque para levar algumas garrafas a preços muito interessantes.

Além deles, haviam vários outros produtores de nicho, como a Vinhos da Áustria, Manzwine, Quinta da Falorca, Cultvinho, mas também grandes importadores e alguns produtores nacionais. Evitei passar em produtores que já conhecia, dando preferência a novidades, pois nem cuspindo todos os goles seria possível provar tudo. Faltou tempo e espaço (a certa hora da tarde, o salão ficou bem cheio).

Manzwine

O projeto Manzwine começou em 2004, quando André Manz comprou um terreno na região de Cheleiros, próximo a Lisboa, e lá encontrou vinhas antigas, que locais recomendaram arrancá-las, e substituir por outras castas. Em vez disso, André Manz resolveu recuperar esta casta que estava praticamente extinta: Jampal.
    Com produção de 10 mil garrafas por safra, o Dona Fátima 2011 é 100% Jampal. Tem passagem de 6 meses em madeira, que segundo a empresa dá a estrutura necessária para que ele possa evoluir em garrafa. O vinho tem boa acidez, estrutura untuosa e aroma intenso, de frutas tropicais e também da madeira (como manteiga e coco). Na minha opinião, a madeira dominou o conjunto, de forma que não foi possível identificar as características da Jampal. É o vinho mais caro da empresa, foi vendido na feira por R$138,40.
Dentre os tintos, o que mais me agradou foi o Pomar do Espírito Santo 2010. O mais redondo, com corpo médio, e bom equilíbrio entre aromas de frutas e especiarias. Passou 12 meses em barrica, e depois mais 6 em garrafa. A empresa também apresentou um rosé satisfatório - Manz Rosé 2012 - a bom preço (R$43,00), fresco e com boa acidez, a ser tomado gelado.


Almería

Da região de Rías Baixas (implica em Albariño), a importadora trouxe o Paco & Lola 2011. Vinho fresco, muito frutado e cítrico. Fácil de beber. Preço na feira: R$94,00. Para quem gosta um vinho 'porrada', o Bodegas Castaño Hécula 2011 é o vinho. 100% Monastrell, intenso, mas com seus vértices em pleno equilíbrio. Conheci este vinho pela Sociedade da Mesa, que o comprou pela importadora Almería. O preço estava um pouco mais caro do que o apresentado pelo clube, mas ainda um ótimo preço: R$56,00 pela garrafa normal, e R$30,00 pela meia-garrafa (boa opção).

Cultvinho

Importadora focada em pequenos produtores espanhóis, na Wine Weekend 2013, eles apresentaram um Verdejo muito bom, porém a safra do vinho então apresentado estava no fim. Por isso, na MIV eles apresentaram outro:
    O Prios Maximus Vedejo 2011, que é um substituto à altura. Quase o mesmo preço (de R$68, na feira por R$61), vinho vibrante, com frutas exóticas, e o caráter herbáceo da Verdejo mais evidente que no outro vinho (com ervas frescas e aspargos).
    O Marqués de Olivara Vendimia Selecionada 2009, 100% Tempranillo com 14 meses de barrica, da região de Toro, causou frisson entre os participantes da feira: enquanto uns conhecidos da ABS apontaram como o melhor vinho da feira, enquanto eu estava presente, outros participantes voltavam trazendo amigos para provarem o maravilhoso vinho. E é realmente um vinho superlativo, muito aromático, com frutas vermelhas doces, quase bala de cereja, envolta por um fino toque de chocolate e especiarias. Muita estrutura, e taninos fortes, indicam que pode ser guardado por alguns anos. O preço normal é R$99,00, e na feira, foi vendido por R$89,00.

Filipa Pato

Filha de Luis Pato, ela também já tem seu nome marcado no cenário da Bairrada. A Casa Flora apresentou seu espumante rosé 3B: Brut, de Baga (70%) e Bical (30%), duas uvas emblemáticas da sua região, a Bairrada. Feito pelo método tradicional, com 6 a 9 meses em contato com leveduras, é um espumante jovial, frutado e refrescante. Não estava sendo vendido na feira, mas o preço normal na importadora é de R$63,00. Nada mal.


Quinta da Falorca

A World Wine dedicou um espaço exclusivo para para a Sociedade Agrícola de Silveiros para apresentarem seus vinhos da marca Quinta da Falorca, do Dão. A região é tida como o berço da Touriga Nacional, casta mais emblemática do país. E, como não poderia deixar de ser, estava em todos os vinhos tintos apresentados.
    O vinho top deste produtor era o Garrafeira 2007. Feito de vinhas velhas (mais de 80 anos) e misturadas (75% de Touriga nacional, 15% de Tinta Roriz, e 10% de várias outras), passou 24 meses em barricas (60% de primeiro uso), e mais 3 anos em garrafa, antes de ser liberado no mercado. Ele se mostrou fechado na taça, pois precisaria de uma boa aeração para se abrir apropriadamente. Mas na boca, se mostrou muito agradável. Potente, mas não exagerado, bem redondo pela longa maturação em barrica e em garrafa (5 anos no total). Jovem, com muita fruta, mas também bastante tanino. É um vinho que se pode guardar uns bons anos. O problema é o preço, no nosso mercado irrealista: R$418. O site da World Wine vende a safra 2004 por R$315, mas ainda é muito para o meu bolso. Em Portugal, vejo sites na Internet vendendo por €34, já é um valor mais viável.


The Special Wineries: Vinhos da Áustria

No ano passado, eu provei dos Vinhos da Áustria, no Encontro de Vinhos de Campinas. Mas como são vinhos pouco comuns, essa importadora também estava entre as minhas prioridades.
    A Grüner Veltliner é uma variedade de uva que não caiu no meu gosto. No ano passado, não gostei, e este ano tive a mesma impressão. O Graff Hardegg Veltlinsky 2011 é seco, mas parece adocicado tanto no nariz quanto na boca. Fica enjoativo, e não tem uma acidez tão intensa que pudesse compensar. Estava por R$55, um bom preço, mas não é a minha praia.
    O Wenzel Vogelsang 2008, feito com a casta Furmint é mais meu tipo, com sensação mais seca, acidez destacada, e aromas de frutas de caroço (pêssego e afins). Tinha que ser o vinho mais caro... este saía na feira por R$130,00.
    Do mesmo produtor, o Wenzel Bandkraften 2006, de outra casta autóctone (Blaufränkisch) é um vinho elegante, com corpo médio, com aromas de frutas vermelhas doces, e pela idade, já começa a apresentar toques de couro. Preço: R$120,00.


Italianos

A Beni di Batasiolo venceu o Top 5 da feira, com seu Barolo. Só que este acabou em instantes, e depois estavam oferecendo um outro Barolo de consolação. Achei insípido e sem expressão, assim como todo o portfólio deles.

Muito melhor foi um siciliano trazido pela Casa Flora; que arrancou vários elogios de muitos participantes da feira. O Cellaro Due Lune 2010: I.G.T. Sicilia, composto de 85% de Nerello Mascalese, e 15% de Nero d'Avola. O nome se refere ao fato de cada variedade ser colhida em uma lua, primeiro a Nero d'Avola, e no ciclo lunar seguinte, a Nerello. Ou seja, as colheitas são realizadas de acordo com as fases da lua. Não sei se isso trás resultados reais na qualidade, mas com certeza é um bom vinho, encorpado, mas redondo, e aromático. Só o preço é meio caro, R$140,00.

Franceses

Desta vez acabei não provando muitos vinhos franceses. Mas achei mais dois rótulos interessantes, que merecem ser comentados.
    Maxime Blin Champagne Brut Carte Blanche (80% Pinot Meunier, 20% Pinot Noir, ou seja, um Blanc des Noirs): importadora Vinea. Frutado, e com um interessante aroma de mel, com persistência aromática muito boa. R$90 (meia-garrafa). É uma boa opção, entre as raras opções de meia-garrafa.
    Chauvot Labaume Bourgogne Vieilles Vignes 2010: Pinot Noir de vinhas velhas (por volta de 30 anos), com passagem de 16 meses em barrica. Corpo médio, taninos finos, nariz frutado, e com aromas de folhas secas e especiarias. Foi apresentado pela Casa Flora, e custa R$82,00 (não estava à venda na feira).


Como conclusão, o MIV foi o melhor evento de vinhos do ano na cidade. Uma grande quantidade de vinhos, para todos os gostos, muita novidade e muitos vinhos exóticos; taças decentes, que no fim ficaram de brinde; e água à vontade, além de petiscos para forrar o estômago. E o melhor era poder comprar os vinhos, com desconto, depois de conhecê-los. Foi um sucesso, e muitas garrafas foram vendidas. Parabéns à ABS pela iniciativa!

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